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|obra=[[Til]]
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Quis Berta, para livrar o pobre rapaz dos bolos e repelões do mestre, ensinar-lhe todas as manhãs a lição; e nesse desígnio preparou-lhe uma carta. Continuaram as cenas da escola; e repetiram-se as visagens e gaifonas à vista do til; porém desta vez em maior escala, pela liberdade em que estava o parvalhão do rapaz. No seu afã de imitar o sinal, que tanto lhe dera no goto, virava cambalhotas e corcoveava pela grama.
Trabalhava a enjeitadinha com toda a meiguice para aplicar às letras o boto engenho daquele órfão, ainda mais que ela desamparado da fortuna. Vão esforço, em que, não obstante, porfiava com uma perseverança incrível naqueles tenros anos, e em tão humilde condição.
De seu lado também não descoroçoava o Domingão de meter o abecê nos cascos do Brás, ainda que para isso fosse necessário abri-los de meio a meio:
Afinal teve Berta uma inspiração. Desenganada de obter que o menino pronunciasse ao menos o a, deixou-o lançar-se aos costumados esgares e gambitos. Observando então o pobre sandeu com
Nisso o Brás pulando como um boneco de engonço, passava a ponta do dedo mui de leve pelas sobrancelhas negras de Berta, por seus lábios finos, pela conchinha mimosa da orelha; e, apontando alternadamente para o til na carta do abecê, repinicava as risadas e os corcovos.
Iluminou-se de súbito o coração de Berta. A impressão
A camada profunda que soterrava o espírito
Ninguém sabe o que passou então no íntimo de Berta, que tinha suas venetas, e de quem se referiam casos que a gente velha do lugar, e especialmente as pretas da fazenda, atribuíam a uma influência misteriosa e sobrenatural.
Associando-se
Esteve Brás um instante pasmo e boquiaberto, sem compreender, apesar da ânsia com que labutava o seu obtuso engenho. Até que afinal bateu palmas de contente, e deitou a pular, regougando a sua parva risada.
Daí em diante aquele sinal, que para o idiota era o símbolo
Dias depois, chamando-a ele pelo nome, a menina respondeu-lhe:
Forcejou o infeliz para articular o monossílabo; mas só a custo, e ajudado por Berta, o conseguiu. Causou-lhe isso tão intenso prazer, que a todo o instante proferia o nome, e amiudando-o trinava com ele, a modo dos pássaros, quando em seu crebro gorjeio repicam a mesma nota.
Assim
Um dia, Brás com violento esforço e após funda concentração, arrancou dos beiços grossos e flácidos estas palavras truncadas:
Sorriu-se Berta, e agradeceu-lhe com um carinho.
Com um repente, mostrou-lhe Berta a carta, pondo o dedo sobre o a
Arreganhou-se a estólida cara do idiota na terrível catadura de um sabujo
Como se esperasse justamente esse momento culminante do acesso, chamou Berta o idiota para junto de si, com um aceno; e bastou-lhe pousar a mãozinha afilada sobre o ombro para aplacar-lhe a exacerbação.
Estas palavras, disse-as a menina mostrando com a unha rosada o b, e repassando-as de uma voz tão doce, que derramou na alma ulcerada do mísero um ignoto consolo. Voltou ele para Berta os olhos baços, que iluminaram-se com um reflexo vítreo.
Compreendeu Berta a muda interrogação, e a satisfez.
Caiu Brás em um novo acesso, porém este de alegria, que chegava ao delírio. Atirando-se ao chão, estrebuchou de prazer, soltando gritos descompassados e risos sibilantes, que mais pareciam guinchos de um animal bravio.
Assim em torno dela, que era o til, Berta foi engenhosamente agrupando todas as letras do alfabeto, com os nomes das pessoas e objetos que a cercavam. Pondo em jogo as broncas paixões do idiota, e colhendo os rudes germes de
Ao cabo de um mês, conhecia Brás todo o abecedário. Que inauditos esforços de paciência, que sublimes intuições não foram necessárias para vencer esse impossível!
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Só Berta o poderia conseguir. A fascinação que exercia sobre o idiota era uma sorte de encanto e magia. Sua vontade movia aquele corpo, como se fosse o espírito que o animava. Brás sentia e pensava unicamente pela alma dela, que lhe transmitia as impressões no olhar carinhoso, na voz suave, no sorriso fagueiro.
Dir-se-ia que se tinha operado a misteriosa transfusão d
[[Categoria:Til|Primeiro Volume, Capítulo 26]]
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