
A onça, ao voltar da caça, com uma veadinha nos dentes, encontrou a sua tóca vazia.
Desesperada, esguelou-se em urros que enchiam de espanto a floresta. Assustada com aquillo uma anta veio indagar o que era.
— Mataram-me as filhas! gemeu a onça. Infames caçadores commetteram o maior dos crimes: mataram-me as filhas!...
E de novo urrou, desesperadamente, espojando-se na terra e arranhando-se com as unhas.
Diz a anta:
— Não vejo motivo para tamanho barulho!... Fizeram-te uma vez o que fazes todos os dias. Não andas sempre a comer os filhos dos outros? Inda agora não mataste a filha da veada?
A onça arregalou os olhos, como que espantada da estupidez da anta.
— O' grosseira creatura! Então queres comparar os filhos dos outros com os meus? E equiparar a minha dôr á dôr dos outros?
Um macaco que do alto do seu galho assistia á scena metteu o bedelho na conversa.
— Amiga onça, é sempre assim. Pimenta na bocca dos outros não arde...


Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.

