Eco da Voz Portugueza por Terras de Santa Cruz/X
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E disse por derradeiro o procurador d'El-Rei Lourenço Viegas: "Quereis que
o Senhor Rei vá ás Côrtes d'El-Rei de Leão, ou lhe pague tributo, ou a
alguma outra pessoa, afóra o Senhor Papa; que o appellidou Rei?"--A esta
voz surgiram todos, e com as espadas nuas e alçadas, gritaram: "Livres
somos, nosso Rei é livre, só ás nossas mãos devemos a nossa Liberdade: e
qualquer Senhor Rei, que em tal consentir, morra por ello: e se ainda não
fôr Rei, nunca em nenhum tempo possa vir a reinar sobre nós."--Aqui El-Rei
coroado, se ergueo outra vez, e floreando na direita a espada nua, dísse
para todos; "Quanto hei lidado por vossas liberdades, assás o sabeis vós.
Por testemunhas vos tomo, e por testemunhas a este meu braço e espada; se
alguem em tal consentir, morra por ello; e a ser filho ou neto meu, não
reine."
--Todos disseram: boa palavra, morrerão: "Rei, que em alheio dominio
consentir, não será de nós soffrido uma só hora no throno."
--Ao que El-Rei poz remate, com dizer "Assim se faça."
(A. F. Castilho)
Rio de Janeiro
Typ. de M. A. da Silva Lima
_Rua de S. José N.º 8.--1847_