Ar, que de meus suspiros vejo cheio

Ar, que de meus suspiros vejo cheio;
Terra, cansada ja com meu tormento;
Agua, que com mil lagrimas sustento;
Fogo, que mais accendo no meu seio;

Em paz estais em mim; e assi o creio,
Sem esse ser o vosso proprio intento;
Pois em dor onde falta o soffrimento,
A vida se sostem por vosso meio.

Ai imiga Fortuna! ai vingativo
Amor! a que discursos por vós venho,
Sem nunca vos mover com minha mágoa!

Se me quereis matar, para que vivo?
E como vivo, se contrarios tenho
Fogo, Fortuna, Amor, Ar, Terra e Agoa?