Contos Tradicionaes do Povo Portuguez/Lenda do Milho e do Centeio


189. LENDA DO MILHO E DO CENTEIO

Quando se acaba de gastar o milho começa a colheita do centeio barroso, que se semeia em fevereiro e só se malha em julho. De uma vez o milho disse-lhe, chasqueando-o d’esta sua demora:

— Gandarella, gandarella,

Que andas seis mezes na terra.

Respondeu-lhe o centeio:

«Cala-te lá meu reboludo,

Quando te acabas sou eu que acudo.

(Airão.)

Variante:

Disse. o Trigo para o Centeio:

Cala-te lá, Centeio, centeiaço;

Que tu não fazes as funcções que eu faço.

Retruca o Centeio para o Trigo:

Cala-te lá, Trigo espadanudo,

Que não acodes ao que eu acudo.

Diz d’ali a Aveia:

Eu sou a Aveia

Negra e feia;

Mas quem me tem em casa

Não se deita sem ceia.

(Villa Nova de Gaya. — Leite de Vasconcellos, Trad., p- 128.)


Notas editar

189. — Uma grande parte d'estas lendas e patranhas foram colligidas pelo sr. Leite de Vasconcellos, achando-se dispersas nos seus estudos criticos sobre as tradições portuguezas.