De amor escrevo, de amor trato e vivo;
De amor me nasce amar sem ser amado;
De tudo se descuida o meu cuidado,
Quanto não seja ser de amor captivo:
De amor que a lugar alto voe altivo,
E funde a gloria sua em ser ousado;
Que se veja melhor purificado
No immenso resplandor de hum raio esquivo.
Mas ai que tanto amor só pena alcança!
Mais constante ella, e elle mais constante,
De seu triumpho cada qual só trata.
Nada, em fim, me aproveita; que a esperança,
Se anima alguma vez a hum triste amante,
Ao perto vivifica, ao longe mata.