Página:Os Fidalgos da Casa Mourisca (I e II).pdf/99: diferenças entre revisões
(Sem diferenças)
|
Revisão das 17h53min de 24 de junho de 2010
—Então vae partir?—perguntou Bertha.
—Que remedio, Bertha? Cumpro uma dura lei. Deixo o coração por aqui, acredite; por esses valles, por essas devezas, por essas ribeiras… Mas que lhe hei de fazer?
—E para onde vae?
—Eu sei? Para onde me levar o destino. Mas o Thomé ri-se! Seu pae ri-se, Bertha!
—Rio-me da lamuria. Quem o ouvir, ha de acreditar que elle parte devéras e que lhe custa immenso a partida.
—E então?
—A mim já me custa a crêr que o snr. Mauricio nos deixe; mas, a isso succeder, não ha de ser a chorar que arranjará as malas.
—É injusto com o meu coração. É o que se segue.
—Não, senhor; não sou; mas sei o que é ter vinte annos, e sei o que é essa cabeça. E agora o nosso caminho é por aqui. O snr. Mauricio, se quizer dar-nos o prazer da sua companhia, tem no fim d'esta rua uma casa para o receber, senão…
—Agradecido, Thomé. Outro dia será. Não quero perturbar com a minha presença as alegrias de familia. Adeus, Bertha, continuaremos a ser os amigos que eramos d'antes, não é verdade?
—Porque não, Mauricio… snr. Mauricio?
E Bertha, com um sorriso de generosa confiança, estendeu a pequena e delicada mão á que Mauricio lhe offerecia.
Este, com uma galanteria, que o seculo actual traz quasi esquecida, levou-a cavalheirosamente aos labios, movimento que augmentou as côres nas faces de Bertha; depois, cortejando-a com perfeita elegancia, partiu a galope.
Bertha seguiu-o por muito tempo com os olhos e ficou pensativa, depois que o perdeu de vista.
Thomé, que notára tudo isto, não deixou passar muito tempo que não admoestasse a filha.
—Olha cá, Bertha, tem cautela com o teu coração, que não vá elle por ahi deixar-se prender. Eu não sei como é costume viver-se hoje lá na cidade, mas aqui sei