O meio dia bateu já na torre da Egreja.
A aldeia é silenciosa e triste. O sol flameja.
Entre o surdo murmurio abrasador da luz,
Como n'um grande forno, os grandes montes nus
Recosem-se, espirrando as urzes d'entre as fragas.
Um mendigo demente e coberto de chagas
Dorme estirado ao sol n'uma modorra espessa;
E o mosqueiro febril nas lepras da cabeça
Enterra-lhe zumbindo o caustico das lanças.
Andam só pela rua os porcos e as creanças.
Fome, desolação, luto, viuvez, miseria
Na aldeia morta. A terra esqualida e funerea
Em logar das canções da abundancia e do amor,
Do trigo verde a rir dentro da sebe em flor,
Calcinada e cruel cospe violentamente
Só o cardo torcido, epilectico, ardente,
Rompendo duro e hostil, como a praga blasfema
D'um assassino quando um carcereiro o algema.
Secaram-se de todo as fontes e os regatos.
As cobras na aridez crepitante dos matos
Silvam. O ar carboniza as arvores sequiosas
N'uma rutila poeira intensa de ventosas.
Dos montes nus além nas seccas epidermes
Os rebanhos são como um pulular de vermes.
E a bobada do céo, concha de zinco em braza,
Onde não passa a nodoa aerea d'uma aza,
Implacavel contempla a terra solitaria,
Como um sultão fitando a carcassa d'um paria!

E o tifo germinou n'esta miseria adusta.
A epedimia, a alma errante de Locusta.
Diabolica e subtil fermenta envenenada
No asfixiante esplendor da atmosphera esbrazeada.
D'entro da escuridão soturna dos casebres
Os velhos aldeões, minados pelas febres.
Agonisam; e em seu delirio derradeiro,
Entre o concavo som da enxada do coveiro
E o rouco psalmodear dos latins agoirentos,
Ouvem loucos de dor os funebres lamentos
Dos magros bois de olhar moribundo e sereno.
Que estão là baixo ao pè do estabulo sem feno,
A mugir, a mugir, por terra, abandonados
Juncto ao velho esqueleto inutil dos arados!

A espaços da profunda e tragica nudez
D'uma choupana irrompe um grito de viuvez,
Um clamor de orfandade... E o sino chora então
Lagrimas sepulcraes de bronze na amplidão.
A colera de Deus, cujo olhar encendeia,
Correu como uma loba hidrophoba na aldeia.
Não ha lume no lar, nem ha pão nos armarios.
Entre os dedos das mães famintas os rosarios
Passam piedosamente e inutilmente, em quanto
A Morte, a hiena magra e vesga, espreita a um canto
Um berço onde agonisa um anjo, ho dor cruel!
Como um roto mendigo á porta d'um vergel
Sofregamente espreita algum fructo outoniço
A tombar já sem côr d'um ramo já sem viço!

E a aldeia invoca, implora os anjos tutelares.
Morre de fome e veste as santas nos altares
Com oiro e com brocado, Os cirios noite e dia
Alumiam a branca imagem de Maria,
Como tremulos ais de luz agonisantes
A erguer-se para o céo! Procissões ululantes
De penitencias vão convulsas, desgrenhadas,
Esfacellando os pés nas pedras das calçadas,
Dilacerando o peito, arrancando os cabellos.
E com mil visões torvas de pesadellos,
Uivando a Deus em rouco e barbaro clamor
Que seja pae que veja essa infinita dór,
E lânce áquella immensa angostia, áquella magoa
Um olhar onde emfim brilhe uma gota d'agua!
...............................................
Em vão, em vão, em vão! A tarde o sol frenetico
Morre congestionado, estonteado, apopletico,
E de manhã explue na lividez do oriente,
Caustico, a chammejar como um remorso ardente!
E nas noites febris, sem ar, sem roxinoes,
E que o azul é um brazeiro esplendido de soes
E em que parece que ha dispersas na atmosphera
As vaporisações surdas d'uma cratera,
Por detraz da montanha asperrima, escalvada,
A lua cheia, rubra, opaca, ensanguentada,
N'um silencio soturno, esmagador, que opprime,
Rompe sinistra como a apparição d'um crime!

E comtudo n'aquella aridez flamejante,
Sem um ramo frondoso em que uma ave cante,
N'aquelle illimitado incendio abrasador,
Oh sarcasmo cruel! ha dois oasis em flor,
Com duas tropicaes plethoras de verdura:

Um é o cemiterio, o outro o passal do cura.

No cemiterio a Vida impetuosa e forte
Rompe a cantar do ventre uberrimo da Morte.
Pampanos, silveiraes, cardos, ortigas, rosas,
Plantas meigas de idilio e plantas tenebrosas,
A mandragora, a murta, a madresilva, o feto,
Tudo isto a latejar, a fecundar, repleto,
N'um emaranhamento anarchico pulula
Doido de sol, febril de seiva, ebrio de gula!
Ha uma saturnal juncto de cada cova,
Um cadaver que chega é uma iguaria nova,
Que os vermes decompõem em gangrenas protervas
Para a sofreguidão muda, obscura das hervas.
E quando do seu antro a larva tumular
Diz á planta: «Aqui tens na meza o teu jantar,
Vem comel-o!» milhões de raizes reptis,
Sanguesugas que tem por bocas bisturis,
Vão haurir, absorver, vampirisar no fundo
D'essa cloaca obscena esse banquete immundo,
Um fetido e viscoso esterquelinio de horrores,
Que é o pão que Deus fez para engordar as flores!
E da tumba do hospicio hora a hora resvalla
Uma carga de entulho humano para a valla.
Juntam-se aos nove e aos dez, rimas de carne morta,
Na mesma cova. A edade e o sexo pouco importa.
Confundem-se no podre açougue subterraneo.
E em quanto uma raiz de lirio suga um craneo
E uma pustula dá o perfume a um nectario,
No azul celeste paira o corvo sanguinario,
O tumulo suspenso, o esquife que se eleva,
Brandindo em cada flanco uma foice de treva!
.................... Dir-se-hia que o Destino,
O velho Thug, o velho e tragico assassino,
Depois de uma hecatombe insensata e brutal,
A escondera, lançando em cima um madrigal,
Um manto de verdura e corolas vermelhas,
Todo estrellado do oiro em brasa das abelhas.

E o presbiterio? Olhae:

Branco como um noivado.
Trepadeiras á porta e pombas no telhado.
Ha n'esse ninho occulto em verdura frondosa
Como que um bem-estar simples e côr de rosa.
Era um ninho discreto, um bom ninho fiel,
Para sugar um favo a tres luas de mel.
Anacreonte, o velho erotico divino,
Contente encerraria alli o seu destino,
Pobre, alegre, feliz, sem remorsos, sem dores,
A calvicie jovial sob um chinó de flores,
O copo sobre a meza, a musa sob os joelhos,
Ao ar livre, a cantar os desejos vermelhos,
A belleza, o prazer, a juventude e o sól,
Com a graça d'um merlo e a voz d'um rouxinol.

Vejamos essa estancia idilica e tranquilla.
Mas cuidado! ha lá dentro um padre e um cão de fila.
E ambos mordem. Mas, como ambos roncam a sesta,
Entremos. Logo aqui no pateo pela fresta
Da tenebrosa adega aberto um poucachinho
Sahe um aroma intenso e rico de bom vinho.
O abade é beberrão. Casca-lhe muito e bem.
Lá pinga como a d'elle isso ninguem na tem.
Sabe da poda, é mestre! A adega até dá gosto
Entrar a gente lá n'uma tarde de Agosto.
Que frescura, que aceio e que nectar! Noé
Precisaria ali da capa de Japhet
A todo o instante, e o proprio abade e mais a ama
Tem feito d'essa adega o seu quarto de cama
Varias vezes... O amor pella-se por bom vinho.
Se Venus foi sua mãe, Bacho foi seu padrinho.
Sensata opinião que o nosso abade aprova,
Sobretudo se o vinho é velho e a mulher nova.
Nos rotundos toneis e nas cubas inchadas,
Panças monumentaes prenhes de gargalhadas,
Dormem alegremente e silenciosamente
Os trinta mil pifões que o Padre-Omnipotente,
Em seu alto designio e enfinita bondade,
Destinou para o odre insaciavel do abade.
E na fresqueira um rico e secular thesoiro
Ambrosias ideas velhissimas, côr do oiro,
Mormuram baixo em voz cristalina e maviosa
Uma canção de amor entre um beijo e uma rosa,
E em que a rosa abre ao beijo as petalas vermelhas
Sob frèmito alado e diaphano de abelhas.
Com tão raro elixir, que è como um sol poente,
Que já não dá calor, mas que illumina a gente,
O proprio Satamaz, faço-lhe essa justiça,
Não tinha repugnancia alguma em dizer missa,
E eu mesmo, é minha vergonhosa conficção,
Mas em suma, que diabo!... eu dava em sachristão!

E junto á dega existe a tulha sempre cheia...
Mas subamos depressa emquanto o abade orneia
A dormir pois se acorda e me conhece, foi-se
A visita e per cima arruma-me algum coice.
Vamos pé ante pé, de vagarinho. A salla
É vasta e branca. Tem nos muros a adornal-a
Sagrados corações de Jesus flamejantes,
Mães, de Deus com olhar no céo e dez trinchantes,
A traspassar-lhe o peito, um Pio nono a cores.
Cordeirinhos pascaes, anjos, araras, flores,
Tudo em missanga, e emfim um D. Miguel primeiro
A froque, que eu comprava a peso de dinheiro.
Do tecto enegrecido em bategas jucundas
Pendem bellas maçãs camoesas rubicundas,
Cachos d'uvas ainda a rir, peras marmelas,
Encaixilhado tudo á volta com morcellas.
Em seis bahús de coiro e em arcas de castanho
Guarda o cura o bragal precioso, o rico amanho
Caseirinho, lençoes d'uma finura extrema,
Ás grozas, rescendendo alecrim e alfazema!
E, segundo se diz, tambem deve haver n'essas
Arcas monumentaes muita somma de peças.
Ao fundo a livraria: uma pequena estante
N'uma banca ordinaria e simples de estudante.
No centro tem um vão com um Christo inaudito
Nas vascas do caruncho agonisando afflicto,
Burlesco manipanço alvar de fórmas toscas,
Negro das dejecções sacrilegas das moscas.
Soltos na estante em quatro ou cinco pratelleiras
Ripanços de orações, de sermões e de asneiras,
Que fornecem ha já trinta annos exactos
Pão de espirito ao cura e pão do corpo aos ratos.
E entre os livros ha tudo. É uma loja de adéllo.
Pacotes com rapé, um baralho, um marmelo,
Esporas, saquiteis com semente, de ervilha,
Garfos, um grande corno, um copo, uma rodilha.
Malgas com marmelada e frascos com compotas,
E até mesmo um chapeu sebento e um par de botas!
Sobre a mesa o tinteiro e o solideo. E aberto
Um breviario tal, que cheirado de perto
Fulmina, um breviario exotico, onde emfim
Ha já muito mais sebo e traça que latim!

E a todo e qualquer canto em rumas assassinas,
Marmeleiros, bordões e mócas e clavinas.
E pendendo sombria e, tragica d'um muro,
Come se fosse a pel' d'um grande monstro escuro,
A loba, um balandrau de dobra espectraes,
Feito para espantar as almas e os pardaes,

Contigua á salla existe a alcova. É lá que dorme
O hipopotamo. Vede: O catre e desconforme;
Cabiam n'esse vasto enxergão á vontade
A preguiça d'um porco e a luxuria d'um frade,
O cura espapaçado, esbandalhado, ronca,
Inuda-lhe o suor odioso a testa bronca,
O cachaço taurino e as papeiras que vão
Desde o queixo ao umbigo em graça ondulação.
A bôca comilona, erotica, sensual
Traz á lembrança o fauno obsceno e o canibal.
E a dentadura podre, esse armazem de guano,
É qual desmantelado aqueducto romano.
Que sordido animal! que bandulho! que bojo!
Tem cerdas na cabeça e nas orelhas tojo!
E o nariz? o nariz! que farol! que obelisco!
Pantagruel deu-lhe a cor, Gargantua deu-lhe o risco.
É o nariz de Falstaff, epico, em grando gala,
Purpureado e incendiado a fogos de bengala.
De quando em quando a ama, herculea mocetona,
Um peixão! sempre alegre e sempre brincalhona,
Vem ligeiro enxotar com precauções imensas
Os insectos sem fè e os moscamos sem crenças,
Que ousam depòr, que horror! a tal coisa indecente
Nos rubros alcantis d'esse nariz ingente.
Eu nunca vi, meu Deus, nariz tão exquisito!
Ruge como um trovão, silva com um apito!
É talvez o nariz por onde tocará
Trombeta o Creador no val' de Josaphat!
Dos mais complexos sons percorre a escala... alcoolica:
Umas vezes imita uma frauta bucolica
E outras um cavernoso orgão de Rilhafolles,
Com um grande Titan bebado a dar as folles.
As vezes um fragor rouco de temporal
Quer bramir atravez do Himalaia nasal
Do abade, mas achando os dois toneis do monte
Entupido de esterco infecto e de simonte,
Retrocede e lá vai por outro sorvedoiro
Expluir com profundo e tremebundo estoiro!...
..............................................
Mas que sastifação beatifica se nota
Na vasta estupidez d'aquella cara idiota!
E sabeis porque dorme olimpico e risonho
O abade? É porque teve inda ha pouco esse sonho:
Sonhou ver desfilar, oh ventura illusoria!
Um prestito pagão, um cortejo de gloria,
A acclamal-o. Na frente uma vara sombria
De bacoros roncava em côro esta poesia:

Deus fez o porco para o frade.
Deus destinou-nos os presuntos
Para os seus untos,
Senhor abade.
Grunhamos, pois, grunhamos todos juntos:
Viva o abade! Viva o abade!!

Succediam-se logo em manadas e em bando
Perdizes e perus e patos conclamando:

Patos, perus, galinhas e perdizes
Somos felizes!
Oh, que ventura!
Como é doce morrer tendo a certeza
De bem assados em manteiga ingleza
Ir para a meza
Do senhor cura!
Oh, que ventura! oh, que ventura!...

N'um carro triumphal trovejava depois
Um tonel arrastado a cem juntas de bois:

O sonho, o canto e a dança
Vivem na minha pança,
Que trilogia!
Sonhar, dançar, cantar!
A tristeza morreu um bello dia
N'um lagar.
Vá, Padre-mestre, com bizarria!
Cantaro á bôca, toca a virar!

Meu Padre mestre, nunca o teu bico
Provou ainda vinho tão rico,
Sem confeição!
Vinho como este
Nunca o bebeste,
Não!

Vá Padre-mestre, põe-me um repuxo,
Muda-me todo para o seu buxo,
Meu tubarão!
Depois rolemos, ás gargalhadas,
Dando umbigadas,
Dando pançadas
No chão!...

Um gracioso tropel de donzellas formosas,
Frescas e virginaes como botões de rosas,
A saia curta, o rir breigeiro, o arzinho honesto,
Deixando vêr a perna e fantasiar o resto,
Vinha cantando atraz esta canção feliz,
Ao som de theorbas d'oiro e avénas pastoris:

Somos tresentas sessenta e seis,
Olhos maganos, bocas em flor...
Dignas de reis!
E vimos todas, senhor Prior,
Dar-vos aquillo que vós sabeis...
Somos tresentas sessenta e seis!
Um calendario d'anno bisexto,
Feito d'amor!
Livro novinho!... papel e testo!...
Abra-lhe as folhas sem medo ao sexto,
Abra-lhe as folhas, Padre Prior!

Caminhavam por fim, ronceiros, de vagar,
Os grandes carroções da Congrua e Pé de Altar,
Puxados a duas mil parelhas de jumentos,
Zurrando esta epopeia heroica aos quatro ventos:

Senhor Parocho, toda a freguezia,
Uns quatro mil onagros,
Muito magros
Vem trazer isto a Vossa Senhoria.
Desculpe, senhor Parocho, a ousadia...
A offerta é bem mesquinha, é desgraçada.
Uns oitocentos moios simplesmente
De milho, de feijão, trigo e cevada.
E nós sabemos que um tão mau presente
Para o seu dente
Não chega a nada! não chega a nada!
Mas é boa a intenção:
Nós reservamos para si o grão,
E para nós a palha unicamente
Dar ao senhor Prior
Miseria assim, é vergonhoso até...
Mas aceite este mimo sem valor...
Senhor Parocho aceite-o, por quem é!...
E agora, senhor Parocho, a sua benção,
Porque os onagros pensão
Que ella salva das chammas infernaes;
E em paga de tal dom, de tal carinho
Rogaremos ao céo pelo focinho
Lhe permitta engordar cada vez mais.
Boa pinga e bom porco alentejano,
E sempre nedio e alegre e satisfeito!...
Senhor Parocho, viva!... até p'ró anno...
Até p'ró anno... e muito bom proveito!...

O abade, vendo aquella espandosa ovação,
Cresceu como uma torre e inchou como um balão.
E ao mirar-se com garbo heroico e triumphal
Surprehendeu-se de annel e cruz episcopal!
E, impando de vangloria e atonito de espanto,
Inchou mais meia legua e cresceu outro tanto!
Contemplou-se depois com magestade ufana,
E, oh céos! viu-se vestido em porpura romana!
Cardeal! cardeal! cardeal! que honra, que posição!
E subiu de tal forma ovante na amplidão
Que o Himalaia, envolto em suas neves eternas,
Disse a um condor: — Vai ver lá cima aquellas pernas;
— Cardeal! Não será sonho ou magico feitiço?!
Eu Cardeal!!... — Apertou entre as mãos o tontiço,
E em logar d'um chapeu tingido com zurrapas,
Encontrou o diadema olimpico dos papas!
Papa!... E de tal maneira ergueu a fronte sua
Que com ella partiu os chavelhos da lua!
Em torno do nariz e á volta das orelhas
Zumbiam-lhe tremendo os astros, como abelhas.
Ser papa! ser rei do céo e o rei do mundo!
E lá do alto do abysmo esplendido e profundo
Lançou o mar e á terra a sua benção sagrada.
E o mar mudou-se em vinho e a terra n'uma empada!
E o colosso voraz, de vêr coisas tão bellas,
Debruçou-se, agachou-se, escancarou as guelhas,
E enguliu d'uma vez o assombroso follar,
Bebendo-lhe por cima o vinho todo o mar!
Depois empanturrado, inflado, um pouco torto,
Atirou-se a dormir mais pesado que um morto,
Arrotando trovões..............................
...............................................
E em quanto o abade ronca e grunhe sem cuidados
Dobram plangentemente os sinos afinados,
Cortam o espaço os ais do estertor derradeiro,
E entre as germinações frescas do bom lameiro
A ègoa abacial c'oa respectiva cria,
(A quem, se fosse d'elle, o abade chamaria
Afilhada) lanzuda opipara, pacata,
Livre, sem albardão, sem freio e sem arreata.
Na monastica paz dos ventres satisfeitos
Com luserna viçosa e tenra até os peitos
Envolta no esplendor fulvo do sol poente,
Mansa, fitando o azul, rincha orthodoxamente!