O pavão, de roda aberta em forma de leque, dizia com desprezo, ao côrvo:
— Repara como sou bello! Que cauda, hein? Que côres, que plumagem maravilhosa! Sou das aves a mais formosa e amais perfeita, não?
— Fóra de duvida que és um bello bicho, disse o côrvo. Mas, perfeito, alto lá!
— Quem quer criticar-me! Um avejão negro, caxingó, capenga, desengraçado e, além disso, ave de mau agouro!... Que falhas vês em mim, ó tição empennado?
Respondeu o córvo:
— Noto que a natureza, para refrear teu orgulho, deu-te um par de patas que, faça-me o favor, envergonhariam até a um pobre diabo da minha marca!...
O pavão, que nunca tinha reparado nos proprios pés, abaixou-se e contemplou-os longamente. E, desapontado, foi andando o seu caminho, sem replicar coisa nenhuma.
Tinha razão o côrvo: não ha belleza sem senão.
Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.
Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.