1) O choque insulínico. Em 1927, quando o Dr. Jauregg terminava a sua descoberta, o Dr. Sakel iniciava a dele.

Alguns anos antes, o Dr. Banting descobrira, no Canadá, a insulina, responsável, desde então, pela salvação de muitas vidas e pela melhoria dos sofrimentos de muitos doentes. A ação milagrosa da insulina, primeiro uma secreção glandular isolada por Banting e logo um produto químico equivalente, consistia na redução da taxa excessiva de açúcar encontrada no sangue dos diabéticos. Inicialmente foi um remédio ideal, e continua sendo para curar a diabetes, ou pelo menos para minorar os seus efeitos perniciosos, mantendo a taxa de açúcar do sangue em seu devido equilíbrio.

Mas, à medida que o uso da insulina ia se divulgando, notara-se que doses excessivas de insulina provocavam reduções excessivas da taxa de açúcar, muito além do metabolismo ideal, levando os doentes até o coma. O coma insulínico, como foi chamado. E observou-se ainda um outro efeito colateral, também muito interessante. Se o diabético que entrava em coma insulínico era, por acaso, um neurótico ou um esquizofrênico, quando saía do coma se encontrava significativamente aliviado ou melhorado mesmo de sua neurose. E aí é que entra em cena outro pesquisador fanático da escola fisiologista, o Dr. Sakel, um jovem psiquiatra da Casa de Saúde de Berlim.

Para começar, Sakel estabeleceu a sua teoria. O neurótico e o esquizofrênico estão normalmente superexcitados. Padecem de excesso de energia, e a fonte energética humana está na adrenalina. De onde neurose é igual a excesso de adrenalina. Ora, no organismo humano existe uma outra secreção glandular que serve para reduzir o excesso de energia (reduzindo a taxa de açúcar cuja queima a produz), servindo assim para manter o equilíbrio energético. Essa secreção é a insulina. Logo...

O Dr. Sakel tinha os seus doentes mentais. Entre eles os toxicômanos. Isso é, quando o toxicômano é privado da sua droga, fica superexcitado e à beira da loucura: se comporta como um maníaco paranóide. Excesso de adrenalina? E agora vinham aqueles casos de "coma insulínico", que pareciam aquietar e curar os doentes diabéticos que também eram neuróticos ou esquizofrênicos. Por que não provar? E provou primeiro com os toxicômanos e depois com toda classe de esquizofrênicos em geral. E o resultado invariável era uma melhora ou uma cura em uma percentagem que, em medicina, se considerava excelente. Hoje, após quarenta anos de uso, o choque insulínico (pelo coma insulínico) é ainda dos mais preferidos em psiquiatria, para os casos de esquizofrenia ou demência precoce, que não obedecem a outro tratamento. Assinalam-se uma percentagem de 69 a 78%, de curas positivas, o que é verdadeiramente extraordinário. E sua tese é a do bom psiquiatra: "A loucura é uma doença, como o câncer é uma doença. Ela tem uma base fisiológica e deve ser tratada medicamente. Para cada tipo de loucura devemos descobrir a sua causa patogênica orgânica e o remédio físico adequado para curá-la. Se com meus choques insulínicos eu ajudei algo a restabelecer a psiquiatria no seu quadro fisiológico, sinto-me, então, muito satisfeito por isso".

2) O choque convulsivo do Metrazol. Nos anos de 1933 a 34, quando o choque insulínico do Dr. Sakel começava a ser conhecido e estava fazendo furor, nos meios psiquiátricos, um jovem moço de Budapest, na Hungria, o psiquiatra Ladislaus Von Meduna, preparava-se para outra experiência que iria agitar os meios da psiquiatria. Desde a época de estudante em que se dedicara ao estudo das doenças mentais, ele vinha elaborando a sua própria teoria: "Os cérebros dos epilépticos são diferentes dos cérebros dos esquizofrênicos; um antagonismo biológico, cuja significação lhe fascinava. E se na morte esses dois tipos de cérebros eram extremamente diferentes, em vida, os dois tipos de desequilibrados mentais, o epilético e o esquizofrênico, eram igualmente diferentes. Significava isso que as duas doenças, a epilepsia e a esquizofrenia, eram biologicamente incompatíveis de modo a excluir-se mutuamente? Então a característica principal e invariável da epilepsia, as convulsões, deveria enxotar os sintomas essenciais da esquizofrenia. Faltava apenas encontrar uma droga que produzisse, à vontade, as convulsões da epilepsia, para opô-las à esquizofrenia e experimentar".

E, após muitas experimentações, Meduna encontrou o Metrazol, uma droga química, que sobretudo, quando aplicada por injeção intravenosa, produzia as convulsões desejadas, à vontade, imediatamente, na hora desejada. A seguir começou a experimentá-la, em cobaias primeiro, claro está, e depois nas próprias pessoas dos esquizofrênicos. E, como no caso do choque insulínico, o tratamento pelo choque convulsivo do metrazol produzia resultados extraordinários. Era um método prático, rápido e, de certo modo, barato. Fácil de aplicar, estava ao alcance de qualquer médico e mesmo dos hospitais do governo, sempre escassos de verbas.

Havia, entretanto, as contra-indicações, em comparação com a insulina, as desvantagens. As convulsões provocadas pelo metrazol pareciam incontroláveis, pelo menos de momento. Houve muitos casos de fraturas de ossos, inclusive da espinha, quando os doentes caíam convulsionados. A insulina é um produto do organismo, uma secreção do pâncreas. Mesmo se em excesso pode ser controlada por uma contrainjeção de glicose. Entretanto, o metrazol é uma droga química sintética, estranha ao organismo e não produzida em nenhuma parte do corpo. A diferença da insulina não pode ser controlada. Não produz coma e convulsões, mas só convulsões e convulsões, convulsões violentíssimas, que não podem ser neutralizadas pela glicose, nem por nenhum outro agente conhecido. Tem que seguir o seu curso.

3) O "curare" ajuda o Metrazol. Em 1939 um explorador americano tinha trazido da selva amazônica uma carga do famoso veneno dos índios, o terrível CURARE. Ora, se a natureza do metrazol é a de provocar violentas convulsões, capazes de quebrar os ossos, a natureza do curare é a de matar "paralisando". Por que não combiná-los? Foi o que fez o psiquiatra Dr. Bennett. E os resultados foram verdadeiramente admiráveis. O curare agia como pára-choque, amaciando as convulsões provocadas pelo metrazol, que surgiam tão gastas e inertes como simples contorções provocadas pela tosse ou pelo riso. E nada de ossos quebrados, com o uso do curare nenhum osso jamais se quebrou.

Mas não é fácil achar à mão as doses necessárias do curare. E então? Então os químicos descobriram o cloridrato de eritroidina-beta com os mesmos efeitos calmantes e controladores do curare. E mais tarde descobriram o bromidrato de escopalamina, mais flexível e mais fácil de achar que o cloridrato. E sempre, no caso desses três auxiliares, os efeitos benéficos das convulsões não se perderam.

4) O choque elétrico convulsivo. Agora é o caso da eletricidade, que por absurdo que pareça já era usada desde longa data, como no caso de um dos imperadores romanos, que era tratado por meio de enguias elétricas.

Também há aquele caso (e outros semelhantes) de um louco que fugira de um hospício da Alemanha e, ao ser perseguido, subiu num poste da rede elétrica, tocou num fio, levou um choque, caiu e, uma vez acordado daquele choque, verificou-se ter recuperado a razão, pelo menos durante seis semanas.

Em 1937, numa clínica de Roma, o Dr. Cerletti conversava um dia com seus assistentes. "As convulsões, produzidas pelo metrazol, são muito úteis para o tratamento da esquizofrenia. Mas são perigosas e muito temidas pelos doentes. Saibam que um choque elétrico de carga adequada produziria as mesmas convulsões, com menos riscos e com a vantagem de ser controlada. Bastaria ter uma máquina adequada para produzir, à vontade, a carga elétrica necessária para provocar esse choque nos pacientes, tantas vezes como o desejarmos".

Essa máquina foi inventada, logo depois, por um tal Bini, do tamanho de uma valise e tão aperfeiçoada que bastava ligar a corrente durante um décimo de segundo, e obtinha-se exatamente a espécie de convulsões que se desejava. Estas convulsões apresentavam uma vantagem enorme sobre as produzidas pela insulina ou pelo metrazol. Os doentes não as temiam. Por quê? Simplesmente porque o tratamento produzia uma amnésia, que lhes fazia esquecer totalmente tudo o que se passava durante ele.

Contudo, mais do que na aplicação das convulsões, a cura da esquizofrenia, tanto as produzidas pelo metrazol como as provenientes do choque elétrico convulsivo, tem se revelado com uma eficiência muito mais extraordinária, quando aplicados estes tratamentos às psicoses afetivas. Muitos médicos não receiam atribuir percentagens de 80 e 90% de curas quando se trata de psicoses maníaco-depressivas: "90% de depressões severas e resistentes desaparecem dentro de três ou quatro semanas, depois de seis ou oito choques convulsivos, sejam pelo metrazol ou pelo choque elétrico".