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Prefácio da edição inglesa.
editarPode parecer desnecessário prefaciar qualquer livro que possua o grande benefício de uma Introdução feita pelo Sr. Andrew Lang, especialmente quando se trata de um livro que tem sido tão popular neste país que mostrou totalmente o direito que possui ao nome que lhe foi originalmente concedido.
O leitor, todavia, provavelmente gostaria de conhecer a sua história como foi contada por um dos seus autores no prefácio da segunda edição, que foi publicada em 1819. A primeira edição, originalmente, era constituída de dois volumes, tendo o primeiro desses volumes aparecido em 1812. Os Irmãos Grimm passaram treze anos colecionando as histórias para esse volume. Todas elas foram reunidas uma a uma pela boca da pessoas que viviam em Hesse e Hanau, os distritos mais conhecidos pelos autores.
O segundo volume foi terminado mais rapidamente: ficou pronto em 1814. A sorte os favoreceu, amigos os ajudaram, mas a melhor amiga deles era a esposa de um vaqueiro que vivia na aldeia de Niederzwehrn, perto de Cassel, uma mulher por volta do cinquenta anos, inteligente e agradável, porém, com fisionomia bastante firme, grande, olhos brilhantes e penetrantes, e com um dom incrível para contar histórias.
“A memória dela”, nos relata os Irmãos Grimm, “guardava uma lembrança espetacular de todas as sagas. Ela mesma reconhecia que este dom não era atribuível a todas as pessoas, e que havia muitas que não se lembravam de tudo de modo correto. Ela contava histórias completas, com precisão, e com uma maravilhosa vivacidade, e evidentemente tinha a maior alegria em contá-las. Primeiro, ela contava as histórias do começo ao fim, e depois, se necessário, as repetia mais devagar, de modo que depois de alguma prática era fácil colocar no papel tudo o que ela havia ditado.
É assim que os Irmãos Grimm colocaram todas elas no livro; tudo o que ela dizia era anotado por eles, palavra por palavra, e por isso a fidelidade é inequívoca. Eles foram testemunhas oculares do fervor ardente e dos detalhes que ela relatou. “Todos aqueles que guardavam essa tradição eram tão facilmente equivocados e tinham pouco cuidado com a preservação, que era impossível que isso durasse um tempo muito longo, deviam ter visto a intimidade com que ela conservou as histórias, e como ela foi cuidadosa com relação à precisão dos fatos. Quando solicitada para repetir uma parte, jamais a alterava, e se cometia algum equívoco, corrigia imediatamente.”
Uma grande quantidade das histórias desses volumes vieram de Hesse, que segundo nos disseram, era uma região montanhosa que se erguia distante das grandes rodovias principais, e com uma população que vivia da agricultura, sendo, pois, de todos os estados alemães, aquela que dentre todas as alterações do tempo guardou mais fixamente os hábitos e os costumes característicos.
O princípio sobre o qual os Irmãos Grimm trabalharam é descrito por suas próprias palavras: “O nosso principal objetivo ao coletar estas histórias foi a exatidão e a verdade. Nada adicionamos de nós mesmos, não embelezamos nenhum fato ou circunstância apresentada pela história, mas oferecemos o seu conteúdo do mesmo modo como o recebemos. Lógico que, devemos compreender que o modo de contar e relatar alguns detalhes deve-se a nós, porém, esforçamo-nos para reter tudo o que acreditamos ser característico, e que neste aspecto poderíamos dar à coleção as características multi-facetárias da natureza.
“Quanto ao resto, todo aquele que se atreve a um trabalho desta natureza saberá que isto não pode ser considerado como um método negligente ou apático da coleção, mas ao contrário, um cuidado e uma habilidade que somente o tempo pode oferecer, são os requisitos para diferenciar a versão da história que é mais simples, mais pura e mais completa em si mesma, do que a versão modificada da mesma história. Sempre que achamos que as diversas histórias se completavam, e que as partes contraditórias não precisavam serem eliminadas antes que pudessem ser reunidas, nós juntamos todas elas, mas quando elas diferiam, demos o formato que nos pareceu o melhor, e guardamos as outras como notas de rodapé.”
Os autores expressam seu grande pesar por terem sido obrigados a relatar as histórias em alto-alemão, o qual, embora tivesse ganhado em clareza, “perdeu em sabor, não retendo por muito tempo a firme consistência do núcleo do significado das coisas.” Sempre que possível, ele mantiveram as expressões locais faladas nos lugares onde ouviram a história, e os dois volumes de que é constituída a obra, contém as histórias em dez dialetos diferentes.
Tem havido muitas traduções para o inglês dos Contos Infantis, e esta é, acredito eu, a primeira que busca apresentar as histórias exatamente como foram oferecidas pelos Irmãos Grimm. Eles registraram as lendas exatamente como eles as ouviram, e se alguns dos detalhes parecerem ser um pouco grosseiros, ou se pessoas santas foram ocasionalmente apresentadas com muita ousadia familiar, o que para nós beira a profanidade, eles não amenizaram ou omitiram esses aspectos, pois para eles a fidelidade à tradição era um dever que não admitia compromissos — eles não pretendiam divertir as crianças, mas armazenar material para os estudiosos do folclore.
Os tradutores para a língua inglesa, de maneira nada natural, até hoje imaginaram crianças em suas ideias, e pensaram que seria melhor modificar o demônio das histórias alemãs para um ogro menos ofensivo ou um anão negro, etc. Na presente tradução, esforçamo-nos para contar as histórias como elas foram registradas no original em alemão, e embora tenhamos amenizado um ou outro acontecimento, sempre respeitamos o princípio considerado soberano pelos próprios Irmãos Grimm.
As notas também foram traduzidas pela primeira vez. Tivemos algumas dificuldades em traduzir alguns nomes próprios, mas tentamos nos adaptar ao formato dos nomes para os quais os próprios autores se mostraram mais inclinados. Eles adotaram vários nomes, e o modo de escrever é diferente daquele que normalmente é aceito, e sendo eles grandes autoridades, nos parece presunção de nossa parte alterar o que eles consideraram correto.
Prefácio da edição em alemão
editarSenhores cavalheiros
Não sabendo exatamente o endereço de vossas senhorias confiei o pacote anexo a um grupo de amigos na esperança de que o precioso embrulho possa chegar até vocês em segurança.
Ele contém uma cópia de um pequeno trabalho constituído por algumas traduções (feitas por mim e pelo meu amigo, Sr. Jardine, que ultimamente está estudando em Göttingen) dos seus volumes da obra Kinder und Hausmärchen, e pedimos que os aceite como pequeno tributo de gratidão pelas informações e pelo divertimento que nos foi proporcionado pela sua interessante trabalho bem como por outras produções valiosas de sua autoria.
Ao compilar o nosso pequeno volume tivemos a divertida companhia de nossos amigos em vista, e que foram compelidos algumas vezes a conciliar alguns sentimentos locais e a fugir um pouco da tradução rigorosa, porém, acreditamos que todas estas variações foram registradas nas Notas de Rodapé que foram registradas apressadamente procurando mostrar que o nosso livro tinha algumas pretensões de conteúdo literário embora uma pesquisa profunda estivesse fora de nossos planos.
Ao criar estas notas você irá perceber que estamos bastante endividados com vocês e com o artigo da Quartely Review do nosso amigo e vizinho Mr. T. Cohen.
Aproveito a oportunidade para acrescentar a esse esforço uma pequena coleção de nossas canções infantis, algumas delas bastante antigas e de grande circulação.
— E embora a coleção tenha sido terminada sem muitos cuidados ela talvez ofereça algum interesse para os teus olhos.
Tenho grande interesse em publicar aqui (com a ajuda de nosso gravador e desenhista Sr. Cruickshank para cujos talentos essa obra seria muito adequada) uma tradução de Reineke Vos, do qual o inglês não possui uma versão métrica.
— Me disseram que o Dr. W. Soltau que traduziu o nosso Hudibras para o alemão, traduziu Reineke em versos ingleses.
— Então, na qualidade de estrangeiro, a tradução dele exigiria uma revisão considerável, e você poderia me poupar muito trabalho e me faria um grande favor pudesse me informar em que ponto está a versão de Soltau, ou me informando pessoalmente ou através de qualquer outro canal.
— Nem sei se ele está vivo, mas eu sei que a versão foi oferecida a um livreiro de Londres que se recusou a publicá-lo. Se ainda for possível e puder ser conseguido eu ficaria feliz em tentar uma negociação pela obra.
Despeço-me, cavalheiros, com meus votos mais respeitosos.
Teu servidor obediente
Inner Temple
Londres, 26 de Junho de 1823
Edgar Taylor.
Obs: Quem é o „Sr. Korbes?“ – ele causou grande confusão em nossas cabeças –
Senhores,
editarHá muito tempo atrás fui favorecido por suas observações sobre o assunto a respeito do volume das histórias populares alemãs que eu tive o prazer de compartilhar a tradução, e receio estar atrasado, embora na verdade esperasse me demorar mais a ponto de reviver esse tema da maneira como gostaria, isto é, apresentando a vocês o segundo volume, que eu mesmo preparei e finalmente estou anexando.
— Receio que vocês ainda estejam pensando que me sacrifico demais com o gosto público, mas, na verdade, iniciei este trabalho menos como antiquariano do que como uma Pessoa que queria se divertir, e o gosto literário pelo assunto me ocorreu somente quando eu tinha um plano de não abandonar depois de ter crescido tanto. — Vocês verão que eu fui obrigado a pegar duas ou três histórias de outras coleções para dar ao volume a consistência que eu desejava.
— Será que a minha obra “Recanto dos Trovadores”[1] chegou até vocês? — se receberam, eu devo implorar a vocês uma avaliação piedosa para ela também. — O meu objetivo nada mais é do que uma introdução do leitor de língua inglesa a um tema, que retribuiria com sobras o trabalho de mãos mais capacitadas. — Mas a Alemanha não deve se queixar de outros países, quando este país ainda é deficiente de uma história completa da literatura, etc, do Período Suábio.
Estou seriamente inclinado a publicar um volume ou dois sobre as histórias mais populares da idade média dos vários países da Europa, selecionando aqueles que são mais conhecidos e que vale mais a preservação — logicamente que todas traduzidas e de certo modo portanto, um pouco recontadas.
— Pretendo nesta coleção utilizar aquilo que chamamos de “Livros de Bolso”[2], e que vocês chamam de Livros Populares; muitos dos quais são, como vocês estão sabendo, romances resumidos dos tempos de cavalaria — é claro que elas geralmente seriam mais longas do que aquelas que vem inclusas nas histórias para crianças.
Por exemplo, eu gostaria de publicar Fortunatus Magelone, Faustus, Valentim e Orm (?), Guy de Warwick, Owlglass, dentre outros.
Os romances com datas mais antigas não são facilmente conseguidos no estado original — Os da Inglaterra são raramente encontrados e me ocorreu que provavelmente alguns deles ou pertencem diretamente à Alemanha ou foram traduzidos e são correntes nesse idioma onde seriam mais correta e facilmente encontrados.
— Será que você poderia me dizer se muitos desses romances podem ser encontrados com facilidade e como uma pequena coleção deles (incluindo talvez 2 ou 3 na forma métrica) poderia ser conseguido na Alemanha — Um deles, por exemplo, é fornecido por um relato de Görres[3] em seu pequeno volume.
— Eu ficaria muito grato se me fosse possível obter o que desejo, e provavelmente, se estas coisas ainda forem correntes, elas podem ser obtidas por um custo muito barato.
Não estou sabendo se você ainda mantém contacto com M. Benecke — Gostaria de saber se um pacote que enviei a ele há algum tempo atrás junto com as minhas “Memórias”[4] chegou até ele. Eu tinha curiosidade, quando estava em Paris, de restrear e fazer um resumo de todas as iluminuras famosas do então chamado Maness M.S. — Eles formariam um volume muito interessante.
Devo me desculpar por ter tomado muito do seu tempo e me coloco a seu inteiro dispor
Temple,
Londres, 24 de Janeiro de 1826
Edgar Taylor
Cassel, Hessen, 4 de Agosto de 1826
Resumo de Walter Scott para Edgar Taylor
editarEdimburgo, 16 de Janeiro de 1823.
Senhor,
Devo retribuir meus melhores agradecimentos pelo presente muito justo oferecido por vossa senhoria em seu interessante volume sobre as histórias e tradições da Alemanha. Muitas vezes desejei ter visto tal obra tendo sido empreendida por um cavalheiro com tato suficiente para adaptar a simplicidade da narrativa alemã ao nosso estilo, o que você fez de modo tão brilhante. Quando a minha família viveu aquele momento feliz na qualidade de editores dos contos de fada, desde então, tenho me empenhado na tradução de todos os contos, de uma maneira tão improvisada como era possível, e eu ficava sempre agradecido com a satisfação que as ficções alemãs pareciam traduzir. Foi graças a elas que um velho gato de nossa família leva ainda o nome estrangeiro de Hinze, nome esse que ocorre com tanta frequência nessas pequenas histórias. Num grande número dessa histórias eu me lembro perfeitamente das histórias para crianças da minha infância, algumas delas de forma diferente e as outras como se fossem lembranças de nossos sonhos. Caso você algum dia decida por aumentar as suas observações, que são muito interessantes, com maior prazer eu poderia fazer chegar as tuas mãos todas as histórias que eu me lembrar. O príncipe Paddock, por exemplo, era uma lenda muito conhecida por mim onde uma princesa é mandada para buscar água com uma peneira no Poço do Fim do Mundo, ela consegue seguindo o conselho de um sapo que a ajuda sob a promesa de que ela se tornasse sua noiva.
Tape com musgo e cubra com argila
E isso vai segurar a água na peneira
O sapo chega a reivindicar a noiva e conta a história com o efeito do tipo de ruído na água que ele faz ao saltar para a terra, devendo ser imitado ao representar esta canção nupcial
Abra a porta minha querida, meu coração
Abra a porta minha coisinha pequenina
E cuidado com as palavras que você e eu falamos
Lá embaixo, nas pradarias junto da nascente
No mesmo estilo como a canção do pequeno passarinho:
Minha mãe me matou
Independentemente da forma curiosa que essas histórias são encontradas, existindo em vários países e idiomas nas formas mais diversas, definindo com isso a grande falta da criatividade humana que poderíamos esperar, há também uma espécie de interesses selvagens e mágicos nelas o que me faz pensar que seriam melhores adaptadas para despertar a imaginação e acalmar o coração das crianças do que as histórias de bons garotos que nos últimos anos foram criadas para eles. No último caso a mente deles ficaria ativada assim como acontece com os pés numa escola de dança e a moral consiste sempre numa boa conduta moral... sendo coroada com o sucesso do tempo.
A verdade é que eu não derramaria nenhuma lágrima por causa da Chapeuzinho Vermelho, com todos os benefícios extraídos de centenas de histórias de Tommy Goodchild. A senhorita Edgeworth que possui uma inteligência muito grande afirmou que o caminho mais moderno seria uma exceção do meu profundo desdém por estas narrativas morais, mas isso porque elas foram mais adaptadas para o público adulto do que para as crianças. Todavia, eu devo dizer que acho que a história de "Susana, a menina simples," em particular, praticamente inimitável. Porém, "Onde não há desperdício, não há miséria", e embora uma história muito criativa seja "Eu tenho medo" - mais capaz de mostrar a grosseria de um garoto que tem por natureza um temperamento fechado e cauteloso do que corrigir um destruidor descuidado e preguiçoso com as cordas de um chicote. Resumindo, acho que as tendências egoistas, logo serão adquiridas nesta idade matemática, e isso para melhorar a classe dos elementos de nossas ficções antigas e selvagens, assim como a nossa música simples terá maior efeito para despertar e elevar o nosso ânimo do que as composições mais frias e mais elevadas de autores e compositores mais inteligentes.
Não estou familiarizado com a coleção de Basile[5] mas tenho em mãos as duas edições de Giovanni Francesco Straparola (1480-1557), nas quais observo consideráveis diferenças - Eu poderia acrescentar muito mais, mas acho que já há o bastante aqui para demonstrações e é com sincero interesse que assino
Seu criado dedicado
Walter Scott.
Göttingen, 2 de Abril de 1824
Notas do Tradutor
editar- ↑ Lays of the minnesinger.
- ↑ Chapbooks.
- ↑ Johann Joseph Görres (* 25 de Janeiro de 1776 † 29 de Janeiro de 1848) foi escritor e jornalista alemão.
- ↑ Minnesinger.
- ↑ Giambattista Basile (1566-1632), (* Nápoles, 15 de Fevereiro de 1566 † Giugliano, Nápolis, 23 de Fevereiro de 1632), foi poeta e novelista italiano.