XVIII

A Beleza


De um sonho escultural tenho a beleza rara,
E o meu seio, — jardim onde cultivo a dor,
Faz despertar no Poeta um vivo e intenso amor,
Com a eterna mudez do mármor de Carrara.

Sou esfinge subtil no Azul a dominar,
Da brancura do cisne e como a neve fria;
Detesto o movimento, e estremeço a harmonia;
Nunca soube o que é rir, nem sei o que é chorar.

O Poeta, se me vê nas atitudes fátuas
Que pareço copiar das mais nobres estátuas,
Consome noite e dia em estudos ingentes...

Tenho, p’ra fascinar o meu dócil amante,
Espelhos de cristal, que tornam deslumbrante
A própria imperfeição: — os meus olhos ardentes!