Galeria dos Brasileiros Ilustres/Barão da Vitória

A vida do bravo general José Joaquim Coelho é um desses tipos que honrando a pessoa a quem pertence, engrandece o país que o possui.

José Joaquim Coelho nasceu a 25 de setembro de 1797 na cidade de Lisboa, e deveu o ser a Joaquim José Coelho e D. Maria Teresa de Jesus.

Contando apenas 14 anos de idade veio ao Rio de Janeiro em lugar de um seu irmão mais moço, que era afilhado do chefe de esquadra Garção, a quem este havia chamado.

Quase três anos depois de residência nessa parte do solo americano que Portugal tanto se orgulhava possuir, aos 23 de abril de 1814, sentou praça de soldado no 1º Batalhão de Fuzileiros, e tão exemplar foi sua conduta militar que em 1817, três anos depois, marchou para Pernambuco como sargento ajudante do Batalhão de Granadeiros.

As lutas sanguinolentas de que foi vítima a bela província de Pernambuco em 1817, viram-no sempre corajoso acompanhar suas diferentes peripécias, e por tal forma que mereceu justos elogios do general Luís do Rego Barreto, governador de Pernambuco.

Adotando as mesmas idéias de liberdade que os filhos do país, ligou-se à causa da emancipação brasileira, contribuindo com a influência, que soube exercer sobre seus companheiros, para que se convertesse em realidade os primeiros sintomas de emancipação que na vila de Goiana, em Pernambuco, promoviam os patriotas daí.

É, sem dúvida alguma, essa fase de sua vida uma das pérolas da sua coroa de glória.

Os pernambucanos porém não se esqueceram do bravo companheiro auxiliar, e fizeram-no tenente ajudante, elevando-o a capitão pouco depois.

Mais tarde, quando o brigadeiro Madeira obstinava-se, na Bahia, em não querer reconhecer a emancipação do Brasil e provocava a luta com as armas em punho, os pernambucanos viram reconhecidos o bravo general acalmar os ânimos dissipando assim a tempestade que ameaçava o horizonte da província.

Já elevado ao posto de major graduado, deve-se-lhe em parte o mau êxito da revolta que em 1817 promoviam na província os partidários da célebre Federação do Equador.

Por decreto de 12 de outubro de 1825, foi elevado ao posto de major efetivo, e encarregado de organizar o Batalhão n- 17 de Caçadores sob seu comando: missão essa que cumpriu com perícia, sendo posteriormente removido como fiscal do Batalhão de Caçadores r£ 1, o qual era comandado pelo tenente-coronel Tomás António da Silveira.

Promovido ao posto de tenente-coronel por decreto de 5 de fevereiro de 1827, passou a comandar o Batalhão n- 17 de Caçadores, que havia organizado, e com o qual marchou para o Sul a fim de incorporar-se ao exército do Brasil que batia os revoltosos na Cisplatina.

Em 1832, quando o solo da bela e heróica província de Pernambuco se ensopava com o sangue de seus filhos, em vista da denominada guerra dos Cabanos, o governo imperial enviou-o pra ali e foram tão acertadas as suas medidas tanto no gabinete como no campo, que alcançou pôr fim a essa luta sanguinolenta

Nomeado comandante das armas de Pernambuco em 1832, exerceu esse alto cargo com bastante dignidade até o dia 4 de junho de 1835.

Em 6 de agosto de 1836 foi nomeado inspetor-geral da Guarda Nacional do Recife, e, cumulativamente, comandante do corpo de polícia da mesma cidade; cargos estes que exerceu até marchar em socorro da Bahia dezembro de 1837.

Muitos foram os relevantes serviços aí prestados à causa da ordem pelo distinto oficial; citaremos, entre outros, o ter salvado de um terrível incêndio a cidade de S. Salvador, na Bahia.

Tão reconhecidos lhe foram os baianos, que se dignaram brindá-lo com uma espada de ouro!

Em outubro de 1838 seguiu por ordem imperial para o Sul, a fim de comandar a 2r Brigada de Infantaria.

De volta dessa campanha, regressou de novo a Pernambuco, onde permaneceu, até que sua pessoa foi requisitada pelo presidente das Alagoas, para conter os revoltosos que impediam a transferência da capital.

Recompensado pelo governo imperial, com a promoção de brigadeiro por decreto de 2 de dezembro de 1839 foi nomeado pouco depois instrutor geral da Guarda Nacional do Recife, em 9 de janeiro de 1840 inspetor do recrutamento.

Foi por decreto de 10 de abril de 1841 nomeado presidente e comandante das armas do Ceará.

Sendo acusado por algumas folhas públicas de pequena importância, como cúmplice em um assassínio que se deu na cidade da Fortaleza durante a sua presidência, foi disso absolvido pela opinião pública, e condenados os seus gratuitos detratores!

O governo imperial, apreciando devidamente os seus bons serviços na presidência do Ceará, houve por bem condecorá-lo com a comenda da Ordem de S. Bento de Aviz, de cuja ordem já era cavaleiro desde 4 de setembro de 1839.

Os cearenses escolheram-no como seu representante e en-viaram-no ao Parlamento como deputado, onde prestou bastantes serviços especialmente nas comissões militares.

Voltando à província de Pernambuco, depois de dissolvidas as câmaras, foi nomeado uma terceira vez instrutor da Guarda Nacional do Recife, por portaria de 10 de fevereiro de 1845, e exonerado dessa comissão em novembro de 1847, foi nomeado comandante das armas da Bahia em 7 de março de 1848. E quando, nesse ano, o movimento armado de Pernambuco maiores embaraços causava à presidência do Sr. Pena, à requisição deste senhor ao seu colega da Bahia, Gonçalves Martins, foi o brigadeiro Coelho enviado em socorro da província que tanto amava, pôs-se à frente das forças legais que existiam na província, e acompanhando em todas suas circunstâncias as diversas fases dessa revolta que durou mais de 2 anos, deve-se-lhe ter poupado grande efusão de sangue de ambos os lados.

Não podemos deixar no olvido os feitos de bravura do brigadeiro Coelho nessa campanha; e para comprovarmos essa nossa asserção, citaremos o ataque do Recife, no dia 2 de fevereiro de 1849 em que bateu as forças revoltosas impelindo-as para fora da cidade, e o de 26 de janeiro de 1805 em que exterminou essa revolta.

Estes serviços foram recompensados com o posto de marechal-de-campo graduado, por decreto de 3 de março de 1859, e com as honras de dignitário da Ordem do Cruzeiro, da qual era oficial desde 1824.

Em abril de 1850 partiu para o comando das armas da Bahia para cujo cargo havia sido nomeado em janeiro desse ano. Removido do comando das armas da Bahia para o de Pernambuco por decreto de 3 de fevereiro de 1855, logo depois, em 14 de março desse ano, foi agraciado com a grã-cruz da Ordem de S. Bento de Aviz, tendo em 4 de setembro de 1852 a mercê de fidalgo cavaleiro da casa imperial.

Vindo a vagar um dos lugares de tenente-general, e tendo de ser substituído por um dos seus companheiros de armas em consequência de antiguidade, foi ele, seu imediato, elevado ao posto de tenente-general graduado por decreto de 2 de dezembro de 1856.

As suas graves enfermidades o obrigaram a recorrer ao governo imperial pedindo-lhe um ano de licença para tratar de sua saúde fora do Império, o que lhe foi concedido pela câmara legislativa, com todos os seus vencimentos, e partindo para a Europa foi rever o lugar de seu nascimento e alguns dos seus parentes.

Dando-se uma vaga no quadro dos tenentes-generais efetivos, outro não devia ser considerado senão o general Coelho, e foi agraciado no dia 2 de dezembro de 1858 nesse posto.

Querendo o monarca dar-lhe uma prova do quanto o apreciava, fê-lo barão da Vitória, por decreto de 14 de março de 1860.

Faleceu a 19 de junho de 1860. Era um militar distinto e um caráter sincero, por isso digno de figurar na galeria dos varões ilustres do Brasil.

Assim, pois o Sr. José Joaquim Coelho, sentando praça como simples soldado voluntário, pelos seus relevantes serviços e pela estima com que era tido em todo o Império, chegou a ocupar os mais cargos do país que o adotou, e a quem soube pagar tão cara paternidade.