Galeria dos Brasileiros Ilustres/Marquês de Caxias

Luís Alves de Lima e Silva, 1º Barão de Caxias, Conde e Marquês do mesmo título, nasceu a 25 de agosto de 1803, no arraial do Porto da Estrela, da província do Rio de Janeiro, e foi batizado na freguesia de Inhomirim, a que o mesmo arraial pertencia. É filho legítimo do falecido marechal-de-campo, senador do Império, Francisco de Lima e Silva, e de D. Maria Cândida de Oliveira Belo, também falecida.

Casou a 6 de janeiro de 1833 com D. Ana Luísa Carneiro Viana, atual marquesa de Caxias, dama honorária de Sua Majestade a Imperatriz, filha legítima do Conselheiro Paulo Fernandes Viana e de D. Luísa Rosa Carneiro da Costa, ambos falecidos.

Seu pai o destinou à mesma profissão das armas que abraçara, e a que se haviam dedicado todos os seus antepassados; pelo que, quando ele apenas contava cinco anos de idade, obteve assentar-lhe praça no 1º Regimento de Infantaria de linha da corte, a 22 de novembro de 1808, sendo comandante do dito regimento seu avô o Brigadeiro José Joaquim de Lima da Silva.

El-Rei o Sr. D. João VI (então príncipe regente) querendo agraciá-lo, em atenção aos serviços de seu pai e avô, mandou que se lhe contasse tempo de serviço desde o dia da praça, como foi declarado por Aviso Régio. Completando seus estudos preparatórios, dedicou-se ao do curso de sua arma na Real Academia Militar da Corte; e concluiu-o em 1819, sendo já alferes, havendo obtido aprovações plenas em todas as doutrinas do dito curso. Cedendo à louvável ambição de adquirir conhecimentos teóricos superiores aos especiais de sua arma, deu-se ao estudo do curso de engenharia na mesma academia; e quando só lhe faltavam dois anos para concluí-lo, tendo tido sempre aprovações plenas nos outros estudos, foi escolhido pelo Sr. D. Pedro I, em outubro de 1822, sendo então tenente, para o lugar de ajudante do Batalhão do Imperador, nessa ocasião organizado pelo mesmo Augusto Senhor com aquela denominação, e com o nobre destino de marchar para a província da Bahia, a fim de expedir dali as tropas lusitanas que, sob o comando do brigadeiro Inácio Luís Madeira de Melo, ousavam impugnar a realização da Independência do Brasil, que havia sido proclamada naquele mesmo ano. Nesse pleitear heróico de uma nação que sustentava o nome que havia escrito na lista das nações independentes, o tenente Luís Alves de Lima e Silva traçava pelo seu valor as primeiras letras do nome com que a história do seu país há de apresentá-lo à posteridade.

Depois da gloriosa luta da Independência, o jovem tenente do Batalhão do Imperador, em conseqüência da recomendação especial de seus chefes, e de seu general, teve a satisfação de ver seu nome na lista dos primeiros agraciados com a condecoração da Ordem Imperial do Cruzeiro, no grau de cavalheiro, na mesma ocasião da instituição desta Ordem. Sendo já capitão daquele batalhão, seguiu com ele para Mon-tevidéu (então capital província brasileira cisplatina) em junho de 1825, a fim de sustentar a integridade do Império ameaçada pela revolta do general D. Juan Antonio Lavaleja. Nessa porfiosa luta de perto de quatro anos, o capitão Luís Alves de Lima e Silva, na posição de major-de-bri-gada da coluna da vanguarda, sustentou a reputação que ganhara na guerra da Independência. Entrou em todos os recontros das forças do general Oribe com as imperiais que guarneciam a praça de Montevidéu, e dirigiu pessoalmente quase todas as surtidas destas forças contra as sitiantes. Dessas surtidas releva comemorar a em que o capitão Lima, à testa de uma companhia de caçadores, e de algumas guerrilhas a cavalo, assaltou um lanchão armado, e guarnecido por 50 homens do inimigo, que ocultando-se durante a noite no arroio do Pando, saía de dia a roubar as embarcações mercantes que das outras províncias do Império se dirigiam a Montevidéu. Para levar a efeito este arrojado lance, teve de atravessar com iminente risco a linha dos sitiantes da praça; mas ele fê-lo com tal sagacidade e fortuna, que não foi pressentido pelas forças do comando do general Oribe, debaixo de cuja proteção estava o lanchão, o qual foi tomado, e toda sua guarnição aprisionada. Este feito de bizarria, pequeno pela luta, mas grande pela arrojada concepção e execução de seu plano, e pela importância de suas conseqüências para os sitiados, pôs ao peito do Capitão Luís Alves de Lima, que o concebeu e executou, a comenda da Ordem Militar de S. Bento de Aviz. Estabelecida a paz com a Confederação Argentina, teve ele um prêmio de seus serviços a promoção ao posto de major. E, porque não houvesse vaga deste posto em nenhum dos corpos de 1º linha, aquela promoção teve lugar para o 1º Regimento da 2ª, ficando porém servindo no Batalhão do Imperador, a que pertencera, até abrir-se vaga neste, o que se deu dentro de poucos meses. Havendo sido por este tempo (1829) criada a Ordem da Rosa, o Major Lima mereceu a honra de ser incluído na lista dos primeiros agraciados com a dita ordem, no grau de cavalheiro. Aparecendo a quadra vertiginosa que produziu a revolução de 7 de abril de 1831, ele não se deixou dominar pelo espírito revolucionário que havia contaminado quase toda a tropa de guarnição à corte. Sem tomar nenhuma parte ativa nas peripécias daquele drama, esperou o desenlace, e as conseqüências dele, no posto de honra em que a força das circunstâncias o colocou pela dupla qualidade de cidadão e de soldado. Depois da abdicação do Sr. D. Pedro I, a tropa, cuja subordinação e disciplina haviam sido profundamente abaladas por doutrinas perniciosas levantadas pelo vórtice revolucionário, ameaçava a permanência da desordem, e o saque à cidade: então o major Luís Alves de Lima, reunindo alguns oficiais seus parentes e amigos, tomou com eles a louvável deliberação de empunharem a espingarda do soldado, e rondarem incessantemente as ruas comerciais da cidade, por serem as mais ameaçadas pela soldadesca desenfreada.

Esta reunião de oficiais regularizou-se, e constituiu-se no corpo que teve a denominação significativa e heróica de — Batalhão de Oficiais-soldados — Soldados voluntários da Pátria. — Deste batalhão foi o major Luís Alves de Lima escolhido 2º comandante por aclamação de seus briosos camaradas oficiais soldados, posto houvesse entre eles muitos de patente mais elevada.

Por esse tempo tratou-se da organização e instrução da Guarda Nacional; e o major Luís Alves de Lima foi nomeado seu in-strutor-geral, com a gratificação de 50$000 mensais, que ele cedeu a favor dos cofres públicos, pela delicada consideração de ser então seu pai um dos regentes do Império.

A dissolução da tropa de linha e da policial suscitou ao ministro da Justiça de então, Diogo Antônio Feijó, a idéia de organização de um corpo regular para a polícia da cidade, a que deu o nome de — Municipais Permanentes —; e estando nesse empenho, tendo já 123 homens distribuídos por duas companhias incompletas de infantaria, e meia de cavalaria, convidou o major Luís Alves de Lima para encarregar-se da organização e disciplina daquele corpo; e tendo ele aceitado tal comissão, no mesmo posto de major assumiu o comando do corpo, para o qual afluíram desde logo muitos dos melhores oficiais do Exército, e oficiais inferiores e soldados dos corpos dissolvidos, que ele escolheu dos de melhor conduta que conhecia.

Foi à testa desse corpo de homens escolhidos, único então incumbido da guarda efetiva do sossego público, que seu comandante o major Lima sufocou na Praça da Aclamação a revolta de 3 de abril de 1832, e em Mataporcos a de 17 do mesmo mês e ano, tomando aos revoltosos naquele dia uma peça de artilharia, e neste duas, e aprisionando grande parte deles.

Por estes tempos já lavrara com intensidade o incêndio da revolta na província do Rio Grande do Sul, ateado em 1835. Então o Gabinete de 19 de setembro de 1837 resolveu que um de seus membros fosse ao teatro das operações naquela província, investigar as causas do prolongamento de tão desastrosa guerra civil, e estudar os meios de pôr-lhe termo. O Conselheiro Sebastião do Rego Barros, que, como Ministro da Guerra, fazia parte daquele gabinete, foi o indicado para tal comissão; e o já então tenente-coronel Luís Alves de Lima foi nomeado para acompanhá-lo, a fim de coadjuvá-lo no que pudesse a bem do profícuo desempenho de tão importante comissão. Sem ser desligado do corpo de municipais permanentes, seguiu com aquele ministro para a dita província de Rio Grande do Sul, levando 200 homens das praças adidas ao corpo de seu comando, por ele engajadas para irem reforçar os desfalcados corpos de 1ª linha que se achavam naquela província. Nessa comissão, desempenhada a contendo do governo, soube o tenente-coronel Lima conquistar por tal modo as simpatias de seus camaradas do exército do Sul, que, depois de sua volta, muitas cartas para aqui dirigidas reclamaram o concurso de seus serviços ali; e até por parte do governo se fizeram instâncias para que ele voltasse ao Rio Grande.

O tenente-coronel Lima, porém, ponderou que, existindo empregados no exército do Sul dez ou doze oficiais-generais de alta patente, não lhe era lícito contar com a abnegação deles, para que se não ressentissem de o verem, com a patente de tenente-coronel, à testa da direção dos negócios da província, em tão melindrosa conjuntura; e que ressentimentos tais não podiam deixar de ser ominosos para o resultado dessa direção. Considerações semelhantes, por ele lealmente feitas ao então regente do Império, conselheiro Pedro de Araújo Lima, hoje Marquês de Olinda, demoveram-no dessa idéia.

Se tão ponderosas razões inibiam o tenente-coronel Lima de ir manifestar nas regiões do sul do Império o zelo que o caracterizava pela manutenção da paz pública e das instituições nacionais, elas não tiveram a mesma força para inibi-lo de o ir fazer nas regiões do Norte. O Maranhão se havia conflagrado, e os negócios ali tinham assumido um caráter assustador, depois que os revoltosos dessa província segunda vez se apossaram da cidade de Caxias, e que suas forças receberam incremento, pelo incremento de sua audácia não reprimida. Então o jovem comandante dos municipais permanentes, que havia sido promovido a coronel a 2 de dezembro de 1839, recebeu a Carta Imperial de 14 do mesmo mês e ano, nomeando-o presidente da referida província do Maranhão, e o encargo de comandar em chefe todas as forças que ali tinham de operar contra a revolta, ficando assim reunidas em uma só pessoa as duas autoridades.

O novo presidente partiu pois para seu destino levando grande número de oficiais de sua escolha para serem empregados na província. Esses oficiais, vendo no crescente prestígio do seu digno companheiro de armas um penhor de mais lisonjeiro futuro, voluntariamente se ofereceram para acompanhá-lo, e para partilharem dos perigos que o esperavam. Chegando a Maranhão, o Presidente achou a população, que se conservara fiel, sob a pressão do terror incutido pela fama das atrocidades praticadas pelos rebeldes, os quais em número de dez a doze mil se haviam assenhoreado de todo o centro e sul da província. A capital do Maranhão estava entrincheirada, a artilharia do forte de S. Luís encravada, e a mor parte da riqueza da província depositada a bordo das embarcações mercantes que estavam no porto.

O novo presidente, encarando como de necessidade primária restabelecer a confiança no povo, e a ordem na administração, mandou desencravar a artilharia do forte de S. Luís, e arrasar as fortificações que cercavam a cidade pelo lado de terra; providenciou eficazmente para fazer correr desassombrado o mecanismo administrativo; inspecionou os corpos que tinha de conduzir ao encontro dos rebeldes; cortou os abusos que encontrou na instrução, disciplina, e fornecimento destes, e restabeleceu a regularidade na arrecadação e na despesa dos dinheiros públicos.

Na perseguição dos rebeldes o Presidente reprovou e coibiu o sistema bárbaro, que antes seguiam as tropas legalistas, de vingar cruelmente com crueldades.

Segundo esse sistema atroz, ao prisioneiro rebelde não era permitido quartel. A crueldade para com seus companheiros encarniçava os rebeldes, e lhes infundia a coragem do desespero, preferindo morrer combatendo até a última, ao suplício que contavam como certo se caíssem no poder dos chefes legalistas.

As ordens terminantes do presidente comandante-em-chefe a tal respeito foram religiosamente executadas. A guerra desceu então das alturas de sua ferocidade, e por assim dizer humanizou-se. Os revoltosos, vendo à testa dos legalistas um homem que impunha às suas baionetas o extermínio dos recalcitrantes, e a proteção aos vencidos, começaram a depor as armas, e da rápida redução de suas forças foi conseqüência a extinção da revolta, e a paz da província. O coronel Luís Alves de Lima, tendo completamente desempenhado a árdua e nobre missão que lhe fora cometida, solicitou do governo imperial sua exoneração dos cargos de presidente e comandante das forças da província, e essa exoneração lhe foi concedida a 2 de abril de 1841. Os seus bons serviços prestados na pacificação da província tendo-lhe merecido a honra de ser nomeado veador das sereníssimas princesas imperiais a 2 de agosto de 1840, tiveram como complemento de remuneração o ser ele prometido ao posto de brigadeiro, e agraciado com o título de barão de Caxias, a 28 de julho de 1841. A própria província do Maranhão, querendo dar-lhe uma distinta demonstração de apreço pelo relevante serviço de havê-la arrancado da voragem da anarquia, elegeu-o unanimemente seu representante na Câmara dos Deputados. O novo brigadeiro estreou o seu generalato no comando das armas da corte, que o governo lhe confiou em 21 de março de 1842.

A Câmara dos Deputados de que era membro o brigadeiro barão de Caxias foi dissolvida em maio de 1842; e nesse mesmo mês arrebentou a revolta da província de S. Paulo, na cidade de Sorocaba. Aquele general foi logo escolhido pelo governo para reduzir ao grêmio da lei os paulistas. E, pois, recebeu em 18 de maio a missão de comandar em chefe as forças de operações na província de S. Paulo e a carta imperial de 1º vice-presidente da província. Em menos de 24 horas embarcou com destino à cidade de Santos, levando consigo apenas 400 recrutas que deviam servir de núcleo ao exército que foi autorizado a organizar com a Guarda Nacional da província, que foi posta à sua disposição. Chegado a Santos teve notícia de que os revoltados de Sorocaba, na força de mais de 2.000 homens, dirigiram-se sobre a capital da província, da qual estavam distantes apenas três marchas. Imediatamente o general abalou-se com a força de seu comando, e entrou na capital no mesmo dia em que os rebeldes deviam a ela chegar; e deixando aí um dos oficiais do seu estado-maior encarregado de preparar a cidade para defender-se de qualquer empresa dos rebeldes, partiu a encontrá-los, conduzindo dali duas peças de artilharia de pequeno calibre. Usando dos estratagemas da guerra, o general expediu ordens em todas as direções, indicando sua marcha, requisitando às autoridades locais rações para 2.000 homens, que realmente tinha, e dando outras providências que pudessem ocultar aos rebeldes a verdadeira força do exército de operações, suas linhas de marcha, e seu ponto objetivo. A indecisão dos revoltados sobre este objeto fez com que eles não avançassem sobre a cidade, capital, e parassem distante dela duas léguas pouco mais ou menos. O general então tomou posições, e de acordo com o presidente da província, Senador José da Costa Carvalho, hoje marquês de Monte Alegre, tratou de reunir com toda a urgência a Guarda Nacional, e fez cortar as duas pontes que estavam na direção das estradas pelas quais os rebeldes provavelmente deveriam seguir. Conseguindo reunir em poucos dias uma força respeitável, fez uma arrojada surtida sobre a cidade de Campinas, e passando à retaguarda dos rebeldes sem ser pressentido surpreendeu e derrotou no lugar da Venda Grande, nas proximidades daquela cidade, a força que das Limeiras marchava contra ela que até então se conservara fiel ao legítimo governo. Depois deste feito seguiu imediatamente a atacar as forças que tinha pela frente na direção da cidade de Sorocaba; e fazendo dispersá-las, mandou recolher todo o armamento que entregaram e o que deixaram pelas estradas e matos; e fez com que os indivíduos se retirassem para suas casas debaixo da salvaguarda da anistia que S. M. o Imperador lhes havia concedido.

Estando restabelecida a tranqüilidade pública por esse lado, seguiu o general com toda rapidez para o norte da província onde havia mais de mil rebeldes armados na cidade de Taubaté, e suas imediações; fê-los depor as armas, e marchou imediatamente para os limites da província com a de Minas Gerais. Quando dispunha as cousas para atacar os rebeldes que por aí também haviam aparecido, recebeu ordem do governo para voltar à corte, a fim de marchar para a província de Minas Gerais pela do Rio de Janeiro. Retrocedeu imediatamente e apresentou-se na corte a 23 de julho, deixando inteiramente pacificada a província de S. Paulo.

Aqui teve a distinta honra de receber o decreto, com data do mesmo dia de sua chegada, pelo qual S. M. o Imperador nomeava-o seu ajudante-de-campo, sendo o primeiro a quem essa honra foi conferida pelo mesmo augusto senhor. A 25 de julho, 40 horas depois de haver chegado de S. Paulo, o general barão de Caxias, que já havia recebido a nomeação de comandante-em-chefe das forças de operações da província de Minas Gerais, seguiu a grande marcha para esta província pela estrada do Rio Preto; e reunindo com toda prontidão as forças que existiam inativas em Barbacena, S. João del-Rei, Rio do Peixe, Pomba, etc., marchou com elas em socorro da capital da província, ameaçada pelos rebeldes, que em força de mais de 3.000 homens pretendiam assaltá-la. A marcha do general legalista foi operada com tanta rapidez e perícia que chegou com as forças de seu comando à cidade de Ouro Preto quando as dos rebeldes ainda estavam a uma légua de distância dela. O reforço que recebeu a capital fez os rebeldes desesperarem do êxito feliz do pretendido assalto, e pois burlados em sua tentativa, mudaram de plano, e seguiram imediatamente para Sabará, onde, postando-se na forte posição do arraial de Santa Luzia, esperaram ataque, que contavam como certo da parte das forças legalistas. O general barão de Caxias não se fez esperar por muito tempo. Abalou-se com as forças que comandava; e no dia 20 de agosto encontrou as dos rebeldes. Travou-se a peleja, que foi porfiosamente disputada por ambas as partes, mas afinal a completa derrota dos rebeldes, e o aprisionamento de todos os principais chefes da revolta, selaram a vitória dos legalistas, e a inteira pacificação da importante província de Minas. O general reti-rou-se para a corte; e no alto da serra encontrou um próprio, portador do decreto de 29 de agosto de 1842, pelo qual era ele promovido à graduação do posto de marechal-de-campo. A este decreto acompanhava uma confidencial do então ministro da Guerra, o falecido conselheiro José Clemente Pereira, noticiando-lhe que, apenas chegasse à corte, seguiria para a província do Rio Grande do Sul, onde a revolta já durava por espaço de sete anos.

Com efeito, chegando à corte a 22 de setembro, o general recebeu o decreto de 24, e carta imperial de 28 do mesmo mês, que o nomeavam comandante-em-chefe das forças que operavam na dita província do Rio Grande do Sul, e presidente da mesma província. As considerações que haviam sido apresentadas outrora ao regente Pedro de Araújo Lima tinham caído ao impulso do sopro da fortuna; o tenente-coronel Luís Alves de Lima e Silva de 1839 era o marechal-de-campo barão de Caxias de 1842!

Chegando o general à província do Rio Grande do Sul, e pondo-se à testa do mesmo exército, encetou as operações de guerra. Depois de dois anos e meio de assíduos trabalhos, e de repetidos recontros, os rebeldes depuseram as armas, restabeleceu-se a paz da província, e todos os rio-grandenses cordialmente se congraçaram. O governo imperial, que já em 11 de setembro de 1843 havia conferido ao general, pelos seus importantes serviços do Sul, a grã-cruz da Ordem de S. Bento de Aviz, elevou-o a 25 de março de 1845 a conde de Caxias, e pro-moveu-o na mesma data à efetividade do posto de marechal-de-campo em remuneração dos mais serviços que ali acabava de prestar. Os rio-grandenses, gratos ao general que lhes havia restituído a paz, de que estiveram privados por espaço de perto de dez anos, incluíram-no por quase unanimidade de votos na lista tríplice para senador pela sua província; e tiveram a satisfação de ver recair nele a escolha de S. M. o Imperador, feita por carta imperial de 1º de setembro de 1845.

Releva mencionar aqui que os paulistas não se esqueceram de mostrar sua gratidão ao general que levou a paz à sua heróica província. Estando este no Rio Grande do Sul recebeu em abril de 1844, a convite da Câmara Municipal da cidade de S. Paulo, e o competente diploma para ir tomar assento na Câmara dos Deputados como representante da província em lugar do desembargador Monteiro de Barros, que havia falecido.

A província do Rio de Janeiro também deu por esse mesmo tempo ao seu ilustre filho uma demonstração de seu apreço e confiança e pelos serviços que lhe havia prestado nas crises arriscadas por que passara, conferindo-lhe votos para representá-la na Câmara dos Deputados; e efetivamente convidou-o para tomar assento nesta Câmara na vaga que deixou por falecimento o cônego Januário da Cunha Barbosa. O general não pôde anuir a estes dois convites; inibia-o a árdua comissão em que se achava empenhado. Depois de um ano de pacificada a província, e achando-se sua administração no estado normal, o general conde de Caxias solicitou do governo imperial exoneração dos cargos que ali exercia; e esta exoneração lhe foi concedida por decretos de 8 e 9 de outubro de 1846; sendo nesses decretos louvados os bons e importantes serviços que ele presta na província, promovendo e conseguindo a inteira e completa pacificação dela. Recolhido à corte o general tomou assento no Senado, e continuou no exercício de comandante das armas, lugar que sempre lhe foi conservado, por isso que não foi efetivamente provido enquanto ele desempenhou outras comissões, e do qual só foi exonerado a 21 de setembro de 1849, a pedido seu.

As relações internacionais do Império com as repúblicas ribeirinhas do Prata trouxeram a necessidade da organização de um exército na província do Rio Grande do Sul, a fim de operar contra as forças que, ao comando do general Oribe, sitiavam Montevidéu, e contra o general Rosas, governador de Buenos Aires, e chefe da Confederação Argentina.

O governo imperial resolveu fazer escolha do indigitado pela opinião pública; e por carta imperial de 15 de junho de 1851, e decreto de 16 do mesmo mês, foi o general conde de Caxias pela segunda vez nomeado presidente da província do Rio Grande do Sul, e comandante-em-chefe do exército que ali se devia organizar.

À frente de 20.000 homens das três armas o general penetrou no território da República do Uruguai; e de combinação com os generais Urquiza e Garson, manobrou por tal maneira que o general Oribe, vendo-se, por assim dizer, cercado, depôs as armas, assinando uma capitulação com o general Urquiza. Continuando-se as operações contra o governador Rosas, o general Urquiza, com as forças de seu comando, e uma divisão de 4.000 homens do exército brasileiro, passou o Paraná, invadiu o território da Confederação, encontrou o exército de Rosas a 3 de fevereiro de 1852 sobre o Arroio Moron, caiu sobre ele, e derrotou-o, seguindo-se a essa derrota a fuga de Rosas para fora do país.

Concluída a missão que as forças aliadas tinham por objeto, o exército brasileiro regressou para o território do Império; e aí o general conde de Caxias recebeu do governo por galardão de seus serviços a promoção ao posto de tenente-general em 3 de março de 1852, e a elevação a marquês de Caxias em 26 de junho do dito ano. Chegando à corte foi exonerado dos dois cargos que exercia por decretos de 21 e 22 de julho seguinte.

Depois desta última importante comissão de guerra que o general marquês de Caxias teve de desempenhar, esteve ele três anos no simples exercício de suas funções parlamentares, como senador do Império. A alta administração do país, porém, exigiu dele mais uma prova de dedicação; e o general nunca teve uma negativa para responder a tais exigências, mesmo quando elas importavam sacrifícios. Em junho de 1855 tratava-se de reorganizar o gabinete presidido pelo finado marquês de Paraná, e o general entrou para os Conselhos da Coroa com a pasta da Guerra, por decreto de 14 do dito mês de junho. O Exército recebeu com lisonjeiro entusiasmo a ascensão de seu general ao alto cargo de seu ministro; a imprensa recebeu-a com esperanças fundadas nos precedentes, na dedicação e no patriotismo do general; e o corpo legislativo rece-beu-a com não equívocas demonstrações da mais alta confiança que deve inspirar o militar, cuja espada esteve sempre pesando na balança da integridade das instituições, da honra e da dignidade do país. O general marquês de Caxias começou sua campanha administrativa com a mesma energia, a mesma atividade e a mesma boa vontade com que desempenhara suas arriscadas tarefas de guerra. Tratou portanto de providenciar logo de conformidade com seu conhecimento prático das necessidades vitais da repartição da Guerra, de fortalecer a disciplina do Exército; de firmar princípios para melhor administração dos dinheiros recebidos e consumidos pelos conselhos econômicos dos corpos; de melhorar a sorte da oficialidade, pelo razoável e indispensável aumento de algumas das vantagens que ela percebia; de criar um centro administrativo do pessoal do Exército responsável pela unidade e regularidade de sua disciplina e instrução; e enfim deu todas essas providências que com lealdade e franqueza expôs ao Corpo Legislativo nos relatórios que lhe apresentou nas sessões de 1856 e 1857.

Nesses trabalhos veio surpreendê-lo a sentida morte do seu íntimo e dedicado amigo o marquês de Paraná, no dia 3 de setembro de 1856, e por decreto desse mesmo dia S. M. o Imperador houve por bem honrá-lo com a presidência do Conselho de Ministros, continuando na pasta da Guerra, cargos que exerceu até 4 de maio de 1857, em que solicitou e obteve exoneração deles, com todos os membros do Ministério a que presidia.

O general marquês de Caxias, além da geral simpatia que havia adquirido no Exército, recebeu do mesmo Exército durante o seu ministério, e tem recebido depois deste, mui lisonjeiras provas daquela simpatia; e cordiais manifestações de agradecimento pelo modo por que sempre pugnou pelos seus essenciais melhoramentos.