O Imitador dos Animais

Pedro Pereira Pedrosa tinha uma habilidade rara: imitava na perfeição a voz dos animais. O coin-coin do porco, o au-au do cachorro, o do carneiro, o relincho do burrico, tudo ele reproduzia de modo a enganar todo mundo.

— E’ tal e qual! diziam os ouvintes maravilhados.

Um dia apareceu na cidade um homem se propondo a derrotar o imitador.

— Vamos os dois imitar em publico a voz dum porquinho; e se eu não ganhar a partida; cortem-me a cabeça!

Chega o dia. Enche-se o teatro. Pedro aparece confiante na vitoria e imita leitão novo de modo a entusiasmar o publico.

— O outro, agora! O outro!... berra a assistencia.

Apareceu o outro, embrulhado num capotão. Preparou-se, remexeu-se e, de repente:

Coin! Coin! Coin!...

Vaia estrondosa.

— Fóra! Fóra! Pedro ganhou! Pedro imita melhor! Fóra!...

O sujeito abriu o capote e suspendeu pelas orelhas um leitãozinho que trazia oculto.

— Vaiai, senhores, vaiai o verdadeiro autor dos coinchos, pois foi este porquinho quem berrou e não eu...

Os espectadores entreolharam-se encafifadissimos.


Mais vale cair em graça do que ser engraçado.


— Apoiadissimo! exclamou o visconde. Mais vale cair em graça do que ser engraçado. Eu, por exemplo, tenho sido bem engraçadinho em varias ocasiões — mas quem cai em graça é sempre outra pessoa...




Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.


Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.