Desde remotas eras é costume entre os que muito lidavam, entre os que muito empreenderam, festejar, no fim da luta, quando termina a empresa, a alegria ou o repouso de um dia, em compensação de meses ou anos de cuidados e fadigas. Nesse dia saudoso, rápido como são as horas mais ditosas da vida, o desafogo do coração é um bem-estar delicioso, o sossego do espírito com um devaneio doce, cheio de encantos.

Deve sentir assim o peregrino que, após longa viagem, trepa ao píncaro de um monte e de lá, assentado à fresca sombra do arvoredo, mede sorrindo o caminho que já aquém lhe fica. Ao voltar à pátria amada, deve sentir assim o nauta que, longe dela, tantas vezes viu acordar e adormecer o dia sobre o buliçoso leito das ondas do oceano. Nas próprias horas de lida, Senhor, há entretanto, quer para o que percorre a terra, quer para o que atravessa os mares, momentos de consoladora esperança: no rigor das estações, a linfa clara que corta o deserto renova as forças do primeiro, no meio das tempestades a estrela trêmula que incendeia o azul do céu promete ao segundo serena bonança, propícia aragem.

Senhor, também o artista que alguma idéia levanta à sombra protetora do Vosso trono tem dessas horas, tem dessas consolações que lhe dão nova fé, nova coragem na ocasião dos trabalhos; o amor de Vossa Majestade às artes, às empresas úteis é para o artista o que é a gota cristalina do regato para o lábio seco do peregrino: a força; e Vós, Senhor, sois para ele o que é para o navegante o astro brilhante engastado nos plúmbeos folhos do horizonte: a esperança.

Por isso, Senhor, o artista que tanto amparo deve à Vossa mão augusta entrega o seu coração às efusões mais gostosas, ao prazer mais fundo, à gratidão mais sincera, vendo realizada a sua idéia, terminada a sua obra depois de quatro anos de dedicação e perseverança. Tão puro como o incenso queimado em aras sagradas, possa o seu cântico de reconhecimento subir os degraus do trono imperial e aos pés de Vossa Majestade desatar-se em perenes harmonias, em consonâncias que exprimam os respeitosos e estremecidos votos do artista pela ventura do alto protetor das artes, do sábio monarca brasileiro.

Mas se é dado, Senhor, àquele que tanto recebeu, desejar mais, pedir ainda, digne-se Vossa Majestade conceder que o augusto nome do protetor seja nesta coleção de retratos e biografias de seus leais servidores o símbolo do seu valor, e ao mesmo tempo como a prova evidente do quanto, Senhor, amais os vossos e animastes o artista. Diante dessa página de honra, o coração de meus irmãos na arte palpitará contente; porque eles que vos prezam, Senhor, compreenderão que no dia em que descanso, em que como o nauta esqueço os embaraços da viagem, em que como o viajor calculo o caminho andado, Vossa mão benfeitora se estendeu de novo ao artista, e sobre a sua obra, sobre a sua filha depôs, como prêmio, uma jóia valiosa: o vosso augusto nome, Senhor!

E é de justiça, Senhor, que o que está escrito tão profundamente no coração do empresário apareça no seu livro, venha a lume no fruto de sua empresa. Eis, Senhor, o que ainda implora de vossa imperial benevolência, eis o que ainda espera.

O mais grato de vossos devedores

S. A. Sisson