VIII
A Musa Venal
Musa do meu amor, ó principesca amante,
Quando o inverno chegar, com seus ventos irados,
Pelos longos serões, de frio tiritante,
Com que has de acalentar os pèsitos gelados?
Tencionas aquecer o cólo deslumbrante
Com os raios de luz pelos vidros filtrados?
Tendo a casa vasia e a bolsa agonizante,
O ouro vaes roubar aos céus iluminados?
Precisas, para obter o triste pão diário,
Fazer de sacristão e de turibulário,
Entoar um Te-Deum, sem crença nem fervor,
Ou, como um saltimbanco esfomeado, mostrar
As tuas perfeições, através d’um olhar
Onde ocultas, a rir, o natural pudor!