O Macaco e o Gato
Simão, o macaco, e Bichano, o gato, moram juntos na mesma casa. E pintam o sete. Um furta coisas, remexe gavetas, esconde tesourinhas, atormenta o papagaio; outro arranha os tapetes, esfiapa as almofadas e bebe o leite das crianças.
Mas, apesar de amigos e socios, o macaco sabe agir com tal maromba que é quem sai ganhando sempre.
Foi assim no caso das castanhas.
A cozinheira pusera a assar nas brazas umas castanhas e fôra á horta colher temperos. Vendo a cozinha vazia, os dois malandros se aproximaram. Disse o macaco:
— Amigo Bichano, você, que tem uma pata jeitosa, tire as castanhas do fogo.
O gato não se fez insistir e com muita arte começou a tirar as castanhas.
— Pronto, uma...
— Agora aquela de lá... Isso. Agora aquela gorducha... Isso. E mais a da esquerda, que estalou...
O gato as tirava, mas quem as comia, gulosamente, piscando o olho, era o macaco...
De repente, eis que surge a cozinheira, furiosa, de vara na mão.
— Espere aí, diabada!...
Os dois gatunos sumiram-se aos pinotes.
— Boa peça, hein? disse o macaco lá longe.
O gato suspirou:
— Para você, que comeu as castanhas. Para mim foi pessima, pois arrisquei o pêlo e fiquei em jejum, sem saber que gosto tem uma castanha assada...
O bom bocado não é para quem o faz, é para quem o come.
— Quem é bobo, peça a Deus que o mate e ao diabo que o carregue, comentou Emilia.
O visconde vinha entrando. Ouviu a discussão e disse:
— Aqui está um que nunca jamais teve o gosto de comer o bom bocado. Quando chega a vez dele, aparece sempre alguem que o logra.
Todos compreenderam a indireta...
Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.
Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.