A Rã e o Boi
Tomavam sol á beira dum brejo uma rã e uma saracura. Nisto chegou um boi, que vinha para o bebedouro.
— Quer ver, disse a rã, como fico do tamanho deste animal ?
— Impossivel, rãzinha. Cada qual como Deus o fez.
— Pois olhe lá! retorquiu a rã estufando-se toda. Não estou "quasi" igual a ele?
— Capaz!Falta muito, amiga.
A rã estufou-se mais um bocado.
— E agora?
— Longe ainda!...
A rã fez novo esforço.
— E agora?
— Que esperança!...
A rã, concentrando todas as forças, enguliu mais ar e foi se estufando, estufando, até que, plaf! rebentou como um balãozinho de elastico.
O boi, que tinha acabado de beber, lançou um olhar de filosofo sobre a rã moribunda e disse:
— Quem nasce para dez réis não chega a vintem.
— Não concordo! berrou Emilia. Eu nasci boneca de pano, muda e feia, e hoje sou até ex-marquesa. Subi muito. Cheguei a muito mais que vintem. Cheguei a tostão...
— Isso não impede que a fabula esteja certa, Emilia, porque os fabulistas escrevem as fabulas para as creaturas humanas e não para as creaturas inhumanas como você. . Você é "gentinha", não é bem gente.
Emilia fez um muxoxo de pouco caso.
— E "passo" isso de ser gente humana! Maior sengracismo não conheço...
— Cuidado, Emilia! disse Narizinho.De repente você estufa demais e acontece como no caso da rã...E sabe o que sai de dentro de você, se arrebentar?
— Estrelas! berrou Emilia.
— Sai um chuveiro de asneirinhas...
Emilia pôs-lhe a lingua.
Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.
Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.