Epitalâmio

 

É sempre assim. De manhãzinha, braço dado,
nos jardins claros do hospital,
êle mancando, a ela apojado,
silenciosos, lado a lado,
dão o passeio matinal.

E, vagarosamente, se entranhando
no perfume vermelho da manhã,
ela vem triste, como que sonhando,
— ela, que é sã —
e ele, — o ferido — traz sorrisos francos,
vem assobiando entre seus lábios brancos
uma valsa alemã...

E no fundo do parque redoiente,
onde tudo é perfume e somi,
sentam-se e dizem, já maquinalmente:
“Êtes vous las?” “Oh! non!”

Então êle, com sua voz quebrada,
vendo o Sol que no longe aponta,
entrando sorrateiro sob a touca,
brincar entre os cabelos brunos dela,
pêla décima vez conta e reconta
como o prenderam e feriram pêla
tardinha, ao proteger a retirada
dos seus soldados.

Ela, dedos febris entrelaçados,
bebe o reconto que lhe sai da boca.

E êle lembrando, sem vanglória, o heroismo
que praticou, a vê chorar...
Então se arrasta para junto dela,
pergunta-lhe a razão do seu mutismo,
pede-lhe as mãos para beijar...

– “Porquoi pleures tu?” — “Moi!” – “Mais oui!...”
E no seu colo se debruça,
cola-lhe a boca ás mãos; e enquanto êle soluça,
agora, ela sorri.