Grammatica Analytica da Lingua Portugueza/I/6
Os grammaticos tem multiplicado as classificações dos sons elementares das linguas e das letras que os representão. Ignorando o verdadeiro mechanismo da voz humana, que ainda hoje não está bem conhecido, fizerão divisões mais ou menos inexactas, humas fundadas nos orgãos vocaes que contribuem a formar os sons, outras na propriedade que cada som tem de se ligar mais ou menos facilmente a outros. D’aqui nasceo a divisão em letras labiaes, dentaes, palataes, puras ou compostas d’estes elementos, e dos sons sibilante, chiante, tremolante e nasal. Tambem se distinguirão as letras em mudas e semivogaes, em liquidas e fixas, sem que d’essas denominações resulte utilidade real para a recta pronunciação ou orthographia.
O caracter das vogaes he serem susceptiveis de se prolongarem, e de se poderem modular ou cantar, propriedades que resultão de serem sons produzidos pela diversa abertura da boca, e força da emissão do ar expirado. Algumas vogaes requerem para se pronunciarem, certa posição dos beiços, como o u francez. Dos sons consoantes, ou, como outros melhor lhe chamão, articulações ou sons articulados, huns podem prolongar-se, outros não ; mas nenhum se pode cantar ou modular. Esta he a verdadeira distincção entre as vogaes e as consoantes. Das consoantes prolongaveis humas são mais fortes que as outras, e a substituição reciproca d’ellas he huma das causas da diversidade de pronuncia nos differentes dialectos da mesma lingua.