DO TRADVCTOR
AO
LEITOR
Cremos desnecessario falar-se mais uma vez da historia dolorosissima, a tragedia horrivel de Oscar Wilde, o grande poeta inglez, moço, fidalgo, rico, distincto, elegante, que a fingida pruderie britannica sepultou numa enxovia immunda, depois de um processo escandaloso, que repercutiu no mundo inteiro. Lembram-se todos, principalmente os que se occupam de cousas referentes ás lettras e ás artes.
Mesmo no horror do carcere, onde soffreu, entre outros, o barbaro supplicio da roda, e desfiou cordas alcatroadas, e exerceu o officio de cavouqueiro, quebrando as unhas, ensanguentando as suas finas mãos patricias, o genial poeta escreveu! E compoz esta ballada :
como reza o fronte spicio da edicção ingleza. Oscar Wilde não era mais um homem, uma pessoa : tornou-se uma cousa, um simples numero — o C. 3. 3.
Escripta em admiraveis estrophes de seis versos, noni e octosyllabos, alternados, rimando apenas os segundos, quartos e sextos, traduziu-a, ou, antes, transcreveu-a para o francez, o escriptor Henry-D. Davray, collaborador da revista Mercure de France, que a editou. A traducção é em prosa, verso por verso, palavra por palavra, o mais litteralmente possivel.
Para o nosso trabalho, servimo-nos de ambos — original e transcripção — fazendo-o, todavia, com a maxima liberdade permittida. Si nos cingissemos exclusivamente ao original, si o traduzissemos ao pé da lettra, a maior parte da ballada sería incomprehendida por quem não conhecer bem o systema penitenciario e certos usos e costumes tradicionaes da velha Albion. Fomos até forçados a supprimir estrophes, que são, para nós, absolutamente nonsenses.
Quem confrontar o assombroso poema de Oscar Wilde, com este modesto e despretencioso trabalho, verá que respeitámos sempre o pensamento do poeta, e não desprezámos uma só das muitissimas bellezas, nenhuma das innumeras imagens—as mais das vezes symbolicas — dessa obra incomparavel, “ce terrifiant poème, qui aura désormais sa place à côté de la Maison des Morts. de Dostoiewsky,” como diz o illustre e competente critico Robert Scheffer.
O titulo que adoptámos, differe do escolhido pelo autor. E’ que não poderiamos ouvir ler-se Ballada da Prisão de “Réadingui”, além de que— parece-nos— o nosso é mais expressivo, mais vibrante, e, quiçá, mais apropriado.
E. DE. C.
Esta obra entrou em domínio público no contexto da Lei 5988/1973, Art. 42, que esteve vigente até junho de 1998.
Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.