A noute caira triste.
D. Luzia tendo tomado um narcotico dormiu ; e descançava tendo juncto do leito a Joaquininha que velava sobre o travesseiro materno banhando-o de lagrimas.
Frederico no escriptorio endereçava uma carta ao delegado de policia pedindo-lhe que fizesse o Daniel seguir com os outros presos condemnados para Ouro Preto.
Fantina meio fóra de si, saltou sobre todos os temores e chegou ao escriptorio. Uma pallidez larga cobria o seu semblante formoso, producto do crusamento de duas raças. Frederico ao ve-la levantou-se e disse :
— Estou acabando uma carta que manda embora o Daniel ; está nas mãos de vossê dar-lhe a vida e a liberdade, porque elle vae ser enforcado como auctor do crime.
Fantina cahiu-lhe aos pés soluçando.
— Senhor, salvae o infeliz que é odiado só porque me ama ! Eu sou uma escrava, mas tenho um coração puro.
Frederico ria.
— Não, Fantina, isso é tolice. Si você fiser o que eu quero, amanhã estará casada com elle. Abandona essas idéas : Daniel só quer Fantina. De qualquer fórma elle aceita.
A mulatinha de joélhos ficara muda.
A dôr que invadiu-lhe a alma era tão grande, que varreu-lhe as idéas do cérebro, como o vento varre as folhas seccas de uma planicie.
— Deixa, Fantina, e amanhã você será d'elle.
E com um movimento rapido pegou-lhe pela cintura, Fantina já meio desmaiada só poude deixar escapar dos labios semi-mortos a palavra—Jesus !
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