Á SOPHIA.



Eu gósto de ver o mar azulado
Douradas areias sereno banhar;
Eu gósto de vel-o bramir iracundo
E sobre rochedos a furia quebrar.

Eu gósto de ver um céu de saphiras,
Um céu de Janeiro com almo luar;
Eu gósto de vel-o bem negro e medonho
Terrivel mostrando querer desabar.

Eu gósto de ver o sol radiante
No rôxo horisonte formoso assomando;
Eu gósto de vel-o, da tarde no termo,
A fronte abrasada no mar mergulhando.

Eu gósto de ver a triste rolinha
Carpir do consorte saudades na ausencia;
Eu gósto de vel-a amante, extremosa,
Manter dos filhinhos a tenue existencia.

Eu gósto de ver a rosa entre-aberta,
E mais—rociada das gôtas do orvalho;
Eu gósto de vel-a, nos dias d’inverno,
Em triste desmaio pendente do galho.

Eu gósto de ver o niveo cordeiro
Na relva viçosa mansinho dormindo;
Eu gósto de ver o tigre indomável
No centro das matas sanhudo rugindo,

Eu gósto de ver um campo esmaltado
De bellas florinhas, que espalhem odor;
Eu gósto de vel-o bem àrido, inculto,
Sem flor, sem perfumes, que inspirem amor.

E mais que do sol, do céu, do cordeiro,
Do campo, da rosa, da rôla e do mar,
Eu gósto de ver da linda Sophia
Um riso nos labios, divino, pousar.

3 de Novembro de 1849.