Nice, 7 de Março de 1887

Caro amigo,

[...]Dostoievsky veio a mim da mesma maneira que antes veio Stendhal: por completo acidente. Um livro casualmente folheado numa loja, um nome que eu nunca tinha ouvido falar antes - e então a súbita consciência que alguém tinha se encontrado com um irmão.

[...]quatro anos na Sibéria, trancafiado, entre insensíveis criminosos. Este período foi decisivo. Ele descobriu o poder da sua intuição psicológica; e mais, seu coração sensibilizou-se e tornou-se profundo neste processo. Seu livro de memórias deste período, La maison des morts [A Casa dos Mortos] é um dos livros mais "humanos" já escritos. [...] Eu primeiro li [...] duas novelas curtas ["A proprietária"] e ["Notas do subterrâneo" ]: o primeiro uma espécie de música estranha, o segundo uma verdadeira pincelada de gênio psicológico - uma assustadora e cruel imitação do délfico "Conhece-te a ti mesmo", mas lançada com tamanha audácia espontânea e alegria em seus poderes superiores que fiquei profundamente embevecido de contentamento. [...]