LUA NOVA[1]


Mãe dos fructos, Jacy, no alto espaço
Eil-a assoma serena e indecisa:
Sopro é delia ésta languida brisa
Que sussurra na terra e no mar.
Não se mira nas aguas do rio,
Nem as hervas do campo branqueia;
Vaga e incerta ella vem, como a ideia
Que inda apenas começa a espontar,

E iam todos; guerreiros, donzellas,
Velhos, moços, as redes deixavam;
Rudes gritos na aldêa soavam,
Vivos olhos fugiam p′ra o ceu:
Iam ve-la, Jacy, mãe dos fructos,
Que, entre um grupo de brancas estrêllas,
Mal scintilla : nem póde vencel-as,
Que inda o rosto lhe cobre amplo veu.



E um guerreiro : «Jacy, doce amada,
Retempera-me as forçai ; não veja
Olho adverso, na dura peleja,
Este braço ja frouxo cahir.
Vibre a setta, que ao longe derruba
Tajassú, que roncando caminha;
Nem lhe escape serpente damnínha,
Nem lhe fuja pesado tapir.»



E uma virgem: «Jacy, doce amada,
Dobra os galhos, carrega esses ramos
Do arvoredo co′as fructos que damos

Aos valentes guerreiros, que eu vou
A buscal-os na matta sombria,
Por trazel-os ao moço prudente,
Que venceu tanta guerra valente,
E estes olhos consigo levou.»



E um ancião, que a saudara ja muitos,
Muitos dias: «Jacy, doce amada,
Dá que seja mais longa a jornada,
Dá que eu possa saudar-te o nascer,
Quando o filho do filho, que hei visto
Triumphar de inimigo execrando,
Possa as pontas de um arco dobrando
Contra os arcos contrarios vencer.»



E elles riam os fortes guerreiros,
E as donzellas e espôsas cantavam,
E eram risos que d′alma brotavam,
E eram cantos de paz e de amor.
Rude peito criado nas brenhas,
— Rude embora, — terreno é propicio
Que onde o germen lançou beneficio
Brota, enfolha, verdeja, abre em flor.



  1.     Veja nota G
        «... E na verdade tem occasiões em que festejam muito a lua, como quando apparece nova ; porque então sahem de suas choupanas, dão saltos de prazer, saudam-n′a e dão-lhe as boas vindas. (JoÃo Daniel Thes. descob. no Amaz., part. 2.a, cap. X).