LXVII
Tristeza da Lua
Com que indolência a Lua hoje no céu divaga!
Lembra gentil mulher, em perfumado leito,
Que, antes de repousar, blandiciosa, afaga
Com a mão distraída os contornos do peito.
Sobre o fofo divan das núvens transparentes,
Expira, a contemplar, n’um goso inegualado,
As fagueiras visões, níveas, opalescentes,
Que povôam o céu azul todo estrelado.
Se ás vezes do seu pranto uma lágrima escorre
Sobre a face da noite, e á terra chega viva,
Logo um piedoso poeta a lobriga e socorre;
E com desvelo e amor trata de a agasalhar,
Abrigando no peito a lágrima furtiva,
Onde não entra o Sol, que a faca evaporar!