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CAPITULO 1.º

ORGANISAÇÃO DAS PLANTAS.

5.º Todos os seres que vivem, isto é os seres animaes e vegetaes, tem orgãos e exercem funcções - as funcções são aquelles actos pelos quaes a vida se manifesta e se executa; assim a absorpção das raizes, a respiração das folhas, e a fecundação das flores são outras tantas funcções ou actos vitaes das plantas - os orgãos são partes dos seres vivos, que servem de instrumento ao exercicio das funcções: assim as raizes, as folhas, e as flores são os instrumentos da absorpção, da respiração, e da fecundação.

6.º Como os orgãos são uma condicção essencial dos seres vivos, foram estes por esta razão chamados organicos ou organizados; e deu-se pela razão opposta o nome de de inorganicos ou de inorganizados aos seres destituidos de vida, que nunca tem orgãos: de modo que os vegetaes e os animaes são seres organizados, e os mineraes inorganizados.

7.º Como a vida das plantas se compõe de duas grandes ordens de funcções, a nutrição e a reproducção, dividiram-se tambem os seus orgãos em duas grandes classes - orgãos nutritivos, e orgãos reproductores.

8.º Tanto uns como outros destes orgãos são formados de tecidos elementares, e então antes de descrevermos aquelles, convem que demos uma succinta idéa destes.

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Orgãos elementares das plantas.

9.º Os tecidos elementares ou geradores dos orgãos das plantas unem-se e entretecem-se uns com outros para formar a sua contextura. Estes tecidos não se observam bem com a vista desarmada; mas por meio de uma lente um pouco forte, chegam-se a distinguir perfeitamente.

10.º Estes tecidos são de tres especies o cellular, o fibrozo, e o vascular. O primeiro é um aggregado de pequenas vesiculas ou bolças de formas variadas, a que se dá o nome de utriculos. Os numerosos e pequeninos corpos que em forma de sacos se acham dentro da membrana, que reveste exteriormente os gomos da laranja são outros tantos utriculos. O segundo ou o fibroso, é um aggregado de tubos curtos terminados em ponta nas suas duas extremidades. As fibras que se destacam sem grande difficuldade da casca, ou do tronco de muitas arvores, ou aquellas que obtemos do linho depois de preparado, são um resultado da reunião dos tubos, que constituem o tecido fibroso. O terceiro ou o vascular, é uma reunião de tubos mais longos, ou vasos, mais ou menos similhantes aos dos animaes, dispersos ou reunidos em feixes; e que muitas vezes se ramificam de modo que formam uma especie de rede - Os buraquinhos ou orificios redondos, que observamos n'uma lamina delgada proveniente do corte transversal do tronco de um pecegueiro, ou de uma acacia, são resultado dos vasos cortados do tronco destas plantas.

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11.º Estas tres castas de tecidos podem observar-se muito bem nas folhas das plantas. Se nós collocarmos contra a luz uma folha da videira, por exemplo, notaremos um grande numero de linhas muito salientes, principalmente na face inferior da folha; estas linhas nascem todas da baze ou pé da folha, e vão-se successivamente ramificando, de modo que vem a formar por fim uma rede de raias brancas, cujas pequenas malhas apparecem cheias de um tecido de côr verde mais carregado do que o das mesmas linhas. Ora esta observação, que é muito facil de fazer, nos dará idéa dos tecidos elementares das plantas; por quanto as linhas, que ramificando-se formam o esqueleto da folha, são formadas pelos tubos e vasos, que constituem o tecido fibroso e vascular; e a substancia verde, que enche as malhas é formada pelas bolças ou vesiculas, que constituem o tecido cellular, a que tambem se dá o nome de utricular.

12.º A sciencia ensina que estas tres especies de tecidos geradores, a que tambem chamamos elementos anatomicos, não são mais do que modificações de um unico tecido - o tecido cellular. Este tecido é por isso considerado como o orgão elementar das plantas, e como a base da sua organisação. E' a origem e o ponto de partida dos outros tecidos, e podemos dizer que elle é para a textura dos vegetaes o mesmo que a fórma primitiva é para a textura dos mineraes.

13.º Vê-se pois que na sua origem os orgãos deviam começar por ser unicamente compostos de tecido cellular - e que os tubos e os vasos, que formam pela sua reunião o tecido fibroso e vascular, deviam ser originariamente utriculos, que se fôram successivamente modificando, á proporção que a organisação vegetal se foi desenvolvendo.

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14.º A observação vem demonstrar esta verdade fazendo-nos vêr: 1.º que a folha e o fructo não apresentam no primeiro periodo do seu desenvolvimento senão utriculos; e que os tubos e os vasos só apparecem posteriormente, e são um resultado da transformação successiva dos mesmos utriculos: 2.º que as plantas mais simples não apresentam nem fibras nem vasos, mas tão sómente utriculos ou cellulas, donde lhes vem o nome de cellulares; dando-se o nome de vasculares ás que são simultaneamente compostas de vasos, tubos, e cellulas.

15.º A organisação elementar das plantas é mais simples, geralmente fallando, do que a dos animaes; naquelles seres um só tecido gerador diversamente modificado constitue todos os orgãos; e nestes são necessarios varios tecidos geradores para os formarem. Além disto nos animaes existem tres classes diversas de funcções, as da nutrição, da reproducção, e da relação, donde resulta que devem ter tres grupos especiaes de orgãos; em quanto as plantas, tendo sómente funcções nutritivas e funcções reproductoras, devem constar apenas de dois grupos especiaes de orgãos, a saber, orgãos de nutrição e orgãos de reproducção.

Orgãos de nutrição.

16.º Os orgãos da nutrição ou da vegetação são aquelles a quem a natureza confiara o cuidado do desenvolvimento e da conservação do vegetal; ou o que é o mesmo, o cuidado da vida individual.

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17.º Estes orgãos são a raiz, o caule, os gomos ou gemmas, as folhas, e além destes, outros menos importantes e geraes como são as estipulas, os espinhos, os aculeos, e as gavinhas. E na verdade a raiz enterrada na terra absorve uma parte das substancias nutritivas: o caule transmite estas substancias a todos os pontos da planta, ao passo que as folhas estendidas no ar não só absorvem como as raizes os fluidos nutritivos contidos na atmosphéra, mas servem além disto de orgãos que preparam, ou elaboram estes mesmos fluidos. - Nós vamos definir e descrever muito brevemente cada um dos orgãos da nutrição.

Raiz.

18.º A raiz é essa parte inferior e descendente do vegetal, que se acha ordinariamente enterrada na terra; que cresce no sentido inverso do caule, e que serve de fixar a planta ao local do seu desenvolvimento, e de lhe absorver os succos nutritivos.

19.º Todas as plantas são munidas de raizes, á excepção de algumas - muito poucas - rudimentares, como as tremelgas, e confervas, que vivem ao cimo das aguas; e absorvem os succos nutritivos por todos os pontos da sua superficie.

20.º As raizes não se desenvolvem, antes perecem, quando submettidas á acção da luz: a escuridão, que existe no seio da terra, é uma condição necessaria ao seu desenvolvimento.

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21.º As plantas aquaticas apresentam muitas vezes raizes fluctuantes no seio das aguas; estas raizes não servem por consequencia de fixal-as ao local do seu desenvolvimento, mas sim de lhes absorver as substancias alimentares.

22.º Existem tambem algumas plantas, que além das suas raizes ordinarias, apresentam outras, que nascem do caule ou dos seus ramos, e dalli se dirigem para a terra, para nella se cravarem: estas raizes tem onome de aereas ou adventicias; e pódem observar-se no maiz ou no milho grosso.

23.º Damos ainda o nome de raizes accidentaes áquellas, que se desenvolvem dos ramos do caule, quando os enterramos na terra; como se vê no processo da mergulhia, ou da plantação de estaca. As plantas de lenho duro e rezinoso não são susceptiveis de produzir estas raizes, e por isso não podemos multiplical-as por qualquer daquelles dois processos.

24.º Podemos considerar discriptivamente tres partes na raiz; e são 1.ª o corpo ou parte central e media, que alguns botanicos consideram como o prolongamento subterraneo do caule, 2.ª o collo ou nó vital, 3.ª as radiculas ou fibras radicaes.

25.º O corpo da raiz não só é formado pelo eixo ou parte central deste orgão; mas tambem pelas suas ramificações; e todos sabem que as raizes se ramificam como os troncos.

26.º O collo é representado por uma linha circular, ás vezes por uma nodosidade, que separa o tronco da raiz: este orgão não é sempre evidente, e alguns botanicos modernos negam a sua existencia.

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27.º As radiculas ou fibras radicaes são as ultimas ramificações das raizes, destinadas á absorpção das substancias nutritivas. Em rigor são estas radiculas, que merecem mais especialmente o nome de raiz.

28.º As raizes apresentam muitas modificações de estructura, duração, fórma, consistencia, e direcção: e dizem-se fibrosas quando compostas de fibras simplices e delgadas, como nas palmeiras; tuberiformes, ou em fórma de tuberas como na dhalia; annuaes e vivazes segundo duram um ou muitos annos, como no trigo e na luzerna; fusiformes ou em fórma de fuzo como na betaraba; carnosas como no nabo; perpendiculares como no carvalho, &c.

29.º Geralmente o desenvolvimento das raizes está na razão do desenvolvimento do caule; e as arvores dos nossos climas, quando o terreno as não contraría, representam dois eixos cónicos unidos pela sua base, e terminados em ponta aguda; que se foram successivamente ramificando um debaixo da influencia do ar e da luz, e o outro da da terra e da escuridão.

30.º Ora como o desenvolvimento da parte aerea, e ascendente da planta, ou do caule, está na razão do desenvolvimento da sua parte subterranea e descendente, ou da raiz; e como este é tanto maior quanto mais revolvida e substancial é a terra, segue-se que a plantação das arvores deve ser precedida de cavas profundas, e acompanhada de adubos proprios.

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31.º Não é por toda a superficie da raiz que são absorvidas as substancias nutritivas - hoje sabe-se, e experiencias muito terminantes o provam, que é só pelas extremidades das radiculas, que estas substancias penetram para o interior dos vegetaes.

32.º Ha nas extremidades das radiculas, ou das fibras radiculares, uns pequenos corpos a que se dá o nome de spongiolos, formados pela aggregação de um certo numero de cellulas. Estes spongiolos, assim chamados por se assimilharem na fórma, ou antes na funcção, a pequenas esponjas, são os orgãos encarregados da absorpção radicular.

33.º E' por tanto claro que quanto maior fôr o numero das radiculas, e por consequencia dos spongiolos, tanto maior será a força da absorpção radicular, que é uma das principaes fontes da alimentação das plantas.

34.º Mas está provado que as correntes de ar, e a presença da humidade em torno das raizes são duas condições muito favoraveis ao desenvolvimento dos spongiolos - donde a vantagem das lavouras que tornam a terra facilmente permeavel pelo ar, e das regas que a humedecem e subministram ás raizes o dissolvente unico, que serve de vehiculo ás substancias nutritivas absorvidas pelo aparelho radicular.

35.º Ainda que as raizes sejam em geral destinadas aos dois usos já indicados de fixar o vegetal, e de lhe absorver as substancias nutritivas; ha todavia algumas, que parecem não encher senão o primeiro destes dois usos. É o que se observa principalmente nas plantas gordas e succulentas, que absorvem por todos os pontos da superficie do seu caule as substancias proprias á sua nutrição. Os cactos estão neste caso; e esta é a razão, porque estas plantas, ainda que não sejam regadas, nem por isso deixam de prosperar. Tambem se nós examinamos as suas raizes, vemol-as tão lenhosas, e tão cobertas de um inducto terruo, que desde logo reconhecemos serem improprias para exercerem o officio das superficies absorventes.

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36.º É um facto curioso, e por ventura inexplicavel, a tendencia natural das raizes para as veias de bom terreno. Acontece frequentemente que estes orgãos se alongam consideravelmente fazendo ás vezes grandes rodeios a fim de se encaminharem para os logares, em que a terra é mais substancial, mais humida, ou mais movel. Se debaixo do solo ou da camada aravel se encontra uma de subsolo ingrata, veem-se logo as raizes perderem a sua tendencia natural de profundarem na terra, para se ramificarem superficialmente no terreno.

37.º As raizes de muitas plantas lançam de si, ou exgregam no terreno, uma substancia particular diversa nas diversas especies. Estes excrementos das raizes são favoraveis á vegetação de certas plantas, e nocivos á de outras: este facto singular impugnado sem razão nestes ultimos tempos, ha-de servir-nos mais adiante para explicarmos o systema dos afolhamentos, que repousa em grande parte sobre este curioso phenomeno.

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Caule.

38.º O caule, a que alguns dão impropriamente o nome de tronco, é aquella parte superior e aerea da planta, que crescendo em sentido inverso da raiz dá nascimento ás folhas, e ás flores. A parte central do caule forma o que se chama eixo ascendente.

39.º O caule existe em todas plantas, mas este orgão é ás vezes tão curto, ou tão pouco desenvolvido, que as folhas parecem nascer, não delle, mas do collo da raiz; como se vê no taraxaco.

40.º Podem destinguir-se tres especies de caules, a saber, o tronco, o espique, e o colmo.

41.º O tronco é lenhoso, conico, dividido e subdividido n'um grande numero de pernadas, e de ramos, de que nascem as folhas: a sua casca ou corpo exterior é muito distincta do corpo interior ou lenho, que é sempre formado de camadas circulares. O tronco é o caule do carvalho, da larangeira, e de quasi todas as arvores das nossas florestas e pomares.

42.º O espique é geralmente simples, quasi cilindrico; isto é, quasi tão grosso no cume como na base, pouco ou nada ramificado, sustentando superiormente as folhas em forma de ramilhete. A sua casca é pouco distincta do corpo interior, que nunca apresenta camadas circulares. O espique é o caule das palmeiras, das dragoeiras, e de outras muitas arvores quasi todas naturaes dos paizes quentes ou tropicaes.

43.º O colmo é quasi sempre occo e herbaceo, offerecendo de distancia a distancia nós ou nodosidades, donde nascem as folhas. O colmo é o caule do trigo, do centeio, da canna ordinaria, e da canna de assucar.

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44.º Assim como a raiz procura a escuridão, e só nella se desenvolve; assim tambem o caule procura automaticamente a luz, porque só nella se póde desenvolver. E' por esta razão que vemos as arvores inclinadas quasi sempre para o meio dia; e as que foram plantadas em sitios sombrios penderem para os logares mais illuminados para gozarem dos beneficios da luz.

45.º Os caules apresentam muitas modificações pelo que respeita a sua duração, consistencia, forma, direcção, armadura, &c., e dizem-se annuaes ou perennes segundo duram um ou muitos annos; herbaceos, arbustivos, ou arboreos, segundo pertencem ás hervas, aos arbustos, ou ás arvores; cilindricos ou nodosos segundo são roliços, ou tem nós; verticaes ou prostrados segundo se acham aprumados, ou encostados sobre a terra; espinhosos ou inermes segundo tem, ou não espinhos.

46.º O tronco, ou o caule das plantas do nosso clima, é formado por camadas concentricas, que se sobrepõem umas ás outras. Cortado transversalmente apresenta um certo numero de folhetos ou camadas circulares, que constituem exteriormente a casca e interiormente o lenho.

47.º A casca é composta das seguintes partes - da epiderme - do involucro herbaceo - do liber - e da camada geradora.

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48.º A epiderme é uma pelicula membranosa, que reveste e defende, não só o tronco, mas todos os mais orgãos da planta: exerce os mesmos officios, que a membrana mais exterior da pelle dos animaes, a que tambem se dá o mesmo nome.

49.º O involucro herbaceo é uma camada de tecido cellular muito verde principalmente na edade recente da planta, que se acha logo por baixo da epiderme - é no involucro herbaceo, e nas folhas, que tem logar a funcção respiratoria das plantas. O involucro herbaceo observa-se facilmente destacando a epiderme dos ramos novos de uma pereira, ou de outra qualquer arvore.

50.º O liber ou o livrilho é uma reunião de folhetos fibrosos, que se encontram por baixo do involucro herbaceo, e constituem a parte mais dura e mais solida da casca. É pelas camadas mais profundas do liber, e a favor dos vasos numerosos, que nellas se ramificam, que se effeitua a principal corrente da seiva descendente.

51.º A camada geradora é uma outra camada de tecido cellular similhante á do involucro herbaceo, que é destinada a gerar as camadas annuaes, tanto do lenho, como da casca - esta camada que se acha por baixo do liber exerce uma das mais importantes funcções da nutricção; e renova-se todos os annos para a exercer.

52.º O lenho é composto das seguintes partes; do alburno - do lenho propriamente dito - do estojo medullar - e da medulla.

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53.º O alburno é formado por uma ou mais camadas lenhosas de recente formação, mais tenras e esbranquiçadas que as interiores - é tambem pelo alburno que se verifica posto que em menor escalla o movimento descendente da seiva.

54.º O lenho propriamente dito é formado de varias camadas lenhosas mais compactas, e mais escuras que as do alburno; como melhor se pode ver no ébano e nas arvores de lenho corado. Estas camadas acham-se logo por baixo do alburno; e é pelas mais interiores dellas que se verifica o movimento ascendente da seiva.

55.º O estojo medullar é a mais interior das camadas lenhosas destinada a defender e a resguardar a medulla: acha-se logo pela parte externa da medulla, e teem uma organisação um pouco diversa do lenho.

56.º A medulla é um corpo quasi sempre roliço contido no estojo medullar, e formado principalmente de tecido cellular: é, segundo parece, destinado a alimentar os gomos. A medulla só se póde bem observar nos caules recentes; nos troncos antigos quasi que desapparece de todo pela obliteração do canal onde se aloja.

57.º Nascem de medulla certos raios, ou antes laminas que se dirigem do centro para a circumferencia do tronco e servem de communicar o lenho com a casca, e a medulla de quem são um prolongamento, com o involucro herbaceo. Estes raios a que se dá o nome de medullares só se deixam ver no corte transversal do tronco; e não são mais do que os perfiz das laminas longitudinaes, que dividem o mesmo tronco em espaços triangulares similhantes aquelles, que observamos, quando cortamos transversalmente uma laranja; e que são tambem formados, como todos sabem, pelos perfiz das laminas membranosas que separam os gomos.

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58.º Vê-se por tanto que o tronco cortado transversalmente apresenta as seguintes camadas contando de dentro para fóra; 1.ª a medulla que é a sua parte central, 2.ª o canal medullar, 3.ª o lenho, 4.ª o alburno, 5.ª a camada geradora, 6.ª o liber, 7.ª o involucro herbaceo, 8.ª a epiderme.

59.º Esta é pois a organisação do carvalho, do castanheiro, da maceira, de quasi todas as arvores do nosso clima, e das que estão fóra dos tropicos.

60.º As arvores porém dos climas mais quentes e intratropicaes, como são a palmeira a dragoeira, &c., não tem geralmente esta organisação; e quando nellas se faz um corte transversal, em vez de camadas concentricas, apresenta-se uma massa de tecido cellular similhante ao da medulla das nossas arvores, atravessado longitudinalmente por um grande numero de fibras. A sua casca não tem tambem a mesma organisação que a das nossas, nem é tão distincta do corpo central.

61.º As arvores do nosso paiz ramificam-se em pernadas, ramos, e raminhos. Todas estas ramificações são devidas ao desenvolvimento dos gomos ou das gêmmas; e são por assim dizer enxertos naturaes, que nascem uns dos outros. Os gomos devem por tanto merecer ao cultivador grandes e solicitos cuidados, porque são elles a origem de todos os desenvolvimentos individuaes da planta; e é delles que hão-de brotar as folhas, as flores e os fructos.

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62.º As arvores crescem pois lateralmente pelo desenvolvimento das gêmmas lateraes, e em altura pelo alongamento da gemma terminal. Ora como a maior parte das arvores dos paizes tropicaes não tem gomos lateraes, mas somente o gomo terminal, resulta, que estas plantas não se ramificam, mas tão somente crescem em altura pelo alongamento do unico gomo, que possuem. Daqui vem que destruido este gomo a planta perece, porque se destruiu o unico germen do seu desenvolvimento.

63.º As nossas arvores crescem em grossura pela formação annual de novas camadas, tanto corticaes como lenhosas. E na verdade todos os annos se forma uma camada cortical e outra camada lenhosa - a camada cortical pela parte interior ou por baixo das já formadas, e a lenhosa pela parte exterior ou por cima das mais antigas. Estas duas camadas, que vão successivamente augmentando a grossura da planta, são formadas á custa da camada geradora; e uma dellas fica fazendo parte da casca e a outra do lenho.

64.º Daqui resulta que o córte transversal de uma arvore deve apresentar-nos tantas camadas lenhosas, quantos fôrem os annos da planta; de modo que poderemos conhecer a sua edade pela contagem destas camadas. Esta verdade theorica é confirmada pela observação. Os ulmeiros que nos fins do seculo passado foram cortados nos campos elisios de Pariz, e que tinham cem annos de idade apresentaram cem camadas lenhosas. Algumas das bellas arvores ha pouco abatidas no passeio publico de Lisboa apresentavam, como nós observámos, noventa e mais camadas lenhosas, que bem deixavam vêr a sua antiguidade, e a barbaridade da mão arboricida que as derribára.

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65.º As camadas lenhosas são tanto mais duras quanto mais antigas, ou mais interiores, o que é o mesmo. A sua espessura corresponde a maior ou menor energia vital da planta; é por isso que as camadas mais espessas são as medias, ou as que correspondem á edade adulta dos vegetaes.

Gomos ou Gemmas.

66.º Os gomos ou gemmas propriamente ditas são corpos de fórmas variadas, mas ordinariamente ovaes, formados por um pequenino eixo central geralmente guarnecido de escamas estreitamente unidas umas ás outras: encerrando dentro em si os rudimentos dos ramos das folhas e das flores.

67.º E na verdade se fendermos longitudinalmente um gomo qualquer (o do lilaz por exemplo) veremos que elle se compõe, 1.º de um eixo central que apresenta um canal medullar que communica com a medulla, 2.º de apendices folheaes ou de folhinhas quasi imperceptiveis, que nascem do mesmo eixo: estes apendices são os rudimentos das folhas, o eixo é o rudimento do ramo. Mais adiante veremos que esta organisação do gomo é similhante á da semente.

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68.º Os gomos desenvolvem-se na axilla das folhas, isto é, no angulo que a folha fórma com o ramo de que nasce; as folhas não só servem para agasalhar mas tambem para nutrir o gomo.

69.º Pódem distinguir-se tres epocas em toda a carreira do desenvolvimento dos gomos. Começam por apparecer no verão debaixo da fórma de pequenos corpos, a que se dá o nome de olhos - é a sua primeira epoca. Continuam a desenvolver-se durante o outono, e dá-se-lhe então o nome de botões - é a segunda. Ficam dormentes durante o inverno, dilatam-se e incham depois na primavera, e recebem então o nome particular de borbulhas ou de gomos propriamente ditos - é a sua terceira e ultima epoca.

70.º Os gomos das plantas dos paizes frios são ordinariamente escamosos, e ás vezes até cotanilhosos; isto é, revestidos de uma especie de pennugem ou cotão - os dos paizes muito quentes são nús, porque não precisavam ser resguardados contra os rigores das estações frias. Nos cuidados que a natureza toma em resguardar e nutrir os gomos deve aprender o agricultor a imital-a, defendendo e resguardando com amor estes tenros germes donde lhe ha-de provir toda a recompensa das suas fadigas.

71.º Os gomos são, ou folheaes, ou floraes, ou mixtos - dos primeiros só nascem ramos com folhas; dos segundos ramos com flores; dos terceiros ramos com folhas, e flores. Vê-se pois que só dos 2.os e 3.os devem provir fructos, e que só destes nos devemos servir no processo da enxertia. Distinguem-se os floraes e mixtos, a que tambem chamamos fructiferos, dos folheaes, em que estes ultimos são delgados e agudos, em quanto os primeiros são grossos, curtos, e arredondados: esta distincção é muito importante para o cultivador.

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72.º Os gomos servem de continuar a vida individual do vegetal - as sementes servem de perpetuar a vida da especie. E' pela semente que começa a desenvolver-se uma nova planta; é pelos gomos que se continua o desenvolvimento da antiga. - Vê-se por tanto a analogia que ha entre as funcções dos gomos e das sementes; e se reflectirmos na analogia que tambem ha pelo que respeita á sua estructura, visto que ambos estes orgãos defendem e agasalham dentro de si os rudimentos de novas plantas, encontraremos as razões porque os gomos tem sido considerados como corpos mui semelhantes ás sementes; de modo que alguns os tem apellidado sementes fixas; e outros mesmo embriões fixos para os distinguir dos embriões livres, ou dessas plantas em miniatura, que se encerram na semente, e de que fallaremos mais adiante.

73.º Ha ainda outra especie de gomos, a que damos o nome de turiões, proprios das plantas vivazes e lenhosas, e que nascem constantemente debaixo da terra sobre as raizes ou sobre os caules subterraneos; como se vê nos espargos, na acacia, no carvalho, &c. A differença que existe entre o turião e o gomo propriamente dito, é que o segundo começa a desenvolver-se no ar e na luz, e o primeiro na terra e na escuridão.

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74.º O bolbo ou cebolla é ainda outra especie de gomo ordinariamente formado de escamas, terminando-se inferiormente pela raiz e superiormente pelas folhas e pela flor, por exemplo, as cebollas do açafrão e do jacintho. O bolbo antes se deve reputar como um vegetal completo do que como um gomo.

75.º Os bolbilhos são pequenos gomos solidos ou escamosos, que nascem em differentes partes da planta, que podem vegetar separados della, e reproduzil-a como se fossem verdadeiras sementes, por exemplo, os gomos do lirio bolboso. As plantas que offerecem semelhantes gomos tem o nome de viviparas.

Folhas.

76.º As folhas são expansões membranosas, ordinariamente planas de formas mui variadas, que nascem sobre o caule e sobre os ramos das plantas, e formam um dos seus mais bellos ornamentos. São os orgãos principaes da evaporação aquosa, da decomposição dos gazes, e da elaboração dos succos, e por conseguinte agentes essencialissimos da nutrição; como adiante veremos.

77.º As folhas são commummente compostas de duas partes; o peciolo ou cauda da folha, que é o seu sustentaculo, e a lamina ou limbo, que é a parte plana e foliacea sustentada pelo peciolo.

78.º As partes, que geralmente se distinguem na folha, são a base ou o ponto, que a une ao ramo donde nasce; o cume ou o ponto opposto á base; o contorno ou a linha que limita a sua circumferencia; e ultimamente a face superior ou a que olha para cima e se volta para a luz; e a inferior, ou a que olha para baixo, e se volta para a escuridão.

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79.º As folhas são formadas pelo desenvolvimento e ramificação de um feixe de fibras e de vasos, chamado feixe fibro-vascullar.

80.º Este feixe, que constitue o que chamamos peciolo, divide-se e ramifica-se ao entrar na folha, e forma quasi sempre uma especie de rede que representa em certo modo o esqueleto da folha; e forma malhas, que se acham cheias de um tecido cellular mais ou menos abundante e verde.

81.º A face superior da folha é ordinariamente liza, verde, cuberta por uma membrana adherente, e munida de poucos poros ou aberturas corticaes - a face inferior pelo contrario é de uma côr menos carregada, ás vezes até esbranquiçada, quasi sempre coberta de pellos ou de penugem, revestida de uma membrana pouco adherente, e crivada por um grande numero de aberturas corticaes. Esta differença de estructura faz desde logo presumir, que cada uma destas faces da folha é destinada a exercer funcções diversas, como em verdade acontece.

82.º A face inferior da folha torna-se ainda notavel por um grande numero de linhas salientes a que se dá o nome de nervuras: todas estas linhas nascem do peciolo ou cauda da folha. Ha entre ellas uma que se torna ainda mais notavel, apresentando-se na parte media deste orgão como continuação do peciolo - tem o nome de nervura mediana ou costa da folha.

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83.º E' ordinariamente da base, ou das partes lateraes da nervura mediana, que nascem as outras nervuras, a que se dá o nome de secundarias; estas dão successivamente origem a outras, que se vão ainda subdividindo e ramificando até formarem as ultimas divisões, que se chamão veias da folha.

84.º As nervuras não apresentam sempre a mesma disposição em todas as plantas; umas vezes nascem da base da folha, e vão divergindo á maneira dos dedos da mão aberta, como se vê nas folhas da althea; outras vezes nascem ainda da base, e continuão paralellas á costa da folha, com se vê no trigo ou na cevada; outras vezes fórmão pequenos arcos, que nascem tambem da base e terminam no cume da folha, como se vê na canelleira; outras vezes finalmente nascem não da base, mas da nervura medianaa, e dirigem-se paralellamente para os lados da folha, como as barbas de uma penna, como se vê na bananeira.

85.º Tudo o que temos dito com respeito á folha é muito facil de comprehender, tendo alguns destes orgãos presentes ao passo que se lêr a sua descripção.

86.º As folhas apresentam numerosas modificações de fórma, de consistencia, de côr, de direcção, &c. que não podem ser aqui enunciadas.

87.º As folhas são simples ou compostas: dizem-se simples quando o peciolo não offerece divisões, e quando o limbo é formado de uma só peça, por exemplo, a folha da azinheira, da larangeira, &c.: dizem-se compostas quando são formadas de um certo numero de pequenas folhas a que se dá o nome de foliolos, sustentadas, ou por um peciolo simples, ou por um peciolo ramificado; taes são as folhas da acacia e do castanheiro da india.

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88.º As partes que entram na organisação da folha são, 1.ª o feixe fibro-vascullar; 2.ª o tecido cellular verde (parenchima); 3.ª a epiderme.

89.º Os vasos e fibras que formam o feixe fibro vascullar nascem do caule, e penetrão na folha, onde, como já dissemos, se ramificão constituindo as nervuras: o officio provavel das fibras é conduzirem para dentro da folha a seiva ascendente para ahi ser elaborada; e o dos vasos é levarem da folha para as outras partes da planta a seiva descendente, ou já elaborada; isto é, a seiva propria para a nutrição da planta.

90.º O tecido cellular verde é um aggregado de cellulas dispostas em camadas, que enchem os espaços que as nervuras deixão entre si, e dão á folha a cor verde, que a caracterisa; é facil observar este tecido levantando a epiderme ou cuticula que cobre as folhas: a da couve presta-se muito bem a esta observação.

91.º Assim como os vasos da folha nascem do liber do caule, assim o tecido cellular nasce do involucro herbaceo do mesmo caule.

92.º A côr verde das folhas é devida, como a do involucro herbaceo em geral, a uns grãosinhos verdes que existem no interior das cellulas. As folhas das plantas subtrahidas á acção directa da luz solar estiolão-se, isto é, tornão-se amarellas e palidas pelo desapparecimento daquelles grãosinhos a que se dá o nome de chromula. E' por isso que os agricultores interram algumas hortaliças, como as chicorias por exemplo, para lhes dar uma cor esbranquiçada e um sabor adocicado.

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93.º As cellulas deixam entre si pequenos vazios, muito similhantes aos do bofe dos animaes, onde o ar penetra para ser decomposto e respirado.

94.º E' muito singular que as plantas aquaticas tenham uma respiração diversa da das plantas aereas, e que esta diversidade guarde uma certa analogia com as differenças, que apresenta a funcção respiratoria dos animaes, que vivem e respiram no ár, e a dos que vivem e respiram na agua.

95.º A epiderme finalmente é uma pelicula membranosa em fórma de bolsa espalmada, que defende em parte os tecidos interiores da folha do contacto immediato dos agentes exteriores (ár, humidade, luz, &c.) deixando todavia penetrar pelas pequeninas bocas ou aberturas, de que é munida, não só o ár, mas tambem os gazes e fluidos nutritivos, que nelle se achão suspensos. E' muito facil observar a epiderme destacando-a de varias folhas, principalmente da sua face inferior; a folha da videira presta-se muito bem a esta observação.

96.º Depois do que levamos exposto é facil conhecer que as folhas são orgãos essenciaes da nutrição, e destinados a exercerem funcções da primeira importancia. E effectivamente; 1.º ellas absorvem na atmosphera ou no ár as substancias nutritivas que nelle se achão suspensas no estado de gaz ou de vapores; 2.º ellas commutam e organisam estas substancias, tornando-as proprias para serem assimilhadas ou para fazerem parte da planta; 3.º ellas decompõem pelo acto da respiração esse gaz, que existe sempre no ár e que se chama gaz acido carbonico, extrahindo delle o carboneo ou o carvão, que é a principal base da alimentação dos vegetaes; 4.º ellas lanção fóra de si ou exgregam certas substancias inuteis ou prejudiciaes á nutrição e conservação da planta; 5.º em fim ellas são orgãos, que presidem a varios movimentos involuntarios do vegetal, e em que se manifesta o curioso phenomeno do somno das plantas.

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97.º Vê-se por tanto que as folhas e as radiculas, que são as duas extremidades terminaes do caule e da raiz, exercem funcções muito analogas não só como orgãos absorventes, mas tambem como exhalantes e excretores. E' por esta razão que as folhas são reputadas como as raizes aereas das plantas - e na verdade é por estas duas extremidades que a planta se nutre; e em muitos casos, mais concorrem ainda as folhas do que as raizes para a absorpção das substancias nutritivas; porque estas substancias não se encontram sómente na terra debaixo da fórma solida ou liquida, encontram-se tambem no ár debaixo da fórma gazosa ou vaporosa.

98.º Ha uma epoca nos nossos climas em que as plantas perdem geralmente as suas folhas: esta epoca chama-se a da desfolha ou defoliação, e coincinde geralmente com os fins do estio e principios do outono. Ha porém arvores e arbustos que nunca são despojados do enfeite gracioso das suas folhas, e que por esta razão se denominam sempre-verdes, como são a larangeira e o buxo.

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99.º Quanto mais affastados os paizes se acham dos tropicos, tanto menor é o numero de arvores sempre-verdes, que nelles se encontra. Assim na Madeira ha um maior numero destas arvores do que em Lisboa, e em Lisboa um maior numero que em Montpellier, e assim por diante caminhando para o polo.

100.º Nos tropicos quasi todas as arvores são sempre-verdes. A vegetação é ahi mantida n'uma actividade continua pelos seus dois agentes principaes o calor e a humidade; assim as suas florestas são admiraveis, e as arvores que as povoão frondosas e gigantescas.

101.º Quando as arvores se veem despojadas do ornamento das suas folhas ficão n'uma especie de entorpecimento vital. A seiva que antes afluia copiosamente para os seus ramos apenas goza de um movimento latente e insensivel; de modo que ha uma quasi suspensão das funcções nutritivas. Este estado constitue o phenomeno da hibernação; phenomeno muito similhante ao que observamos em alguns animaes (em muitos reptis por exemplo) durante os frios da estação invernosa.

102.º Este estado porém desapparece logo que a luz e o calor do sol, e outras influencias da primavera, começando por excitar e aquecer os orgãos da planta conseguem finalmente arranca-la do seu somno hibernal. A vida desperta-se então de novo - a seiva começa a subir com desusada energia desde a raiz até aos gomos - estes desenvolvem-se rapidamente, e no seu desenvolvimento vão attrahindo o fluido nutritivo - as folhas desabrochão então, depois d'ellas as flores, e finalmente os fructos. Apoz desta serie de trabalhos organicos vem nova epoca de estancamento e de descanço vital - e esta alternativa, que é a de toda a natureza viva, reproduz-se annualmente em quanto a planta dura.

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Orgãos accessorios.

103.º Mencionaremos apenas estes orgãos; porque existindo sómente em algumas plantas, e não sendo indispensaveis á sua nutrição, como aquelles que acabamos de descrever, apenas concorrem accidentalmente para ella, sendo por este motivo denominados accessorios.

104.º Entre os órgãos accessorios figuram em primeiro logar as estipulas, que são umas espansões foliaceas, que acompanham as folhas, e que muito se lhes assemelham, situadas ordinariamente nos dois lados oppostos do peciolo, ou fazendo um corpo commum com a sua base, como se vê na pereira e na roseira.

105.º Estes orgãos tem fórmas muito variadas, e parecem ser modificações ou transformações das folhas cuja estructura arremedam. Os seus usos, segundo geralmente se suppõe, são proteger e alimentar as folhas nos seus primeiros desenvolvimentos; de modo que veem a exercer para com a folha os mesmos officios, que esta exerce para com o gomo.

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106.º Depois das estipulas apresentam-se as gavinhas (a que tambem se dá o nome de cirros ou mãos) que são orgãos abortados e filamentosos de origem diversa, em fórma de filetes mais ou menos herbaceos que se enrolam em torno dos corpos vizinhos, e servem assim de sustentar o caule das plantas fracas e trepadoras. Como se vê na videira, na ervilha, &c.

107.º Estes orgãos são umas vezes os peciolos das folhas, que abortaram, não se desenvolvendo senão a sua nervura mediana, como se vê na ervilha; outras vezes são os pedunculos ou pés das flores, que tendo do mesmo modo abortado, se alongam em fórma de filete, como se vê na videira, cujas gavinhas são evidentemente o eixo do cacho, que se suspendera na sua desenvolução, deixando de ramificar-se.

108.º Apresentam-se finalmente entre os orgãos degenerados os aculeos e os espinhos, ou essas excrecencias agudas, lenhosas, e aceradas, que se notam no caule e nos ramos de certas plantas, como se vê na larangeira, e na silva.

109.º Os aculeos nascem da casca, e os espinhos do lenho das plantas; é por isso que os primeiros se destacam facilmente como na roseira; e os segundos com grande difficuldade como na pereira, e no limoeiro.

110.º As funcções destes ultimos orgãos são ainda um ponto obscuro da vida vegetal; mas tudo induz a crer que são orgãos absorventes da humidade atmospherica, e uma especie de conductores do fluido electrico, que é um dos principaes agentes do organismo e da vida das plantas.

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Orgãos da reproducção.

111.º Os orgãos da reproducção são aquelles, que a natureza destinára á conservação da especie, e á propagação das raças.

112.º Os orgãos da nutrição, que acabamos de descrever, são encarregados da conservação dos individuos; em quanto os da reproducção de cujo estudo vamos occupar-nos, são destinados a continuar a vida da especie, ou a ligar por um laço continuo, na successão dos tempos, a filiação de todos os seres, que constituiram, constituem, e hão-de constituir as especies vegetaes.

113.º Como os seres vivos, a que chamamos plantas, nascem, crescem, envelhecem, e depois morrem, é evidente que se nelles não existissem orgãos destinados á propagação das especies, ou orgãos reproductores, o reino vegetal teria desapparecido pouco depois da creação das especies primitivas; e com elle o reino animal - porque, como se sabe, a existencia dos animaes está indissoluvelmente ligada á das plantas, visto serem estas as que lhes subministram as principaes substancias nutritivas.

114.º Os orgãos reproductores tem por fim a formação de germes, que desenvolvendo-se devem produzir novos individuos.

115.º Estes germes, a que se dá o nome de embriões encontram-se formados dentro das sementes, assim como estas se encontram dentro dos fructos - tomae uma vagem do feijoeiro ou da fava ordinaria, que é o fructo destas plantas, abri-a, e encontrareis dentro della as sementes - abri ainda as sementes, e bem no meio dellas encontrareis uma plantazinha rudimentar, onde se nota inferiormente uma radicula que é o esboço da raiz, na parte media um caulezinho ou cauliculo que é o esboço do caule, e superiormente um gomozinho ou gemmula que é tambem o esboço da primeira gemma terminal, donde hão-de provir todas as da planta. O que tendes diante dos olhos é por tanto uma planta em miniatura, e é o que se chama embrião.

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116.º Ora toda a funcção da reproducção tem por fim a formação destes embriões, ou das sementes, que os encerram; mas como as sementes (que são os ovos vegetaes) provém dos fructos, e estes das flores; segue-se que a flor é o verdadeiro, e em rigor o unico e essencial orgão de reproducção.

117.º Mas seguindo o exemplo da maior parte dos botanicos nós tractaremos separadamente dos orgãos da florescencia e da fructificação, isto é da flor, e do fructo, que se podem tambem considerar como os dois orgãos da reproducção.

Flor.

118.º A flor é o aggregado dos orgãos sexuaes da planta reunidos n'um sustentaculo commum, e rodeados ordinariamente por involucros exteriores, formados por pequenas folhinhas, ou expansões foliaceas de textura, côr, e fórma diversas. A flor é por tanto um aparelho organico destinado á reproducção dos vegetaes.

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119.º Encerrão-se dentro das flores ou dentro destes brilhantes aparelhos, que são o mais bello e gracioso ornamento das plantas, os orgãos sexuaes, que presidem ao phenomeno da fecundação.

120.º Este misterioso phenomeno tem logar tanto nas plantas como nos animaes; e é em virtude delle, que os seres vivos, recebendo o impulso vital, desenvolvem dentro de si, e em orgãos especiaes, os germes destinados a reproduzil-os com todas as suas fórmas, e propriedades.

121.º Ha effectivamente na flor orgãos sexuaes masculinos e femininos; os primeiros segregão e preparão o pó fecundante; os segundos os ovulos, ou ovinhos que devem ser fecundados. Estes orgãos, cuja importancia é tão grande para a propagação das especies, são protegidos por folhinhas diversamente modificadas, que nascendo em torno delles os resguardão e defendem na sua mocidade, e até os acompanhão muitas vezes nos diversos periodos do seu desenvolvimento. Destas folhinhas umas são mais exteriores e ordinariamente verdes, e constituem o calix; outras são mais internas e coradas e constituem a corolla.

122.º Para fazermos conhecer todas as partes componentes da flor tomaremos uma rosa selvagem meia aberta, e observaremos successivamente os diversos orgãos, que ella nos apresenta.

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123.º A primeira cousa que se observa nesta flor simples dos campos é um involucro exterior, que se compõe de cinco folhinhas verdes (chamadas foliolos ou sepalas) dispostas circularmente e reunidas pela parte inferior para formarem um corpo oval ou esferico - este primeiro involucro da flor é o calix - no logar onde as folhas do calix começão a reunir-se nascem outras cinco folhinhas coradas e odoriferas, que se multiplicão consideravelmente na rosa cultivada, a que se dá o nome de petalas - este segundo envolucro da flor é o corolla - pela parte interior da corolla vemos um grande numero de corpos filiformes graciosamente recurvados, e sustentando cada um uma cabecinha amarella - estes corpos são os estames - ultimamente, se abrirmos no sentido do seu comprimento esse pequeno corpo esferico formado interiormente pelos cinco foliolos do calix, veremos uma cavidade bojuda, que termina superiormente n'uma apertada garganta, e que encerra corpos, que se unem ás suas paredes interiores, e que as vão costeando até se reunirem superiormente n'uma especie de feixe, que occupa o centro da flor - estes corpos formão o pistillo.

124.º Vê-se por tanto que a flor da rosa é composta de quatro partes, a saber, o calix, ou o involucro verde mais exterior da flor: a corolla ou o involucro diversamente corado que formado de varias peças se encontra logo depois do calix: os estames ou os orgãos sexuaes masculinos que são esses corpos filiformes terminados por umas cabecinhas amarellas, que preparam um pó subtil e fecundante a que se dá o nome de polen: e ultimamente o pistillo ou o orgão sexual feminino que encerra na sua cavidade inferior ou no ovario os ovulos, que fecundados pelo pollen se desenvolvem rapidamente e se transformam em sementes.

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125.º Mas para melhor observarmos estes diversos orgãos da flor, e para conhecermos as partes de que cada um delles se compõe, examinemos ainda outra planta, que nol-os apresente mais distinctos e evidentes. E sirvamo-nos para este fim da flor do goiveiro amarello.

126.º Nós veremos no centro desta flor um pequeno corpo alongado, e um pouco comprimido de diante para traz; este corpo é o pistillo, que se compõe de tres partes, a saber, uma inferior, que é o ovario; outra media que é o estilete (que falta em muitas plantas), e outra superior que é o stygma. O ovario apresenta interiormente duas cavidades, que encerram uns corpozinhos arredondados, a que se dá o nome de ovulos, como se pode ver fendendo-o longitudinalmente; o estilete apresenta a fórma de um corpo filiforme, que serve de communicar o estigma com o ovario - o estigma finalmente apresenta a fórma de um pequeno corpo um pouco dilatado, viscoso, e glandular, e proprio para receber o pó fecundante das antheras.

127.º Pela parte exterior do pistillo e em torno delle nós achamos seis orgãos da mesma fórma e da mesma estructura, compostos cada um delles de uma parte inferior filiforme, que sustenta uma pequenina bolsa oval, de duas repartições ou cellulas, cheias de um pó amarellado.

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128.º Pela sua posição e estructura facilmente conheceremos que estes corpos são os estames ou os orgãos sexuaes masculinos, que se compõem tambem de tres partes. E na verdade a parte inferior ou filiforme é o filete; a parte superior em fórma de bolsa é a anthera; e o pó quasi impalpavel que ella encerra é o pollen, que cahindo sobre o estygma, passa dahi ao ovario, e fecunda os ovulos transformando-os em sementes.

129.º Continuando o nosso exame da flor do goiveiro, vêmos ainda que pela parte exterior dos orgãos masculinos se nos apresentam oito apendices membranosos dispostos em duas series, quatro mais interiores, e quatro occupando a parte externa da flor. Os quatro interiores maiores, amarellados e inteiramente semelhantes entre si constituem um só e o mesmo orgão a corolla, que neste caso é composta de quatro peças distinctas ou petalas. Os quatro mais externos, mais pequenos e verdes constituem outro orgão, o calix, que vem tambem neste caso a ser composto de quatro peças a que chamamos sepalas.

130.º São estas pois as partes componentes de uma flôr completa; mas em certos casos faltam alguma ou algumas destas partes; e a flôr tem então o nome de incompleta. E na verdade umas vezes falta o calix como acontece na tulipa; outras vezes o calix e a corola, e então a flôr é destituida de involucros protectores e tem o nome de nua, como se vê no salgueiro; outras vezes finalmente falta, ou o orgão sexual masculino, ou o femenino, existindo estes dois orgãos em flores separadas, que se denominam então unisexuaes. Estas flores podem ainda existir ou na mesmo planta, como se vê no maiz cujos orgãos masculinos se acham na parte superior, no que vulgarmente se chama bandeira, e os femeninos inferiormente no que se chama maçaroca; ou em plantas diversas como se vê na palmeira.

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131.º A fecundação das plantas, cujas flores encerram ambos os sexos, e que por isso se chamam hermaphroditas, deve ser muito mais facil e natural do que a das plantas, cujas flôres apenas contem um dos sexos, e que por isso se denominam unisexuaes. Nas primeiras o pollen cahe muito facilmente sobre o estigma do pistillo, e deve fecundal-o com a mesma facilidade. Nas segundas esta operação torna-se um pouco mais difficil; e é necessario que os ventos, ou os insectos sejam os portadores deste mesmo pollen, e o conduzam desde a flor masculina até á feminina, de modo que a funcção vem a ficar sugeita a eventualidades, que não podem deixar de a tornar mais precaria. Todavia foram tantas e tão bem calculadas as previsões da natureza, que raras vezes a fecundação deixa de ter logar nas plantas unisexuaes.

132.º As flôres nascem em geral ou na axilla das folhas, ou na das bracteas, que são essas pequenas folhas, que se encontram nos ramos floraes, e que foram suspendidas no seu desenvolvimento pelo esgotamento dos mesmos ramos.

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133.º As flores são sustentadas por um pé ou ramo curto, que tem o nome de pedunculo: este ramo falta raras vezes, mas quando não existe as flores tem o nome de rentes.

134.º O pedunculo é uma ramificação do caule, e provem, assim como a flôr, de uma gemma floral: é na extremidade do pedunculo, que se inserem os diversos orgãos da flôr, e o ponto onde se faz esta inserção chama-se receptaculo.

135.º A flôr que provem de uma gêmma fica assimilhando-se a ella por analogias muito evidentes: ella não é em verdade mais do que um renovo, cujo eixo não se allongou consideravelmente, e cujos orgãos apendiculares soffreram uma transformação muito notavel desviando-se successivamente do seu typo originario, a folha.

136.º Á primeira vista parece paradoxal a idéa de assemelhar a flôr a um gomo, e as quatro partes que a formam a folhas; todavia esta opinião é verdadeira, e repousa sobre a observação attenta dos factos; e na verdade se observamos os involucros floraes, isto é, o calix e a corolla nas primeiras epocas do desenvolvimento da flôr, reconhecemos que os foliolos, que os constituem, são pequenas folhinhas em tudo similhantes ás que nos apresentam os gomos; e os proprios orgãos sexuaes não são mais do que folhas diversamente modificadas. Não é possivel dar aqui desenvolvimento a esta verdade, mas é facil reconhecer a sua exactidão, observando como os orgãos da flôr se vão successivamente modificando por transformações quasi insensiveis desde o foliolo do calix até ao pistillo n'um grande numero de flôres, por exemplo, no golfão branco.

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137.º As diversissimas modificações de forma, de posição, de numero, de proporção que apresentam o calix, a corolla, os estames e os pistillos da flôr não podem ser aqui apresentadas, porque nos desviariam muito do nosso objecto.

138.º As peças que concorrem á formação destes orgãos podem encontrar-se livres e separadas, ou soldadas e reunidas umas ás outras - assim as sepalas ou se soldam muitas vezes para formarem um calix de uma só peça, como se vê no cravo; ou se acham livres e distinctas, como se vê no goiveiro - as petalas são do mesmo modo umas vezes livres como na roza, outras vezes soldadas como no tabaco; e finalmente os estames e os pistillos tambem se encontram umas vezes livres, outras vezes soldados.

139.º As diversas e variadas modificações dos orgãos sexuaes merecem ser attentamente estudadas por apresentarem excellentes caracteres para a classificação das plantas. O systema sexual de Linneo, que é de tanto auxilio aos que querem estudar a botanica, funda-se nas importantes modificações daquelles orgãos. É assim que as vinte e quatro classes daquelle engenhoso systema são estabelecidas 1.º sobre o numero dos estames (são as primeiras treze) 2.º sobre a sua proporção respectiva (são a 14.ª, e a 15.ª) 3.º sobre a sua reunião pelos filetes (são a 16.ª, 17.ª, e 18.ª,) 4.º sobre a sua reunião pelas antheras (é a 19.ª) 5.º sobre a sua soldadura com o pistillo (é a 20.ª) 6.º sobre a separação dos sexos (é a 21.ª, 22.ª, 23.ª,) 7.º finalmente sobre a ausencia real ou presumida dos orgãos sexuaes (é a 24.ª).

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Fructo.

140.º Logo que a fecundação se opera começão a murchar e a destruir-se os involucros floraes; os estames cahem pouco depois como orgãos inuteis; e o estigma, e o estilete experimentão a mesma sorte: a flor que acabámos de descrever perde todo o seu brilho e formosura, e morre e desapparece quasi inteiramente - sómente o ovario, ou essa parte inferior do orgão sexual femenino, tendo recebido o impulso, que lhe foi communicado pelo acto vital da fecundação, começa a desenvolver-se, e a percorrer a carreira da sua nova vida até se transformar em fructo.

141.º Esta nova epoca do vegetal chama-se fructificação, e começa no instante, em que os ovos foram fecundados, e acaba com o acto da disseminação; acto pelo qual os fructos se abrem para confiarem á terra as sementes, que encerravão no seu seio, a fim de germinarem, e reproduzirem novas plantas.

142.º Vê-se por tanto que o fructo não é mais do que o ovario fecundado e desenvolvido. Este orgão, cujo conhecimento é tão importante ao cultivador, consta essencialmente de duas partes, o pericarpo, e a semente.

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143.º O pericarpo é aquella parte do fructo, que contem as sementes, e que é formada pelas paredes do ovario depois de desenvolvidas. Todas as partes do fructo, exceptuadas as sementes, constituem o pericarpo; assim o pericarpo da maçã ou do melão, é aquella parte destes fructos que serviu de resguardar e defender as sementes, e que as encerra em si.

144.º O pericarpo consta de tres partes, que são o epicarpo, o mesocarpo, e o endocarpo.

145.º O epicarpo é uma membrana delgada quasi sempre transparente, que reveste exteriormente o fructo: é formada na generalidade dos casos pela epiderme do ovario; e algumas vezes, quando o ovario faz corpo com o calix, e se acha nelle encerrado, pela epiderme deste ultimo orgão. O seu uso é defender e resguardar o fructo da acção immediata dos agentes externos. A membrana, ou pelicula externa de que nós despojamos a maçã ou o pecego, quando os comemos, é o epicarpo destes fructos.

146.º O mesocarpo é a parte ordinariamente carnosa, suculenta, e mui desenvolvida, que se acha entre o epicarpo, e o endocarpo, ou a membrana mais interior do pericarpo, que cobre immediatamente as sementes. Aquella parte da maçã ou do pecego, que nos serve de alimento, é o mesocarpo destes fructos. E' elle que contem os vasos nutritivos, que servem de alimentar não só o pericarpo, mas tambem a semente.

147.º Ultimamente o endocarpo é uma membrana delgada, que reveste interiormente a cavidade seminifera; e que ás vezes engrossa, endurece, e quasi que se ossifica, formando o que chamamos caroço, noz, &c. A membrana quasi cornea, que reveste interiormente as cavidades seminiferas da maçã, e de que nós a despojamos, quando a comemos, é o endocarpo; o caroço do pecego, que contem dentro da sua cavidade a semente, é tambem o endocarpo deste fructo endurecido e ossificado. O endocarpo é particularmente destinado a defender a semente e a pôl-a fóra do contacto immediato dos agentes exteriores, principalmente do ar e da luz, que tolherião o seu desenvolvimento durante a sua vida intraovariana.

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148.º A cavidade seminifera formada pelo endocarpo póde ser de um ou mais repartimentos; na maçã, por exemplo, ha muitos; no pecego e na ameixa um só. Estes repartimentos podem conter uma só ou muitas sementes.

149.º O pericarpo umas vezes é formado de uma só peça, e outras vezes de duas ou mais; no primeiro caso, salvas pequenas excepções, os fructos ou se decompõem, ou se rompem irregularmente, para dar sahida ás sementes; no segundo separam-se as suas peças pelas suturas que as ligão, e é por estas aberturas que as sementes são lançadas sobre a terra, ás vezes a grandes distancias, por um mechanismo particular.

150.º A semente é essa parte do fructo perfeito contida na cavidade do pericarpo, e que encerra o corpo, que deve produzir o novo vegetal. Assim como o pericarpo é um resultado do desenvolvimento das paredes do ovario; assim tambem a semente resulta do ovulo fecundado e desenvolvido dentro do mesmo ovario.

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151.º O caracter essencial da semente é encerrar dentro de si o embrião, corpo organisado que posto em circumstancias favoraveis se desenvolve e transforma n'um ser perfeitamente similhante aquelle que lhe deu origem.

152.º A semente é formada de duas partes, o episperma, e a amendoa. O episperma é o tegumento ou cobertura propria da semente destinado a proteger e revestir a amendoa: é composto de duas membranas uma mais exterior e mais dura (o texta) e outra mais interna e mais vital (o tegmen). Ha no episperma um ponto pelo qual a semente é unida ao pericarpo, é por este ponto, a que se dá o nome de hilo, que penetrão para dentro da semente os seus vasos nutritivos. No feijão se podem observar não só o episperma mas tambem o hilo.

153.º A amendoa é toda aquella parte da semente madura e perfeita que se contem na cavidade do episperma. Umas vezes é formada sómente pelo embrião, outras vezes por este orgão e pelo endosperma.

154.º O endosperma é um corpo umas vezes carnoso outras farinaceo, que circunda o embrião, e serve de lhe subministrar os primeiros principios alimentares durante a germinação. A substancia branca e feculenta do milho, e do trigo é o endosperma destas sementes.

155.º O embrião é esse corpo já organisado existente n'uma semente perfeita, e que deve, collocado em circumstancias favoraveis, pelo acto de germinação, tornar-se um vegetal completamente similhante áquelle donde tirou a sua origem.

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156.º O embrião é essencialmente formado de tres partes; a saber, 1.º o corpo radicular situado inferiormente, e que desenvolvido se transforma na raiz; 2.º o corpo cotiledonar formado por uma, duas e raras vezes mais folhas, a que se dá o nome de cotiledones, destinadas a prepararem os alimentos da joven planta, como se fossem mamas vegetaes; 3.º a gemmula, gomo rudimentar, que desenvolvido deve produzir o caule. Se despojarmos um feijão ou uma fava do seu episperma, e se depois separarmos os dois corpos carnosos, que são os cotiledones, veremos inferiormente o corpo radicular da fórma de um pequeno cilindro ligeiramente aguçado na parte inferior, e superiormente a gemmula composta de um eixo guarnecido de duas delicadas folhinhas.