Senhores Senadores e Deputados da Nação:
É com profunda comoção de reconhecimento que recebo de novo o grave mandato da magistratura suprema da República.
Quando em 5 de Outubro de 1915 o assumi pela primeira vez, o nosso programa governativo era a intervenção de Portugal na Guerra, e orgulho-me de haver então cumprido todo o meu dever presidencial.
O povo português que erguera valorosamente nas suas mãos o lábaro republicano em prol dos destinos da Pátria; tomou altivamente o lugar de honra que lhe pertencia no exército augusto das nações livres.
E a vitória veio coroar o esforço ardente da nossa heróica democracia.
A missão que impende hoje sobre nós é outra, mas não é menos momentosa, nem menos imperativa.
Temos de assegurar aos nossos denodados compatriotas, sem a mínima perda de valoras e de tempo, a justa compensação dos seus generosos sacrifícios, não deixando jamais de reivindicar a causa dos nossos direitos, direitos sagrados, que ninguém ainda conquistou mais legitimamente do que nós pela nossa acção civilizadora no mundo.
O inimigo secular, que tantas vezes nos flagelou ferinamente, arrastando-nos à decadência, é historicamente o mesmo, na paz como na guerra, hoje como ontem, dentro ou fora do país: é a usurpação da soberania popular, o arbítrio, a ditadura do Poder, causa fatal da instabilidade e dissolução ruinosa da vida pública. Conjuremos resolutamente tais atentados.
Governe o Parlamento, governe sem declinar nenhuma das suas nobres prerrogativas na plenitude fecunda das suas faculdades poderosas reconstituintes, fazendo da República, pela justiça das leis e pela austeridade dos seus mandatários, um regime cada vez mais zeloso de todas as liberdades, individuais, associativas, corporativas, e de todas as renovadoras iniciativas, científicas, artísticas, industriais, protector querido e abençoado de quantos infelizes só dele podem esperar o alívio e resgate das suas dores.
No desempenho das suas altas funções, de tamanha responsabilidade, que o Congresso mais uma vez se dignou confiar-me, desvelar-me-ei por corresponder à sua extremada benevolência, e inspirando-me imperterritamente na mais entranhável devoção cívica à grandeza e ao prestígio da República pelo estreitamento dos vínculos de concórdia e confraternização social, em fiel solidariedade com as aspirações palpitantes do progressivo génio da Pátria.
Viva a República Portuguesa!