FARSA (forma teatral: Mimo, Momo, Vaudeville) → Mimese
A farsa está para a comédia como o melodrama para a tragédia. Do latim farcire (rechear), de onde vem "farto", cheio de várias coisas, a farsa aproxima o cômico do burlesco pelo exagero do ridículo e pela paródia de coisas sérias. Ela contém todos os ingredientes da comédia, com algumas peculiaridades: o assunto é episódico, centrado mais sobre quadros da vida real do que sobre um enredo com início, meio e fim; predomina a ação sobre o diálogo e o caráter das personagens; o princípio clássico da verossimilhança não é respeitado; sua finalidade é despertar o ridículo, a risada irrefletida, desbragada, apenas como escape. A farsa originou-se na Idade Média francesa como representação laica divertida, em oposição às encenações religiosas dos mistérios da fé cristã. Talvez, em seu bojo, estejam as representações miméticas da Magna Grécia que remontam ao século V a.C. O mimo, que em grego significa "imitação" (→ Mimese), era uma peça em prosa coloquial, de caráter licencioso e irreverente, em que a comicidade, mais do que nos rápidos diálogos, consistia nos gestos obscenos. Proibidos de serem representados nas cidades, os mimos medievais passaram a ser encenados nas feiras livres por companhias ambulantes. Relacionado com o mimo está o momo, nome de uma divindade grega, personificação do sarcasmo e da atividade crítica. Na arte teatral, o termo momo passou a significar a máscara ou o ator mascarado e, em seguida, no começo do Renascimento, uma atividade dramática especifica, caracterizada pelo uso das máscaras. A farsa, portanto, pode estar relacionada com o gênero burlesco pelo uso da paródia, com o gênero mimético pelas imitações ridículas, com o gênero mômico pelo recurso às máscaras e, evidentemente, com o gênero cômico por ser uma espécie de filha bastarda da comédia, pois visa apenas provocar o riso escrachado, tendo como destinatário a grande massa popular. Estruturalmente, a farsa utiliza enredos e personagens estereotipados: a troca de filhos gêmeos, o amante no armário, o reconhecimento surpreendente da verdadeira identidade, a alcoviteira, a moça ingênua, o pai severo etc. Como gênero literário e teatral à parte, ela teve um certo sucesso no início da Renascença quando, em oposição ao teatro moralizante da Idade Média, apresentava a vitória final do vilão esperto sobre o bonzinho estúpido, revertendo, assim, os valores ideológicos em prol da afirmação da praxe realista. Um bom exemplo é a Farce de Mâitre Pathelin. Mas a farsa não teve longa vida como peça teatral autônoma. Com o tempo, passou a funcionar apenas como "Intermezzo", entreatos, e se confundiu com o Vaudeville, representação teatral do barroco francês. A etimologia da palavra "vaudeville" é incerta: talvez derive de voix (voz) de villes (cidades), indicando as canções e as histórias contadas nas ruas urbanas por menestréis ou jovens apaixonados. Enfim, a farsa das penínsulas ibérica e italiana, assim como o vaudeville e o music-hall norte-americano, não são muito diferentes do "teatro de variedades", em que o espetáculo cênico adquire aspectos circenses pela mistura de danças cantos e piruetas, tendo como finalidade comum provocar o riso fácil de um público que quer apenas se divertir.