Rainha dos Portuguezes!...

Rainha pelos Portuguezes!...

Que Has feito dessa herança de virtudes que Teu Pai Comprou com a vida para
Ti?

Que Has feito da felicidade de Teu Povo a Ti confiada?

Que lhes Déste pelas suas esperanças?

Esse malfadado Povo não tinha mais que a Deos e a Ti.

Tu lhe Faltas: e Deos punirá nelle os teus peccados.

Rainha pelos Portuguezes!...

Juraram eles Comtigo o pacto de suas venturas: e a Ti, pelo que de Ti
deviam esperar, Te deram inviolabilidade: e ainda, blasfemos em suas
palavras de amor por Ti, disseram que Eras--Sagrada.--

Elles obedeceram tanto; elles cumpriram tanto, e de mais, as condições
desse pacto firmado a sangue de suas honrosas feridas de batalha, que a
fome, sómente a fome lhes poude arrancar um brado supplicante, e
afflicto... e não muito alto dado... não muito pungente... para não magoar
Teu coração... porque Te julgavam sua Mãi!...

A fome, sómente a fome lhes inspirou uma queixa humilde.

E Tu, Rainha pelos Portuguezes!...

Tu Atiraste ao Povo, que tinha fome, uma pedra com que os dentes lhe
Quebraste, que elle esfaimado entre-abrira, julgando que lhe Atiravas algum
pedaço de pão, que sobejava de tua lauta mesa, que elle paga!

Rainha pelos Portuguezes!...

Como foi que Tu Cumpriste o pacto Assignado por Ti, com lagrimas de saudade
a teu Pai votadas, e por teu Povo com sangue derramado por Ti?...

Qual era a condição de Tua inviolabilidade? Cumpriste-a Tu?

Não És Tu mesma a confessar que Transgrediste a lei pela qual Foste feita
Rainha?

Tu mesma não Prometteste a esse Povo esfaimado Derogar leis que Fizeste
contrarias á lei que Te fez de misera proscrita uma Rainha?

Tu mesma, Submettendo-Te a condições aviltantes não Te Degradaste já de Tua
alta dignidade?

Tu mesma não És que Derrubaste essa muralha de corações devotos, que Te
amavam, que palpitavam por Ti, e inviolavel Te faziam e Te guardavam?

Tu mesma não Foste que Deixaste cair o Teu sceptro de ferro sobre essas
cabeças, que Te veneravam sagrada; e quasi que Te adoravam divina?

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E ás boccas esfaimadas Atiras Tu uma dura pedra!...

E sobre as linguas sequiosas Gottejas Tu, risonha de escarneo, o fel amargo
de Tuas ingratidões!...

E nas faces de fome pallidas, que enrubeceram pelo Teu desamor, Tu Mandaste
dar por Estrangeiros muita bofetada!...

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