Mar e Guerra:

Atraca, atraca, atraca,
Atraca com chibança;
Olhem que os inimigos
Andam conosco em lembrança.

Patrão:

Alerta! que gente é esta?
Nesta bulha não posso dormir!. . .
Estava lá no meu quarto,
Lá me foram consumir.

Todos:

Olhem que grande peleja
Temos nós que pelejar,
Se for o rei da Turquia,
Se não quiser se entregar!
Trabalharemos com gosto
Pra nossa espada amolar;
Se for o rei da Turquia,
Se não quiser se entregar.

(Chegam os mouros e são intimados a renderem-se.)

Mar e Guerra:

Entreguem-se, mouros,
À santa religião.
Que dentro desta nau,
Temos ferros no porão.

Rei Mouro:

Eu não me entrego, nem pretendo
No meio de tanta gente;
Somos filhos da Turquia,
Temos fama de valentes.

Mar e Guerra:

Entreguem-se, mouros,
Não se ponham a brigar,
Que no fio desta espada
Todos hão de se acabar.

Rei Mouro:

Eu não me entrego, nem pretendo
No meio de tanta gente;
Somos filhos da Turquia,
Temos fama de valentes,

(Trava-se a luta mais forte; os mouros são derrotados, seu rei é preso;
eles entregam-se.)

Mouros :

Olhem, olhem que desgraça
Nos havia de chegar!
Que nós sendo tão valentes,
Sempre nos ter de entregar!

(Segue-se o batismo dos mouros,)

Capelão:.

Eu vos batizo, mouros,
Na santa religião,
Fazendo de vós, brutos,
Fazendo de vós cristãos.

(Depois da vitória, os nossos vão à terra, onde o piloto se intriga com o patrão, e este o fere. É chamado o capelão para confessar o moribundo, que era seu próprio filho.)

Piloto:


Olhem que estocada
Me deu o mestre patrão!
Com esta sua bengala
Traspassou meu coração!

Mandem chamar o capelão
Que me venha confessar;
Que a ferida é mortal,
Desta não hei de escapar.

Capelão:

O que tendes, meu rico filho,
Filho do meu coração?
Dai-me um par de pistolas
Qu'eu a vida irei vingar-te. . .

Todos:

Senhor padre capelão,
Outro modo de viver;
Não se fie nas oração,
Que também há de morrer.

Capelão:

Eu não me fio nelas,
Nem delas eu faço conta;
Dai-me um par de pistolas
Que a vida tê irei vingar.

( Retira-se o capelão)

Piloto:

Mandem chamar o surjão,
Que venha me curar,
Que a ferida é mortal,
Desta não hei de escapar.

Cirurgião:

Desgraça minha
Hoje aqui neste lugar;
Se a vida eu não te der
Nos ferros quero acabar
Mas eu não faço cura
Sem o meu chefe não ver;
Qu'esta tua ferida
Corpo-delito há de ter.

(O cirurgião enquanto não chegam o Mar e Guerra e outros para tomarem conhecimento do crime, manda buscar os medicamentos.)

Cirurgião:

Vem cá, Laurindo,
Vai depressa na botica,
Vai com todo o cuidado,
Traz de, lá toda a medicina.


Laurindo :

Aqui tem, meu rico amo.
E também belo senhor,
Aqui tem a medicina,
Saiu toda a seu favor.

Cirurgião:

Unguento novo
Boto na tua ferida,
Bálsamo cheiroso
É com que darei-te a vida.

(O piloto vai melhorando e se restabelece.)

Piloto:

Graças aos céus
De todo o meu coração,
Que já estou livre da morte,
Bailando neste cordão.

(Por este tempo vem o Mar e Guerra e os seus adjuntos e mandam prender o patrão.)

Patrão:

Pela pureza de Maria,
Pelos santos do altar,
Que hoje é dia de festejo,
Não costumam castigar.

(O patrão, não sendo atendido, foi-se valendo de todos os circunstantes, um por um, para o soltarem. Ninguérn o atendendo ainda, ele valeu-se de toda a marujada que se prostrou aos pés de Mar e Guerra, que, afinal, o mandou soltar.)

Patrão:

Graças aos céus
De todo meu coração,
Que já estou livre dos ferros,
Bailando neste cordão.

(Acabado o que, todos vão se retirando de casa, fingindo ser a marujada que vai à terra vender contrabando.)

Marujos:

Cheguem senhores mercantes,
O seu preço venham dar
Que a fazenda é mui fina.
Para os senhores trajar.

Mercantes:

Dou-lhe vinte e um cruzados
Pela fazenda real;
Se não me quiser vender,
Vou dar parte ao general;
"Saberá vossa excelência,
E também meu general,
Que os seus dois guardas marinhas
Fazem negócio pra mal."

(Tomam a rua, onde vão cantando improvisos e versos populares.)