Podem os que me escutam imaginar como é grato ao meu espírito este momento que, sendo embora de sacrifício, não deixa de ser de íntima satisfação. Um soldado, um simples soldado como eu, habituado ao cumprimento do dever e que nunca quis outra coisa senão cumprir o seu dever, sente-se naturalmente comovido ao ser investido nas mais elevadas funções a que um cidadão pode aspirar. Sinto que vou encontrar dificuldades e espinhos no meu caminho. E sinto também não poder levar a cabo, com aquela grandeza que as necessidades do país exigem, a tarefa que me vai ser cometida. É certo que tenho trabalhado pouco. Mas os que quiserem avaliar, com segurança e com lealdade, da natureza e do valor desse trabalho, hão de considerar que a acumulação de funções, a de chefe de Governo e a de ministro da Guerra, me vem impedindo de realizar por esta pasta, a tarefa que é necessário executar. Mas, desassombradamente, posso afirmar que tenho procurado conciliar vontades e fazer desaparecer divergências que separam os portugueses. E que, embora não haja chegado a resultados concludentes, alguma coisa de útil e de proveitoso tenho conseguido. É grata, agradável ao meu espírito a missão de conciliar. Agora como Chefe de Estado procurarei tornar mais profícuos ainda os meus intuitos de pacificação. Torna-se necessário fechar o ciclo das lutas e das revoluções. Se o Governo a que presido conseguir que estas lutas e que essas revoluções acabem, terá prestado ao país o mais alto e valioso serviço. Por mim, afirmo que tenho procurado integrar-me no espírito do movimento de 28 de Maio. O programa desse movimento não é de vinganças nem de retaliações. É um programa de paz, de concórdia. Cumpri-lo é uma honra para mim.