A Malicia da Raposa

O leão convidou a bicharia inteira para uma festa em seu palacio. O primeiro a aparecer foi o urso. Vendo a caverna cheia de ossos de caça, tresandante a carniça, tapou o nariz.

O leão, furioso, atirou-se a ele.

— Patife! Entrar em meu palacio de mão no nariz!...

E matou-o.

Logo em seguida aparece o macaco. Sente o mau cheiro, vê o urso por terra, compreende tudo e diz:

— Que formoso palacio! Quanto asseio reina aqui! E como é perfumado o ar! Parece-me que estou num jardim maravilhoso, florido de lindas rosas!...

O leão, enfureceu-se de novo.

— Estás caçoando, maroto? Estás brincando com o teu rei? Pois toma lá... e matou-o com um tabefe.

O terceiro convidado a vir foi a raposa. Como é espertissima, ao vêr o urso e o macaco mortos percebeu que na casa dos reis não é de bom aviso ser sincero demais, nem lisonjeiro fora de conta. E preparou uma escapatoria.

— Então, exclamou o rei, que achas do meu palacio?

— Para falar a verdade, disse a raposa, não posso dar opinião. Venho da luz do sol e pouco estou enxergando aqui dentro...

— E o cheiro?

— Tambem não posso ajuizar, porque estou sem nariz — endefluxadissima...

E nada lhe aconteceu.



— Gostei, gostei! exclamou a menina. Está aqui uma das fabulas mais jeitosas. Desta vez a raposa merece um doce. Venceu a força do leão com a esperteza duma resposta muito certa. Eu tambem perco o nariz quando apanho um resfriado.




Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.


Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.