XLI

Semper eadem


Perguntas a razão da tristeza que anima,
Como um revolto mar, meu peito combalido!
— Quando no coração se faz uma vindima,
Vivermos é um mal! O segredo é sabido:

É uma dor vulgar, nada misteriosa,
E, como o teu sorrir, toda a gente a conhece.
Não me interrogues, pois, risonha curiosa!
Embora a tua voz seja meiga, emudece!

Cala-te, ó ignorante! alma sempre aturdida!
Linda bôca infantil!... Como hei de amar a Vida,
Quando na Morte vejo o fim dos meus abrolhos?!

Deixa meu coração viver como encantado!
N’um sonho mergulhar no teu rosto adorado,
E extinguir-se, dormindo, a sombra dos teus olhos!