1) A anoxia como tratamento. Mesmo que em fase de pesquisa, existe ainda uma série de tratamentos que parecem oferecer, também, boas probabilidades de muito ajudar na cura das doenças mentais. Um deles é o método da anoxia ou falta de oxigênio.

Com efeito, num hospício da áustria, um louco deu um nó corrediço com um lençol e suspendeu-se no ar. Socorrido imediatamente ao desprenderem-no do laço verificaram que tinha recuperado a razão. Seu espírito estava completamente lúcido. Choque convulsivo? Choque emocional? Ou simplesmente a falta de oxigênio pela asfixia?

O que acontece com o coma insulínico? Cessa a respiração? Falta de oxigênio. E com o choque convulsivo? Falta de respiração e falta de oxigênio. Por que não experimentar esse tratamento da anoxia, provocando a asfixia artificial nos doentes?

Sim, já se fez e já se está fazendo em alguns hospitais dos Estados Unidos e de outras partes. Com uma máquina apropriada cheia de tubos ministra-se ao paciente uma dose de ar, progressivamente, cada vez menos oxigenado, até deixá-lo quase com nitrogênio puro. Após a dose prevista de ar sem oxigênio, o indivíduo é levado a respiração normal. Método fácil e não muito diferente que uma simples inalação de gás para a extração de um dente. Quanto à sua eficácia como terapia, mesmo que ainda em fase experimental, os resultados parecem ser altamente favoráveis. O veredito médico deverá ser esperado ainda.

2) Da redução da temperatura ao congelamento. Vimos como, sem uma pesquisa prolongada e sistemática, a elevação da temperatura pela febre malária calcinava a sífilis. Em realidade não ficamos sabendo se, na luta pela vida, foram os micróbios produtores da malária os que terminam matando os micróbios espiroquetas da sífilis e conseqüentemente acabavam com a paresia, ou se foi simplesmente o calor produzido pela febre, elevando enormemente a temperatura, que acabou asfixiando, queimando e calcinando os insidiosos agentes da doença. Seria uma pesquisa muito interessante de se fazer visando estabelecer até que ponto somente o calor poderia acabar, não só com essa, mas também com outras doenças mentais.

Mas, e o caso contrário? Qual é o resultado da baixa temperatura em relação a cura das doenças mentais?

Como no caso da insulina, também neste caso as pesquisas começaram de um modo indireto. Médicos interessados na cura do câncer começaram a tratá-lo pelo congelamento local e verificaram real melhora das células cancerosas, com alívio conseqüente da dor. Daí passaram a experimentar o congelamento de todo o corpo para atacar cânceres invisíveis. Verificou-se, então, que a temperatura podia ser forçada a descer cinco graus, dez graus, etc., abaixo da normal, e os pacientes, longe de sentir-se mal, apenas caíam num sono profundo e confortável. Depois, quando a temperatura era levantada novamente até o normal, eles despertavam sorrindo daquele sono gelado, e não só não se queixavam de nada, mas ainda afirmavam sentir-se muito melhor em seu estado geral. Isso sim, não conservavam lembrança nenhuma de tudo o ocorrido durante o sono, mesmo que este tivesse durado cinco dias.

Um sono em tudo parecido com a morte. Não havia pulso: todas as atividades do organismo ficavam suspensas: as dos rins, dos intestinos, etc. Tudo paralisado no momento que se iniciava o sono e tudo recomeçado na hora em que se acordava. Descobriu-se que também o homem, igual que outros animais, pode hibernar. Aquilo era uma verdadeira hibernação. E pesquisando, chegou-se a descer a temperatura a 32°, 30°, 28° e 24°. Isso para o organismo humano era um verdadeiro congelamento. E os resultados?

No que diz respeito ao nosso caso, de dez esquizofrênicos comprovados por certificado de pelo menos cinco psiquiatras, todos eles doentes de um até vinte anos, quando submetidos a essa classe de hibernação, com baixas temperaturas de até 24°, numa única vez, quatro doentes mostraram melhoras acentuadas; três apresentaram leves melhoras temporárias e três não mostraram nenhuma melhora. Como se tratava de pura pesquisa e só com dez casos, isto se tomou, apenas, como "muito encorajador". A opinião era de que "se repetidos os experimentos, chegar-se-ia a muito melhores resultados". Esperemos.

3) Uma ponte para a química. A epilepsia é outra das doenças mentais para as quais a medicina pretende ter encontrado uma causa fisiológica, provocadora de uma "loucura temporária", que se traduz pelo conhecido ataque "epilético-convulsivo". Pode ser um tumor cerebral, uma lesão, ou uma pronunciada ou simples "disritmia". Os psiquiatras subdividiram os comportamentos da epilepsia em três graus: o grande mal, caracterizado por crises convulsivas com estado de inconsciência total, em cujo caso supõe-se lesão cerebral permanente, que ocasionalmente provoca a crise. Essa ocasião é determinada pelo que chamam de episódio desencadeante, que pode ser muito diverso; desde um gole de álcool a uma leve prisão de ventre, ou um pequeno susto, um estado emocional, etc. O petit mal é o segundo grau da epilepsia ou grau intermediário, caracterizado por crises menores e um estado de inconsciência parcial. O terceiro está caracterizado por um comportamento a que os psiquiatras chamam de equivalente psíquico da epilepsia. Seus sintomas, neste caso, podem confundir-se com os de uma psicose ou neurose inteiramente psíquica. Pode ser uma perturbação cerebral tão leve que ninguém a nota; pode manifestar-se em apenas um lapso de tempo, uma inconsciência momentânea, um retardamento do andar, uma rápida distração. Ou pode ser extremamente intensa, manifestando-se em forma de um ritual esmerado e automático, ou de um persistente impulso para cometer um crime.

São esses sintomas da epilepsia, chamados de equivalentes psíquicos, os que levam uma mulher a sair despida à rua ou um homem a matar seu filhinho sem nenhuma causa. Mesmo nestes últimos graus, quando a lesão ou tumor cerebral não são patentes, o encefalograma acusa uma clara disritmia nas ondas elétricas cerebrais, que é muito mais intensa, quando mais perto do ataque ou crise.

Dizem os médicos que em nosso cérebro existem certos focos de células, dos quais umas são motoras e outras são intelectivas ou psíquicas. Ora, quando a lesão ou tumor tem a ver com as células motoras, então há convulsões, crises, ataques, inconsciência total; e quando atinge as células intelectivas, então a inconsciência é parcial, e os sintomas se caracterizam como psíquicos. No primeiro caso, a lesão desencadeia uma atividade físico-motora violenta incontrolável em forma de ataque, de convulsões, agressividade e inconsciência total. No segundo caso, desencadeia uma atividade mental anormal, um equivalente às neuroses e psicoses psíquicas.

Muita gente (e muitos médicos também) tem a idéia de que todos ou a maior parte dos epiléticos são mentalmente anormais e pertencem a este tipo, e isto não é exato. Se não confundirmos a epilepsia psíquica com outras doenças mentais, talvez não chegue a 10% o número dos epiléticos mentalmente anormais, não passando a maioria de epiléticos convulsivos, dentre os quais salientando-se alguns deles que têm chegado à classificação de geniais, como Alexander Magno, Júlio Cesar, Maomé, Petrarca, Dostoiewski, Napoleão, etc. Estes e outros muitos eram epiléticos, e longe de anormais, podem considerar-se supranormais.

4) A Dilantina, outra droga milagrosa. Sabendo que a disritmia é uma das características marcantes da epilepsia e que esta é um distúrbio da atividade eletroquímica do cérebro, os neurologistas acudiram de novo aos químicos em busca de uma droga que a regulasse. E também agora os químicos acharam uma feita sob medida para isso: a dilantina e, em alguns casos, um composto de bióxido de carbono. Durante dois anos de experiências foram analisados 350 casos. Analisemos o resultado.

Quando usada nos doentes do petit mal, a dilantina os libertou completamente dos ataques em 37% dos casos e os reduziu sensivelmente em mais de 20%; quando usada nos doentes do grande mal, a droga libertou totalmente dos ataques a 60% e os diminuiu em 14% e quando aplicada aos de equivalentes psíquicos, os libertou completamente em 62% e os reduziu em 23%. Parece, pois, que mais uma doença que pode ir, desde um distúrbio físico até a mesma demência, começou a ceder à medicação por meio da droga química. Assim sendo, é bem possível que esta nova droga consiga levar um alívio significativo a milhares de crianças incorrigíveis, adultos desequilibrados, suicidas potenciais, gente superexcitada a quem uma única palavra pode mudar-lhe o ritmo da onda cerebral; todos eles colocados nessa franja epilética fronteiriça com a demência.

5) Uma descoberta brasileira também pode servir. Um psicólogo clínico, o Dr. Vitor Mattos, lidando com correntes de alta freqüência, aplicou-as primeiramente na produção de ritmos semelhantes aos testados nos estados hipnoidais do "transe mediúnico" em que entram os "médiuns" espíritas, umbandistas e do candomblé, e experimentou-as logo nos casos de portadores de doenças mentais derivativas dos estados epiléticos. E verificou que, com uma corrente adequada e em sintonia com a freqüência de cada doente, os ritmos perturbados e desequilibrados dos epiléticos podiam ser ordenados e equilibrados, sustando-se os sintomas característicos da epilepsia. No relatório em que publicou essas experiências, mostra com inúmeros detalhes as altas percentagens obtidas nos tratamentos que praticou com esse método.

6) O caso dos alucinógenos. Trinta minutos depois de ter ingerido, via oral ou via intravenosa, uma dose de mescalina ou de ácido lisérgico, começam a manifestar-se sintomas semelhantes aos de um esquizofrênico: alucinações, delírios, despersonalização, desorientação, perturbações mentais, da atividade motora, do humor, etc., expressões fisionômicas idiotas e estereotipadas e posições de doidos autênticos, sorrisos estúpidos, gargalhadas, olhares enviesados, atitudes de êxtase religioso, declamações e atitudes violentas, atrevidas, belicosas ... Pode-se imaginar um grande personagem do presente ou do passado, e portar-se como tal, ou julgar-se um objeto inanimado, ou mesmo algum ente abstrato. Durante doze horas, fica-se inteiramente maluco. E se isto é assim, se uma droga química pode produzir, temporariamente todos os sintomas da loucura, não será o caso de a verdadeira loucura humana ser produzida por algum agente químico de nosso próprio organismo? Nesse caso, deveria ser a química o método apropriado para curá-la? O dióxido de carbono, produzido no corpo também é alucinógeno? Ou a adrenalina, que se produz excessivamente nos momentos emocionais?

Já vimos como o Dr. Sakel iniciou suas pesquisas e o tratamento pela insulina justamente desde essa base. Esquizofrenia, excitação, superatividade, adrenalina. Logo para reduzi-la, a insulina.

Ora, é sabido que a adrenalina, quando não gasta adequadamente pela fuga ou pelo ataque, ela se decompõe em vários subprodutos para ser reassumida pelo organismo. Um desses subprodutos e o adrenocromo. E coisa esquisita: a fórmula química desse adrenocromo é totalmente semelhante a da mescalina. Por que não seria ele? Para sabê-lo, o Dr. Osmond e seus colaboradores canadenses conseguiram isolar o adrenocromo e passaram a injetá-lo em si mesmos e em suas próprias esposas, verificando o extraordinário resultado de obter os mesmos efeitos alucinógenos que produz a mescalina. Para eles não ficou a menor dúvida. A emoção produz a adrenalina em excesso e, descomposta esta, o adrenocromo produz os estados de loucura.

Posteriormente, o Dr. Wooley e auxiliares do Instituto Rockfeller, comprovaram que os subprodutos tóxicos derivados da adrenalina, como o adrenocromo, a adrenoxina, etc., seriam contrabalanceados e neutralizados por outras substâncias químicas, que ajudam a manter o metabolismo químico do organismo, como a serotonina, etc. Portanto, a ação perturbadora da mente estaria ligada tanto ao excesso de adrenocromo como à deficiência de serotonina no sangue do paciente. Tratar-se-ia, talvez, de um defeito na aparelhagem química, que habilita o corpo a manter seu próprio metabolismo.

Partindo desse princípio, como é lógico, a psicofarmacologia se pôs em ação, e nas últimas décadas uma verdadeira soma de psicotrópicos foi posta à disposição dos psiquiatras, proclamando para todos eles resultados maravilhosos. De um famoso tranqüilizante, a reserpina (hoje um produto químico sintético, mais originariamente extraído da Rauwolfia serpentina) diz o Dr. Kline de New York: "Numa série de 150 psicóticos crônicos que não melhoraram quando submetidos ao choque elétrico ou ao coma insulínico, 84% mostraram melhoras acentuadas com a reserpina, e 21% desses pacientes continuaram melhorando mesmo após interrompido o tratamento. E coisa parecida se tem afirmado da clorpromazina e outros semelhantes, etc., operando uns como tranqüilizantes e outros como excitantes.

7) As vitaminas e os hormônios: novo campo da psicoquímica. Em estatísticas de alguns anos atrás, se calculava nos Estados Unidos, que um milhão de americanos padecia de pelagra, dos quais um número elevado se transformava em psicóticos. Ora, a causa da pelagra, os médicos sabiam, era a deficiência da vitamina B1 ou ácido nicotínico. Então começaram a dar ácido nicotínico aos doentes de pelagra, ou grandes doses de espinafre, e os que eram portadores de acentuados sintomas de psicoses, literalmente eram devolvidos à lucidez. A seguir abriu-se um novo caminho para a psiquiatria: o da vitaminoterapia.

Mas o trabalho mais espetacular desenvolvido no campo da química orgânica, nos últimos tempos, tem sido o da endocrinologia. Verificaram especialistas deste setor que alterações do funcionamento glandular endócrino coincidiam com acentuados sintomas neuróticos e esquizofrênicos, bem como com outros muitos sintomas de perturbações mentais e emocionais. Principalmente, a deficiência ou superprodução da glândula tiróide e das glândulas supra-renais foram consideradas como as maiores responsáveis destes distúrbios. E também verificaram que medicamentos químicos ou extratos hormonais relacionados com estas glândulas podiam corrigir eficientemente muitos desses distúrbios. é o caso da tirosina e do estrogênio, por exemplo, ministrados nos respectivos casos.

8) A psicocirurgia ou lobotomia. O Dr. Moniz encontrou uma boa saída para a cura radical de um grande número de neuroses e psicoses, que não sendo originadas por alguma causa orgânica conhecida, ou não querendo reagir aos processos drásticos do coma ou choques convulsivos, achavam-se sem nenhum outro recurso adequado. Partiu ele, em primeiro lugar, da premissa de que durante a I Guerra Mundial, grande número de pacientes tinha removido um lobo frontal inteirinho, e inclusive o lobo dominante, em alguns casos; não obstante, o paciente acordava tão lúcido, tão inteligente, tão bem controlado, como antes da operação. E casos, não raros, até os dois lobos frontais foram removidos, sem alteração essencial na sua personalidade. Os pacientes não se transformavam em idiotas como seria de esperar; regressão em inteligência e conduta ao estado infantil. Diminuição do uso da razão e do juízo, baseados na capacidade de coordenação e sintetização das faculdades e operações mentais, eis o que ficava faltando e não a inteligência.

Mas, em geral, seu estado comportamental e emocional melhorava sensivelmente. Onde foram impulsivos agora ficavam calculados, onde se mostravam ansiosos agora ficavam indiferentes. Todos os relatórios que lera de tais operações apresentavam resultados semelhantes: falta de atenção e enfraquecimento da memória recente, por um lado; mas de outro lado, sempre havia um aplainamento geral das emoções, notável falta de ansiedade e uma impressão acentuada de bem-estar geral.

Refletindo sobre isto, o Dr. Moniz pensou o seguinte : "Quando não há anormalidades perceptíveis no cérebro, que perturbam diretamente a própria mente, como nos casos de epilepsia orgânica e em algumas psicoses funcionais, os sintomas devem ser originados na falta de controle dela sobre as informações que lhe chegam do cérebro emocional. Parece que é nos lobos frontais onde se realiza a associação e a síntese das informações recebidas de todo o cérebro. E é essa síntese final a que se faz eco dos impactos emocionais, que tem o poder de perturbar o funcionamento da mente. Se cortássemos as conexões entre o cérebro emocional e o cérebro intelectual, talvez a mente ficasse impossibilitada de sintetizar as informações vindas do cérebro emocional; em troca ver-se-á livre da ação nociva dessas emoções. Conseqüentemente o estado comportamental do indivíduo ficará melhorado, mesmo que o setor intelectual fique diminuído. Desligando os lobos frontais do resto do cérebro talvez lhes prejudicasse a memória e forçá-los-ia a viver quase só no presente; mas ao mesmo tempo poderia ajudar muitíssimo aos psicóticos que vivem constantemente assombrados por medos, perseguidos por insistentes sentimentos de culpa, torturados por lembranças inadmissíveis e abalados por apreensões e por angústias intoleráveis..."

De acordo com isso, com uma intrepidez que poucos cirurgiões ousariam imitar, ele operou, e seu processo conhecido como lobotomia foi introduzido no mundo médico, dando início à prática da psicocirurgia ou cirurgia das emoções. De fato, o Dr. Moniz fez essa operação em vinte psicóticos crônicos. Nenhum morreu e nenhum ficou pior. Os resultados mais precários foram apresentados nos psicóticos mais do tipo intelectual: os esquizofrênicos. Mas, de seis pacientes maníaco-depressivos, logicamente emotivos, cinco ficaram totalmente livres dos sintomas.

Destes casos parece deduzir-se claramente que, uma vez cortadas as conexões entre os lobos frontais e o resto do cérebro, as informações recebidas por ele, não podendo chegar a eles, as operações mentais de síntese e julgamento serão suspensas e as emoções e outras causas físicas ou psíquicas não poderão perturbá-las, e, conseqüentemente, desses centros não partirão as ordens dos correspondentes comportamentos, nem serão desencadeadas novas emoções, etc. O resultado poderá ser o silêncio intelectual, no que respeita aquelas zonas, coisa que a muitos poderá parecer não muito recomendável, antiético e anti-humano; mas, em conseqüência, também resultará daí a interrupção do comportamento anormal, proveniente das ordens que dali partissem.