LXVIII

Os Gatos


Os loucos de paixão, e os sábios mais prudentes,
Teem um amor egual, quando sexagenários,
Por esses animaes de pupilas ardentes,
Á sua imitação: friorentos, sedentários.

Devotos da sciência, amigos dos mistérios,
Procuram o silêncio, a treva, a quietação;
Por certo, eram de Erébo os ginetes funéreos,
Se a orgulhosa altivez dobram á escravidão.

Sabem tomar, sonhando, os modos imponentes
De esfinges colossaes nas areias dormentes,
N’um profundo dormir, n’um sonho peregrino;

Os fecundantes rins geram chispas electricas,
E as pupilas a arder, em labaredas tetricas,
Teem brilhos de areal, fulgências de ouro fino!