Contos Tradicionaes do Povo Portuguez/A venda das gallinhas


179. A VENDA DAS GALLINHAS

E menos agudo andou o outro, que talhando o preço das gallinhas a quem as vendia na feira, e levando-o a quem dizia lh'as havia de pagar, o poz em uma Egreja onde estava o padre cura confessando; e chegando-se a elle lhe pediu por mercê á puridade, se lhe queria ouvir de confissão aquelle homem, e respondeu alto que sim e que esperasse, que logo o despacharia, se deu o vendedor por satisfeito, cuidando que o mandava esperar para lhe dar o preço da compra, e teve logar o ladrão de se acolher com o furto.

(Padre Vieira, Idem, p. 276.)



Notas editar

179. A venda das gallinhas. — Esta anedocta acha-se extremamente vulgarisada: nas Facetieuses journées, p. 107; nas Repues franches, de Villon; nas Facetie di Poncino, na Arcadia di Brenta, p. 152; nos Nouveaux Contes à rire, p. 262; nos Contes du sieur d'Ouville, t. II, p. 471; no Courrier facétieux, p. 355; na Histoire générale des Larrons, p. 20; na Bibliothèque de Cour, t. III, p. 23. As variantes dão-se entre o objecto da compra e a pessoa que paga. No Conto Des trois Aveugles vem esta peripecia como episodio. (Recueil de Fabliaux, p. 85.) Nas Novelle de Morlini, n.º XIII; nas Facetieuses Nuits, XIII, fab. II, e em Bebelius, liv. 11, conto 126, acha-se este mesmo conto do jesuita portuguez, e ainda conente nas facecias populares.