A Carlos Jansen Júnior
Afora, pelo azul indefinido e largo,
Passam asas sutis, pelo éter, longe, afora,
Como que a demandar outra mais doce aurora
Que a desta vida atroz, toda veneno amargo.
Não as asas assim, bem longe, pela curva,
No vago, na amplidão, perdidas pelos ares
Até virem caindo os véus crepusculares,
Toda a anústia do acaso, emocional e turva.
E diante dessa dor das tardes que esmaecem
As asas, pelo espaço, em vôos desgarrados
Como a oração final dos tristes naufragados,
Longinquamente, além, tênues desaparecem
Cai então de uma vez a sombra dos segredos.
E na serena paz das noites adormidas,
Entre o fundo chorar dos calmos arvoredos,
Ninguém verá jamais essas asas perdidas.
E as asas o que são no firmamento errantes,
Perdidas pelos tempos, esparsas pelas eras
Senão os sonhos vãos, mundos alucinantes
Cheios do resplendor das flóreas primaveras?!
Por isso, eu quando o Azul repleto de asas vejo
Muito alto, céu acima, os páramos rasgando,
Toda a minh'alma oscila e treme num desejo
Em busca das regiões da dúvida, chorando!