Não foi, querida Angelina,
A formosura divina,
Tão mimosa e peregrina,
Que em tua face se ostenta,
Que fez nascer no meu peito
O sentimento perfeito,
Pelo Senhor tão acceito,
Que cadavez mais se augmenta.
Não é por seres donosa,
Qual purpurea e linda rosa,
Que abre fragrante e viçosa
D’aurora ao desabrochar,
Que meu coração te jura
Perenne, intensa ternura,
Tão meiga sempre e tão pura
Como o teu languido olhar.
Foi, sim, tu’alma sublime,
Que abomina o feio crime,
Que a miseria não opprime
Com desdenhoso rigor;
Foi ella, morada pia,
Onde a virtude irradia,
Que, com tanta idolatria,
Grangeou meu terno amor.
Mas, meu anjo idolatrado,
'N este amor tão elevado,
Talvez me tenha enganado,
Por não conhecer de feito,
Si amavel e primorosa
És por seres virtuosa,
Ou si a virtude é formosa
Por existir no teu peito.
2 de Outubro de 1849.