O Intrujão
Um celebre patarata propalou pela cidade que era possivel ensinar a lêr aos burros. O rei soube do fato e o fez vir á sua presença.
— E’ verdade o que dizem por aí?
— Que é possivel ensinar a lêr a um burro? Perfeitamente, majestade. Comprometo-me a, em dez anos, transformar o mais burro dos burros num perfeito gramatico.
— E que é preciso para isso?
— Em primeiro lugar, um burro. Em segundo lugar, outro burro... perdão! uma pessoa que me garanta casa e comida pelo espaço de dez anos.
— Pois dou-te o burro e o mais, disse o rei. Se, porém, ao fim desse prazo não me apresentares o burro lendo e escrevendo corretamente, ai de ti!...
O charlatão saiu do palacio esfregando as mãos de contente. E como seus amigos, assustados, viessem criticar-lhe o absurdo daquele negocio e o fim desastroso que ele, charlatão, fatalmente teria, o nosso homem piscou velhacamente o olho, dizendo:
— Que ingenuos são vocês! Em dez anos, o rei, eu ou o burro, um de nós tres não existe mais. E assim, de qualquer maneira sairei ganhando. E’ ou não é?
— Todos concordaram que era...
— Gostei! berrou Emilia. Esse é dos meus. Fez um bom negocio e provou que o verdadeiro burro era Sua Majestade.
— Mas se se passassem os dez anos e nenhum dos tres morresse? perguntou Pedrinho.
— Ah, ele não se apertava! Quando faltasse um dia para inteirar os dez anos, dava um veneno ao burro e pronto! Ficava um burro só na historia: Sua Majestade Burrissimo I...
Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.
Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.