(Vendo passar seminaristas)


Olhae, vede-os passar em legiões escuras,
Intonsos, apezar de todas as tonsuras,
Com um ar imbecil, caliginoso, estranho,
Marcados a tesoira assim como um rebanho,
E envoltos em crueis balandraus de entremez,
As lobas, sob as quaes ha lobos muita vez!...
Ó galuchos da Fé, recrutas do Divino,
Que um chocalho de bronze hiperbolico um sino
Faz erguer, faz dormir, faz deitar, faz andar,
Eu não sinto por vós, marionetes do altar,
Nem odio nem rancor. Sois victimas. Loyola
Dobra-vos a cerviz com a canga da estola,
E jungindo-vos, bois nocturnos, ao arado,
Rasga comvosco o negro e funebre vallado
Aonde o vosso Deus semeia para a infancia
A flôr da estupidez e o trigo da ignorancia.
A Egreja, a cortezã sensual de ventre obeso,
Hontem mulher de Christo e hoje mulher de Creso,
Para a rapina odiosa e vil de que se nutre
Mochos, deu-vos a calva ortodoxa do abutre!
Matilha de Leão XIII a vossa preza é o mundo,
Tartufo, bode obsceno e theologo profundo,
Ensina-vos, conforme o ritual mais perfeito,
A cruzar, como S. Francisco, as mãos no peito,
Sob a sotaina arqueando a gravidez das panças,
A impor jejuns, benzer caixões salgar creanças,
A grunhir, a ladrar sermões, missas cantadas,
E a escripturar o céo por partidas dobradas.
Não vos odeio não, palidos salafrarios;
Vós sois unicamente os comparsas mortuarios
Do papa, esse Barnum que assombra a multidão,
Com o Espirito Santo a vir comer-lhe a mão
Satanaz a frigir (sarrabulhada tragica!)
Heresiarchas de estopa em caldeirão de magica,
E Jehovah, um urso estupido e cruel
A lamber-lhe a sandalia, a babojar-lhe o anel,
E a ameaçar furibundo este mundo precito
A rufos de trovões no tambor do infinito.
A Egreja é uma serpente escura, bicho immundo,
Gigantesco reptil que dá a volta ao mundo,
E em cujas espiraes ebrias de raiva insana
Um Lacconte immortal a consciencia humana;
Ha seculo se estorce em convulsão atroz.
Os ellos d'esse monstro implacavel sois vós,
Sacristas. A cabeça é o papa.
Ora as serpentes
Tem a força na cauda e o veneno nos dentes.