Em geral a brasileira não tem essa beleza que assombra ou que se admira, mas tem essa graça que enternece e que se ama. Se ela não possui esses traços constantes que de uma beleza romana não fez senão uma beleza, tem essas graças fugitivas que de uma pessoa fazem mil. Contemplaríamos um dia inteiro essas belezas perfeitas, porém esses lindos olhos e rosadas faces não teriam mais do que um mesmo olhar e um mesmo sorriso, no entanto que nos lábios de uma brasileira se verão passar rapidamente um prazer e um pesar e suas feições pálidas serão ligeiramente sulcadas pelo movimento insensível de um sentimento terno ou de um pensamento delicado.
As brasileiras são em extremo sensíveis e eis aí porque não se encontraram entre elas essas belezas perfeitas, de formas gregas, de contornos romanos e de cores de rosa e alabastro de que abrinda a Europa. A sensibilidade desfigura nelas, pelos seus movimentos as proporções da figura e os matizes da formosura, porém dá-lhes fisionomia em lugar de beleza, dá-lhes essa fisionomia que fala ao coração e o faz palpitar de amor. Passa também rapidamente a beleza no Brasil, porque as mulheres, que em geral se mantêm retiradas, dentro de suas casas, estão sempre debaixo da sombra e a beleza, como as outras flores, carece dos raios vivificantes do sol.
A brasileira é geralmente delgada e de estatura regular, mas por delicadas que sejam as suas formas, estas são sempre vivamente pronunciadas, suas extremidades são finas e delicadas como as de um menino, seu colo colocado com muita graça, dá a sua cabeça doces e ternos movimentos. Sua cintura naturalmente delgada guarda proporção com as mais partes de seu corpo, sem solicitar a beleza de uma desproporção exagerada que igualmente repelem a arte e a natureza.
Os movimentos de uma brasileira cheia de certo abandono, seu andar lento e brando, sua voz doce e melancólica, seus jeitos melindrosos e sua expressão, se conformam justamente com o clima deleitor sob o qual vive, com ar suave que respira, e com a terra poética que habita.
O ardor do clima priva as fluminenses daquela compaixão fresca e rosada das européias, porém sua palidez é mais atrativa do que a alvura e o rosado de Vênus de Guido, e sua languidez tem um poder, tem um encanto que é impossível definir.
(Dr. Valdez y Pallacios, 1846)
As circunstâncias excepcionais podem desviar às senhoras brasileiras de seus hábitos caseiros; saem pouco, e não se mostram senão no teatro e na grade de suas janelas. Não são, geralmente falando, bonitas, mas reclinadas preguiçosamente em suas redes, durante as horas calmosas do dia, a sua fisionomia e atitudes têm um não-sei-quê dessa graciosa indolência e desse encanto melancólico e pensativo que só possuem as americanas.
(Max Radiguet. 1842)
Leva-se a mal que os brasileiros exerçam um não-sei-quê tirano sobre as suas senhoras. Detêm-nas com efeito em uma espécie de gênio impenetrável que as priva de todos os olhares. Não admitem senão raramente pessoaas estrangeiras em sua companhia, e não no fazem sem que primeiramente sondem a sua moralidade e costumes. Tal caráter sombrio e zeloso explica, sem que o justifique, o isolamento em que vivem as brasileiras que não freqüentam a sociedade estrangeira. Existência assim contribui para que fiquem na ignorância dos usos sociais; elas não comprendem a vida da sociedade, que se lhes proíbe e daí um não sei de timidez que nelas se nota e que faz como que duvidar de sua aptidão intelectual. Tem a maior parte arrebatadora figura, aspecto encantador, olhos expressivos que anunciam, que dizem quanto não desejariam, como suas ditosas companheiras européias, o entretenimento da palestra para se ensaiarem na doce conversação. A sociedade que aformoseariam com a sua agradável presença se fossem nela admitidas, teria por certo mais encanto, e elas acabariam por adquerir esse sentimento de nobre dignidade, de graciosa facilidade que lhes falece. Depende das mulheres a sociedade; e todos os povos que têm a infelicidade de isolá-las não passam de insociáveis. Assim o disse Voltaire.
Faço votos para que os viajantes que me sucedam nestas terras do Brasil não vejam somente por entre as gelosias e vidraças ou as cortinas dos gradins das janelas esses grandes e negros olhos que tanto se estimaria poder admirar nos pinturescos passeios, nos graciosos salões, no seio das reuniões escolhidas onde o gozo as veria animar.
(Eugène Delassert. 1890)
O caráter sombrio e excessivamente ciumento dos brasileiros assaz contribui para o isolamento das brasileiras, que parecem ser condenadas a viver ainda algum tempo. Vi muitas dentre elas joviais, bonitas, amáveis e ainda graciosas que poderiam figurar nos passeios e na sociedade, que poderiam encantar e animar com a sua presença as reuniões formadas unicamente por homens, tão tristes e tão insípidas como insuportáveis. Porque as eloqüentes respostas de Voltaire, de Legouve e da senhora de Stäel às sátiras tão injustas como mordazes dos Juvenal e dos Boileau, não são lidas por todas as brasileiras! Adquiririam pelo menos justo sentimento de amor próprio, e nobre dignidade que lhes revelaria o que valem ou o que virão a valer; e seus lábios não se conservariam mudos quando os perados sofistas do gótico Portugal lhes pretendessem inculcar as máximas reprovadas pelo mundo civilizado.
(Arsène Isabel, 1834.)