XXXVII

A Varanda


Mãe das recordações, rainha das amantes,
Ó todo o meu prazer I todos os meus cuidados
Não te lembram, saudosa, os dúlcidos instantes,
O carinhoso lar, os serões encantados,
Mãe das recordações, rainha das amantes?

A’s noites, ao calor do lume do fogão,
A’s tardes, na varanda, á brisa vaporosa,
Sentindo palpitar teu meigo coração,
Que palestras subtis! Que sonhos côr de rosa,
A’s noites, ao calor do lume do fogão!

Como é glorioso o sol nas tardes de calor!
Como o espaço é profundo e o coração potente!
Quando encostado a ti, meu peregrino amor,
Julgava respirar teu sangue redolente...
Como é glorioso o sol nas tardes de calor!

A noite, a pouco e pouco, ia cerrando o manto,
E os meus olhos, na treva, os teus descortinavam;
Do teu bafo a aspirar o venenoso encanto,
Nas minhas mãos, teus pés, a dormir, descansavam...
A noite, a pouco e pouco, ia cerrando o manto.

Sei a arte de evocar os momentos ditosos
Em que no teu regaço ia encontrar abrigo!
Pois como ressurjir os teus dons primorosos
A não ser no teu corpo e no teu peito amigo?!
Sei a arte de evocar os momentos ditosos!

Os protestos d’amor, os beijos perfumados,
Volverão outra vez das cinzas do outro mundo,
Como nascem de novo os soes avermelnados
Depois de os sepultar o negro mar profundo?
– Ó protestos d’amor, o beijos perfumados!