O teatro representa o Campo de São Roque, em Paquetá. Quatro barracas, iluminadas e decoradas, como costumam ser nos dias de festa, ornam a cena de um e outro lado; a do primeiro plano, à direita, terá transparentes fantásticos, diabos, corujas, feiticeiras, etc. No fundo, vê-se o mar. Diferentes grupos, diversamente vestidos, passeiam de um para outro lado, parando, ora no meio da cena, ora diante das barracas, de dentro das quais se ouve tocar música. Um homem com um realejo passeia por entre os grupos, tocando. A disposição da cena deve ser viva.
CENA I
editarJeremias e o povo.
JEREMIAS - Bem fiz eu em vir à festa de São Roque. Excelente dia passei e melhor noite passarei - e vivam as festas! Perca-as quem quiser, que eu não. Para elas nasci, e nelas viverei. Em São Roque, na Penha, na Praia Grande, na Armação... Enfim, em todos os lugares aonde houver festa, se estiverem duas pessoas, uma delas serei eu. Que belo que isto está! Barracas, teatrinho de bonecas, onças vivas, fogo de artifício, máquinas, realejo e mágicos que adivinham o futuro... Logo teremos um nesta barraca... Ora, esses estrangeiros são capazes das maiores extravagâncias para nos chuparem os cobres! Se há tanta gente que acredita neles... Estou que não caibo na pele!
VOZES - Aí vem a barca! Aí vem a barca!
JEREMIAS - A barca! (Correm todos para a borda do mar, exceto Jeremias.) Vejamos, primeiro, quem vem da cidade, para depois aparecer. Tenho cá minhas razões... (Sai pela direita. Nesse momento aparece a barca de vapor, que atraca à praia e toca a sineta. Principiam a saltar os passageiros, e entre eles, John e Bolingbrok, que se encaminham para a frente.)
CENA II
editarJohn, Bolingbrok e o povo.
JOHN - Enfim, chegamos.
BOLINGBROK - Oh, yes, enfim! É uma vergonhe estes barques de vapor do Bresil. Tão porque, tão, tão, tão...
JOHN - Ronceira.
BOLINGBROK - Ronceire? Que quer dize ronceire?
JOHN - Vagarosa.
BOLINGBROK - Yes, vagarosa. John, tu sabe mais portuguesa que mim.
JOHN - Bem sabes, Bolingbrok, que ainda que sou filho de ingleses, nasci no Brasil e nele fui criado; assim, não admira que fale bem a língua... Mas vamos ao que serve.
BOLINGBROK - Yes, vamos a que serve.
JOHN - Primeiro, correremos tudo para ver se encontramos nossas belas.
BOLINGBROK - Oh, God! Encontre nosses beles... Mim fica contente se encontre nosses beles. Oh, God!
JOHN - Já vejo, meu caro Bolingbrok, que estás completamente subjugado. Admira-me! Um homem como sois, tão frio e compassado...
BOLINGBROK - Oh, non, my dear! Este é um error muito... fundo... muito oco... non, non! Muito profundo... yes... muito profundo. Minha peito é uma volcão, uma barril de pólvora... Faltava só a faísca. Miss Clarisse é faísca, e minha peito fez, fez, fez bum!
JOHN - Explosão.
BOLINGBROK - Yes, yes! Explosão! Mim está incêndio.
JOHN - Podias ter-te atirado ao mar.
BOLINGBROK - Oh, non, non! Mar non! Primeiro quero casa com my Clarisse, senão eu mata a mim.
JOHN - Devagar com isso, homem, e entendamo-nos.
BOLINGBROK - Oh, God!
JOHN - Há dois anos que chegaste de Inglaterra e estabeleceste, na Bahia, uma casa de consignação, de sociedade comigo. Temos sido felizes.
BOLINGBROK - Yes!
JOHN - Negócios de nossa casa obrigaram-nos a fazer uma viagem ao Rio de Janeiro. Há quinze dias que chegamos...
BOLINGBROK - Yes!
JOHN - E há oito que nossos negócios estão concluídos, e estaríamos já de volta, se não fosse o amor que nos prende.
BOLINGBROK - Oh, my Clarisse, my Clarisse!
JOHN - Por um feliz acaso, que servirá para mais estreitar nossa sociedade, amamos a duas irmãs.
BOLINGBROK - Oh, duas anjos, john! Duas anjos irmãos...
JOHN - Antes de ontem fomos, pessoalmente, pedi-las ao pia, que teve o desaforo de negar o seu consentimento, dizendo que não criou suas folhas para casá-las com ingleses.
BOLINGBROK - Oh, goddam! Atrevida!
JOHN - Mas deixa-o. Estamos de inteligência com elas, e hoje nos há de ele pagar.
BOLINGBROK - Oh, yes! Paga, atrevida, paga!
JOHN - Elas aqui estão desde manhã para assistirem à festa. Logo haverá fogo de artifício... Sempre há confusão... a falua estará na praia às nossas ordens, e mostraremos ao velho o que valem dois ingleses...
BOLINGBROK - Yes! Vale muito, muito! Goddam!
CENA III
editarJeremias e os ditos
JEREMIAS, entrando cauteloso - Nesta não veio ninguém que me inquiete.
JOHN, para Bolingbrok - Silêncio! (Passeiam pela frente do tablado.)
JEREMIAS, à parte - Quem serão estes dois? (Aproximando-se deles.) Perecem-me ingleses... Há de ser, há de ser... É fazenda que não falta por cá. Não gostam do Brasil, Brésil non preste! Mais sempre vão chegando para lhe ganharem o dinheiro...
BOLINGBROK, para John - Yes.
JEREMIAS, à parte - Não disse? São ingleses. Conheço um inglês a cem léguas; basta que diga: yes! Façamos conhecimento... (Chegando-se para os dois:) Good night.
BOLINGBROK - Good night. (Continua a passear.)
JEREMIAS, seguindo-o - Os senhores, pelo que vejo, são ingleses.
BOLINGBROK - Yes. (Continua a passear.)
JEREMIAS - Eu os conheci logo por causa do yes; e o senhor... Mas que vejo? John? Não me engano...
JOHN, reparando nele - Jeremias!
JEREMIAS - Tu, no Rio de Janeiro, e em Paquetá, John? Quando chegaste?
JOHN - Há quinze dias, e já te procurei em tua antiga casa, e disseram-me que tinhas casado e mudado de domicílio.
JEREMIAS - Disseram-te a verdade.
BOLINGBROK - Quem é este?
JOHN - Bolingbrok, apresento-te meu amigo Jeremias. Andamos no mesmo colégio aqui no Rio de Janeiro; fomos sempre amigos.
BOLINGBROK - Muita honra, senhor. (Dá-lhe a mão e aperta com força e sacode.)
JOHN - Jeremias, meu sócio, Mister Bolingbrok.
JEREMIAS, sacudindo a mão de Bolingbrok com violência - Muita honra.
BOLINGBROK - Oh, basta, basta!
JEREMIAS, para John - Teu sócio fala português?
JOHN - Muito mal.
JEREMIAS - Nesse caso, falarei eu inglês.
JOHN - Sabes inglês.
JEREMIAS - De curiosidade... Tu vais ver. (Para Bolingbrok:) Good morning. How do you do? Very well! Give me some bread. I thank you. Gato come frango. I say...
BOLINGBROK, com frieza - Viva, senhor! (Dá-lhe as costas e passeia.)
JOHN, rindo-se - Estás muito adiantado...
JEREMIAS - Não falo tal qual um inglês, mas arranjo meu bocado.
JOHN - Está o mesmo Jeremias; sempre alegre e folgazão.
JEREMIAS - Alegre, John? Não. Já te não lembras que estou casado?
JOHN - E isto te entristece?
JEREMIAS - Como não imaginas.
JOHN - Onde está tua mulher?
JEREMIAS - Eu sei lá?
JOHN - Oh, excelente marido!
JEREMIAS - Soube ontem que hoje era festa de São Roque. De manhã muito cedo meti-me na barca e safei-me sem dizer nada. Que queres? Não posso resistir a uma festa.
JOHN - E deixaste tua mulher só?
JEREMIAS - Tomara eu também que ela me deixasse só. O que eu estou a temer é que ela arrebente por aqui mais minutos, menos minutos... É muito capaz disso! John, Deus te livre de uma mulher como a minha.
BOLINGBROK, correndo para John - John, John,! Vem ela, vem ela!
JEREMIAS, assustando-se - Minha mulher?
BOLINGBROK - Olha, John, olha! God! Mim contente!
CENA IV
editarEntram pela direita Virgínia e Clarisse.
JOHN - São elas!
JEREMIAS - Que susto tive eu! Pensei que era minha mulher.
JOHN - Virgínia!
BOLINGBROK - My Clarisse!
VIRGÍNIA - John!
CLARISSE - Bolimbroque!
BOLINGBROK - By God!
JEREMIAS, à parte - Ué! As filhas do Narciso... Bravo!
VIRGÍNIA - O senhor Jeremias!
CLARISSE - Ah!
JEREMIAS - Minhas senhoras, bravíssimo!
JOHN, para Jeremias - Conheces estas senhoras?
JEREMIAS - Se as conheço! São minhas vizinhas.
JOHN - Jeremias, espero que tu não nos trairás. Estas meninas devem ser nossas esposas... E como o pai não consente em nosso casamento, aqui estamos para roubá-las, e as roubaremos.
JEREMIAS - Olá! Isto vai à inglesa... Dito e feito...
JOHN - Podemos contar com a tua cooperação?
JEREMIAS - Vocês casar-se-ão com elas?
JOHN - Juramos!
BOLINGBROK - Yes! Jura!
JEREMIAS - Conta comigo. Tenho cá minhas quizílias particulares com o pai, e boa é a ocasião para vingar-me. Que queres de mim?
JOHN - Vai-te pôr de vigia para que ele não nos surpreenda.
JEREMIAS - Pronto! Dona Virgínia, Dona Clarisse, adeusinho. ( parte.) Ah, meu velhinho, tu agora me pagarás o nome de extravagante que sempre me dás... (Sai pela direita.)
CENA V
editarCLARISSE - Nós os procurávamos.
BOLINGBROK - Yes! Nós está aqui.
JOHN - Há meia hora que desembarcamos, e não sabíamos para onde dirigirmo-nos a fim de encontrar-vos.
VIRGÍNIA - Estávamos passeando bem perto daqui e os vimos passar por diante desta barraca. Metemo-nos por entre o povo, fizemo-nos de perdidas e corremos ao vosso encontro. O velho, a estas horas, estará a nossa procura.
BOLINGBROK - Está muito contente, Miss, de fala a vós. Muito contente, Miss, muito satisfeita.
CLARISSE - Creia que também de minha parte.
BOLINGBROK - Yes! Minha parte muito satisfeita! Goddam!
JOHN - Minha querida Virgínia, quanto sofro longe de ti.
BOLINGBROK - My dear Clarisse, eu fica doente longe de ti.
JOHN - Não há para mim satisfação sem a tua companhia.
VIRGÍNIA - Sei quanto me ama.
BOLINGBROK - Eu está triste como uma burro sem tua companhia.
CLARISSE - Conheço o quanto me estima.
JOHN - O sono foge de meus olhos, e se alguns instantes durmo, contigo sonho.
BOLINGBROK - Mim não dorme mais... Leva toda a noite espirrando.
CLARISSE - Espirrando?
BOLINGBROK - No, no, suspirando. Yes, suspirando.
JOHN - Quando me lembro que talvez viva sem ti, quase enlouqueço... desespero.
BOLINGBROK - Quando mim lembra vive sem ti... Oh goddam, mim fica danada. By God! Yes, fica muito... muito... Yes.
VIRGÍNIA - Meu caro John, não duvido um instante de vosso amor.
JOHN - Querida Virgínia!
CLARISSE - Certa de vosso amor, com amor vos pago.
BOLINGBROK - My Clarisse, my Clarisse!
JOHN - Mas isto assim não pode durar.
BOLINGBROK - No, no, non pode dura.
JOHN - Teu pai ainda se opõe à nossa união?
VIRGÍNIA - Ainda. Ele diz que odeia aos ingleses pelos males que nos têm causado, e principalmente agora, que nos querem tratar como piratas.
BOLINGBROK - Piratas, yes. Piratas. As brasileiras é piratas... Enforca eles...
CLARISSE, afastando-se - Ah, somos piratas?
VIRGÍNIA - Muito obrigada...
BOLINGBROK - No, no, Miss... Eu fala só das brasileiras machos...
CLARISSE - São meus patrícios.
BOLINGBROK - As machos... mim não gosta deles. As brasileiras, mulheres, yes... Esta é bela... é doce como sugar...
JOHN - Cala-te, Bolingbrok, que não dizes senão asneiras.
BOLINGBROK - Yes, mim diz asneiras... Mim é cavalo, quando está junto de vós. (Aqui entra pela direita Narciso.)
VIRGÍNIA - É preciso termos prudência.
NARCISO - Está muito bonito! Muito bonito! (Espanto dos quatro.)
JOHN - Diabo!
BOLINGBROK - Goddam!
VIRGÍNIA e CLARISSE - Meu pai! (Ao mesmo tempo.)
NARCISO - Para isso é que se perderam de mim? Que pouca vergonha! A conversarem com dois homens...
JOHN - Senhor, isto não teria acontecido se nos tivésseis dado a mão de vossas filhas.
NARCISO - Ah, são os senhores? É o que me faltava: casá-las com ingleses! Antes com o diabo!
JOHN - Senhor!
BOLINGBROK - Senhor!
NARCISO - O que é lá? (Para as duas:) Salta! Adiante de mim! Salta!
JOHN - Virgínia, conta comigo. A despeito deste velho insensato, serás minha.
BOLINGBROK - My Clarisse, há de ser mulher a mim, quando mesmo este velho macaco.
NARCISO - Macaco? Inglês de um dardo!
BOLINGBROK - Macaco fica zangado? Mim está contente de chama macaco.
NARCISO, tomando as moças pelos braços - Vamos, senão faço algum desatino. (Sai levando as duas.)
CENA VI
editarBOLINGBROK, seguindo a Narciso - Mim está contente chama macaco. (Gritando:) Macaco!
JOHN - Deixa-o, Bolingbrok.
BOLINGBROK, voltando - Mim está satisfeita. Macaco!
JOHN - Vejamos o modo de ensinarmos a este velho, e vingarmo-nos.
BOLINGBROK - Yes.
JOHN - Não tive tempo de dizer a Virgínia que tínhamos uma falua às ordens. Agora será difícil fazermo-la saber esta circunstância. Maldito Jeremias, que não soube vigiar o velho!
BOLINGBROK - Mim dá uma roda de soco nele quando aparece.
CENA VII
editarJeremias entrando.
JEREMIAS - John? John?
JOHN - Nós te estamos muito agradecidos.
BOLINGBROK - Mim quer joga soco.
JEREMIAS - Hem? O que é isso?
JOHN - Deixaste que o velho nos surpreendesse.
BOLINGBROK - Mim quer jogar soco, senhor.
JEREMIAS - Não tive culpa. Estava alerta, com todo o cuidado no velho, quando passou por junto de mim, e sem me ver, uma mulher... E assim que a pilhei a três passos longe de mim, deitei a fugir...
BOLINGBROK, gritando - Mim quer joga soco, senhor!
JEREMIAS - Pois tome! (Dá-lhe um soco.)
BOLINGBROK - Goddam! (Atira um soco a Jeremias, que lhe responde.)
JOHN, metendo-se de permeio - Então, o que é isso? Jeremias? Bolingbrok?
BOLINGBROK - Deixa, John!
JEREMIAS - Maluco! I say... drink the rum... Chega, que arrumo-te um tabefe!
JOHN - Não sejam crianças! (Para Jeremias:) Não faças caso. (Para Bolingbrok:) Aquieta-te...
BOLONGBROK - Mim não quer mais joga soco.
JEREMIAS - Mim também não quer jogo mais... (Bolingbrok passeia de um lado para outro.)
JOHN - Teu descuido muito nos prejudicou.
JEREMIAS - Já te disse que estava alerta, mas a mulher...
JOHN - Mas quem é a mulher?
JEREMIAS - A minha! A minha! Pensei ver o diabo, e isto fez-me perder a cabeça... Abandonei o posto, e foste surpreendido.
JOHN - E assim foi nosso plano completamente desarranjado.
JEREMIAS - Por quê?
JOHN - Não tivemos tempo de comunicar às meninas o nosso plano.Agora ser-nos-á difícil falar-lhes. O velho está desesperado!
JEREMIAS - Lembro-me um expediente...
JOHN - Qual é?
JEREMIAS - Nesta barraca há um francês que, para lograr ao público e ganhar dinheiro, vestir-se-á de mágico a fim de predizer o futuro, fazer adivinhações e sortes, etc. Entra tu lá, dá-lhe dinheiro - esta gente faz tudo por dinheiro - , veste-te com as suas roupas, e assim disfarçado, talvez consigas poder falar com a moça.
JOHN - Excelente amigo! (Abraça-o)
JEREMIAS - Que te parece? Não é bem lembrado? Ó diabo! (Olhando para a esquerda, fundo.)
JOHN - O que é?
JEREMIAS, escondendo-se por detrás de John - Minha mulher que ali vem! Não lhe digas nada, nada... (Vai levando a John para o lado direito, encobrindo-se com seu corpo.)
JOHN - Espera, homem; onde me levas?
JEREMIAS, junto dos bastidores - Adeus. (Sai.)
CENA VIII
editarJohn, Bolingbrok e depois Henriqueta.
JOHN - Ah, ah! Que medo tem o Jeremias da mulher! Bolingbrok, vem cá. Estamos salvos!
BOLINGBROK - Salva? (Aqui aparece no fundo Henriqueta, e encaminha-se para a frente.)
JOHN - Jeremias ensinou-me o meio de comunicar-nos com nossas amantes.
BOLINGBROK - Agora mim tem pena de ter dado o soco... (Henriqueta vem-se aproximando.)
JOHN - O plano não pode falhar. Jermias teve uma lembrança magnífica.
HENRIQUETA, à parte - Falam em Jeremias...
BOLINGBROK - Quando encontra ele dá um abraço.
HENRIQUETA - Uma sua criada...
BOLIGBROK - Viva!
JOHN - Minha senhora...
HENRIQUETA - Desculpem-me, meus senhores, se os interrompo, mas como ouvi que falavam no Sr. Jeremias...
JOHN - Conhece-o?
HENRIQUETA - Sim senhor. É meu marido.
JOHN, à parte - É ela! (Alto:) Muita honra tenho em a conhecer... Seu marido é um belo moço.
HENRIQUETA - É verdade. ( parte:) Patife, se o encontro...
BOLINGBROK - Ah, a good boy.
HENRIQUETA - O que diz o senhor?
BOLINGBROK - Eu fala de sua marido... A good boy.
HENRIQUETA, à parte - Ora! (Para John:) Se quisesse ter a bondade de dizer-me onde o poderei encontrar...
JOHN - Pois não, minha senhora; ainda há pouco aqui esteve e dirigiu-se para este lado. (Aponta para a esquerda.)
BOLINGBROK - No, no, John!
JOHN - Sim sim, foi para este lado. (Para Bolingbrok:) Take your tongue.
BOLINGBROK - Yes, foi esta lado... (Henriqueta sai.)
CENA IX
editarJOHN - Agora tratemos de nós; ponhamos em execução o plano de Jeremias. Toma sentido no que se passar, enquanto eu entro na barraca.
BOLINGBROK - Para quê, John?
JOHN - Saberás (Entra na barraca.)
CENA X
editarBOLINGBROK, só - John vai fazer asneira... Mim não sabe o que ele quer... Não importa; rouba my Clarisse e fica contente. Velho macaco está zangado. By God! Inglês faz tudo, pode tudo; está muito satisfeita. (Esfregando as mãos:) Inglês não deixa brinca com ele, no! Ah, Clarisse, my dear, mim será tua marida. Yes!
VOZES, dentro - Lá vai a máquina, lá vai a máquina!
BOLINGBROK - Máquina? Oh, este é belo, lá vai a máquina!
CENA XI
editarEntra Narciso, Clarisse, Virgínia e povo, olhjando para uma máquina que atravessa no fundo do teatro.
TODOS - Lá vai a máquina, lá vai a máquina!
BOLINGBROK, correndo para o fundo - Máquina, máquina! (A máquina desaparece e todos ficam em cena como olhando para ela.)
CENA XII
editarEntra pela barraca John, vestido de mágico, trazendo na mão uma buzina. John toca a buzina.
TODOS - O mágico! O mágico!
JOHN - Aproximai-vos! Aproximai-vos! (Todos se aproximam.) O futuro é de Deus! O céu é a página de seu imenso livro, e os astros os caracteres de sua ciência; e quem lê nos astros conhece o futuro... o futuro! Homens e mulheres, moços e velhos, não quereis conhecer o vosso futuro?
TODOS - Eu quero! Eu quero!
JOHN - Silêncio! A inspiração se apodera de mim, a verdade brilha a meus olhos, e o porvir se desdobra diante de mim!
NARCISO, à parte - Tenho vontade de o confundir. (Alto:) Senhor mágico, desejava saber se pela minha fisionomia podeis saber quem eu sou.
JOHN - Aproxima-te. Este olhar de porco... estas orelhas de burro pertencem a Narciso das Neves.
TODOS - Oh!
NARCISO - Sabe meu nome e sobrenome!
JOHN - Nenhuma qualidade boa descubro em ti; só vícios vejo... És avarento, grosseiro, cabeçudo, egoísta...
TODOS, riem-se - Ah, ah, ah!
NARCISO - Basta, basta, diabo!
JOHN, para Clarisse - E vós, minha menina, nada quereis saber?
CLARISSE - Eu, senhor?
VIRGÍNIA - Vai, não tenhas medo.
JOHN - Mostrai-me vossa mão. (Examinando sua mão e falando-lhe mais baixo:) Esta linha me diz que teu coração não está livre. Aquele que amas não é da tua nação, mas é um homem honrado e leal; dele te podes fiar.
CLARISSE - E vêde tudo isto em minha mão?
JOHN - Céus!
CLARISSE - Senhor!
JOHN - Esta outra linha faz-me conhecer que existe um grande obstáculo à vossa união; é preciso superá-lo, seguir aquele que amas; do contrário, acabarás em um convento.
CLARISSE - Em um convento? Morrer solteira?
JOHN - O destino fala por meus lábio; pensa e decide.
CLARISSE - Meu Deus!
VIRGÍNIA - Clarisse, que tens, que te disse ele?
CLARISSE - A mim? Nada, nada. ( parte:) Meu Deus!
JOHN, para Henriqueta - E tu, pobre abandonada, queres que te diga o futuro?
HENRIQUETA - Abandonada? A primeira palavra é uma verdade... Dize-me o que devo esperar no mundo.
JOHN - Não querei primeiro que te diga aonde está o infiel?
HENRIQUETA - Oh, dizei-me!
JOHN - Dentro de uma hora o encontrarás aqui.
HENRIQUETA - Aqui?
JOHN - Sim.
HENRIQUETA - Mil graças, senhor mágico. ( parte:) Ah, Jeremias da minha alma, se te pilho...
VIRGÍNIA - Agora eu.
JOHN, tomando pela mão e conduzindo-a à parte - Sim, agora tu, minha Virgínia, minha Virgínia a quem amo...
VIRGÍNIA - Ah, que ouço?
NARCISO - E lá! Que é lá isso?
JOHN - Silêncio!
NARCISO - Isso é demais, é...
JOHN - Silêncio!
TODOS - Silêncio!
JOHN - Cala-te, velho insensato! Vês aquela estrela? (Olham todos.) Preside ao destino desta jovem. Olhai todos se empalidece, olhai! (Narciso fica olhando para a estrela.)
JOHN, à parte - Minha Virgínia!
VIRGÍNIA - És tu, John?
JOHN - Enquanto estiverem entretidos com o fogo, vem ter comigo, que aqui estarei à tua espera.
VIRGÍNIA - Sim.
NARCISO, olhando para a estrela - Qual empalidece! Olá, nada! Isto não está bom... Virgínia salta para cá; parece-me maroteira.
JOHN - Quem mais quer saber do futuro?
VOZES - Eu! Eu! Eu!
JOHN - Aproxime-se cada um por sua vez. (Aqui ouve-se dentro o estrondo de bomba.)
VOZES - O fogo principiou! Vamos ver o fogo! (Saem todos correndo pela direita, em confusão.)
NARCISO, levando as filhas pela mão - Vamos, vamos ver o fogo! (Saem.)
CENA XIII
editarJohn e Bolingbrok.
JOHN - Bravo, tudo está arranjado!
BOLINGBROK - John, mim não entende nada. Que quer isto dize?
JOHN - Espera um instante, que tudo saberás. (Entra na barraca.)
CENA XVI
editarBOLINGBROK, só - John é diabo. Eu está vendida. John? John? Goddam! Oh, minha coração está muito fraco, muito queimado por minha Clarisse... Eu vai ataca foguetes para ela ver. John? John?
JOHN, entrando, já sem a roupa de mágico - Silêncio, Bolingbrok, elas não tardam.
BOLINGBROK - Elas?
JOHN - Sim, nossas amantes; para fugirem conosco.
BOLINGBROK Oh, Oh! By God! Mim está muito satisfeita.
CENA XV
editarEntram pela direita Virgínia e Clarisse.
VIRGÍNIA - John!
CLARISSE, ao mesmo tempo - Bolingbrok!
JOHN, indo ao encontro de Virgínia - Minha Virgínia!
BOLINGBROK, indo ao encontro de Clarisse - My Clarisse!
VIRGÍNIA - Lá ficou entretido com o fogo!
JOHN - A falua está perto daqui; vamos...
VIRGÍNIA - A ti me entrego.
BOLINGBROK - My dear, let us go... (Saem pelo fundo à esquerda.)
CENA XVI
editarEntra pela esquerda baixa Jeremias.
JEREMIAS - Já não estou muito bem aqui; temo encontrar a fúria de minha mulher por toda parte. Quero ver se me safo com John para a cidade. John? John?
HENRIQUETA, entra pela direita alta - Aqui o devo encontrar, que me disse o mágico...
JEREMIAS, sem ver Henriqueta - Onde estará o maldito?
HENRIQUETA, vendo-o - Ei-lo! Oh, patife! (Vem-se aproximando de Jeremias sem ser vista.)
JEREMIAS - Se encontra-me, leva-me o diabo; que ela anda em minha procura, não há dúvida. Ah, centopéia do diabo! (Aqui atacam bombas dentro e o teatro fica iluminado pelo clarão do fogo. Henriqueta, que nesse tempo está junto de Jeremias, dá-lhe uma bofetada que o atira no chão.) Oh, que bomba!
HENRIQUETA - É uma girândola, patife! (Jeremias levanta-se apressado e deita a correr para o fundo, e Henriqueta o segue. Henriqueta, correndo:) Espera, patife, espera! (Saem correndo e desce o pano.)
Fim do primeiro ato.