A meu irmão J. B. de Castro Rebello.


De teu bello natal prazenteiro
Vi o dia feliz despontar;
Vi a aurora no vasto horizonte,
Mais formosa que nunca, assomar.

Era linda, qual rósea capella
Sobre a fronte de virgem louçã;
Era tão perfumada, e tão leda,
Como festa d'igreja christã.

Ella estava co'a dôce alegria
Debuxada na face gentil;
Alegria, qu'é só das auroras,
Como esta, do nosso Brasil.

Eu, então, venturosa julguei-me,
Vendo-a assim pelo céu passeiar;
Mas, após, de tristeza uma nuvem
Veio minha ventura toldar.




E sabes qual o motivo
De tão subita tristeza,
Quando toda a natureza
De galas se revestiu?
Sabes porque pezarosa
Via,—quasi lacrimosa,—
Essa aurora tão formosa,
Que lá do céu me sorriu?

Era um pincel encantado,
Que minh’alma cubiçava
Para o céu, que assim primava

Em lindezas,—copiar.

Era o pincel milagroso
De Raphael portentoso,
Que o seu nome glorioso
Té aos astros fez chegar.

Ah! si de Italia o Apelles,
'N aquelles arroubos santos,
Porventura um céu de encantos
Alguma vez desenhou,
—Por certo me não engano—
D'esse genio italiano,
O talento soberano
Com o céu do Brasil sonhou.

Sim, co'o céu americano,
Que tão puro resplandece,
Que n elle habitar parece
O Senhor co'os anjos seus.
Ah! que si o céu contemplára
Da nossa terra tão cára,
O athèu não mais negára
A existencia de Deus.

Não, si o manto de saphiras,

Que envolve o céu prazenteiro

D’este Agosto brasileiro,
Elle podesse avistar;
Si visse da lua cheia,
Quando a noite é quasi meia,
Com que doçura passeia
O raio argenteo no mar;

Essa existencia divina
Revelada lhe seria;
Su'alma despertaria
Da crença eterna ao clarão.
Então, á fé convertido,
Encantado, arrependido,
Exclamára embevecido:

—Creio em ti, meu Deus! perdão!


21 de Agosto de 1851.