Das nebulosas em que te emaranhas

Levanta-te, alma, e dize-me, afinal,

Qual é, na natureza espiritual,

A significação dessas montanhas!


Quem não vê nas graníticas entranhas

A subjetividade ascensional

Paralisada e estrangulada, mal

Quis erguer-se a cumíadas tamanhas?!


Ah! Nesse anelo trágico de altura

Não serão as montanhas, porventura,

Estacionadas, íngremes, assim,


Por um abortamento de mecânica,

A representação ainda inorgânica

De tudo aquilo que parou em mim?!

Agora, oh! deslumbrada alma, perscruta

O puerpério geológico interior,

De onde rebenta, em contrações de dor,

Toda a sublevação da crusta hirsuta!


No curso inquieto da terráquea luta

Quantos desejos férvidos de amor

Não dormem, recalcados, sob o horror

Dessas agregações de pedra bruta?!


Como nesses relevos orográficos,

Inacessíveis aos humanos tráficos

Onde sóis, em semente, amam jazer,


Quem sabe, alma, se o que ainda não existe

Não vive em gérmen no agregado triste

Da síntese sombria do meu Ser?!

(Outras Poesias, 37)