A Santos Lostada
pela morte do seu velho pai.
Nunca mais, nunca mais esses teus olhos
Palpitarão nos olhos seus honestos
Nem hão de vê-lo em ânsias por escolhos.
Ele morreu, morreu — e os mais funestos
Lutos da dor feriram como abrolhos
Teu lar e os teus — serenos e modestos.
Que incalculável explosão de prantos
Não inundou as almas preciosas
Dos teus irmãos, da tua mãe — uns santos
Que peregrinam nestas lacrimosas
Sendas da vida, em mágoas, sem encantos
Como sem luz e sem orvalho as rosas.
Ah! formidável lei cruel da vida,
Lei da matéria, da mudez das lousas,
Da eterna noite atroz, indefinida;
Tens o segredo intérmino das cousas,
E nessa dura e tenebrosa lida,
Oh! nem sequer um dia só repousas.
Quem sabe, ó morte, ó lúgubre, quem sabe
O teu poder fatal, desapiedado
Onde se oculta e se resume e cabe.
Pois nem que o céu puríssimo, azulado
Cair aos pedaços, tombe e se desabe
Na profundez do abismo ilimitado
E a crença humana espavorida, em gritos,
Palpando o nada, esquálida, gemendo
Rasgue a amplidão de estranhos infinitos,
Nunca da morte saberão o horrendo
Mistério rijo e surdo dos granitos
Os corações que vivem combatendo?!...
Não! A Ciência penetrou, o estudo
Do pensador, abriu mais horizontes
Nesse problema silencioso e mudo.
O pensamento constelou as frontes,
Deu a razão o mais brunido escudo
E construiu as luminosas pontes
De onde se vai, com grande olhar, seguro,
Atravessar as regiões sonoras
Dos Ideais que irrompem do Futuro;
E sem contar dos séculos as horas,
E sem temer as mil visões do Escuro,
Alegremente ao fresco das auroras.
Mas entretanto, ó meu amigo, escuta,
Toda a saudade, a grande nostalgia
Nos deixa frios, mortos para a luta.
Porque, olha, a morte é sempre uma agonia!