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Ainda, caro amigo, ainda existem
Os vestígios dos templos suntuosos
Que a mão religiosa do bom Numa
Ergueu o Marte e levantou a Jano.
Ainda, ainda lemos que elegera,
Para estas divindades, sacerdotes,
E que muitas donzelas consagrara,
Afim de conservar-se, aceso, o fogo,
Em o templo de Vesta, sobre as aras.
Também, também sabemos que este sábio,
Para ter mais conceitos entre o seu povo,
Fingiu que a ninfa Egéria, sendo noite,
Vinha falar com ele, e que, benigna,
A forma do goveno lhe inspirava.
O mesmo fez Sertório, que dizia
Que nada executa, que não fosse
Ensinado por uma branca cerva,
Que, a deusa caçadora lhe mandara.
Mafoma, o vil Mafoma, astuto segue
Também este sistema: ao seu ouvido
Acostuma a chegar-se a mansa pomba.
A nação, ignorante, se convence
De que este seu profeta conhecia
Os segredos do céu, por este meio.
Não há, meu Doroteu, não há um chefe,
Bem que perverso seja, que não finja,
Pela religião, um justo zelo,
E, quando não o faça por virtude,
Sempre, ao menos, o mostra por sistema.