Subamos para um navio.
Soltemos velas nos ares.
Vamos conhecer os deuses
Que reinam sobre esses mares.
Neptuno teve em partilha
O grande império das águas.
Não gostou, fez zangar Júpiter
Que lhe causou muitas máguas.
Tirou-lhe o scetro, exilou-o
E pô-lo em tal vexação
Que, disfarçado em pedreiro,
Intentou ganhar o pão.
Procurou o rei de Troia,
Foi-lhe trabalho pedir
Nas muralhas que êle andava
Na cidade a construir.
O rei, supondo-o pedreiro,
Seus serviços aceitou.
Mas, ao findar o trabalho,
Não quiz dar-lhe o que ajustou.
Então Neptuno, indignado,
Fez com que um monstro marinho
Deitasse abaixo as muralhas
Que elevara com carinho.
Por conselho dum oráculo
Mandou a filha entregar
Ás fúrias do monstro horrendo,
No intento de o amansar.
Hércules era um semi-deus
Que a princesa foi salvar.
(Semi-deus era um daqueles
Que na história hão de ficar).
Aplacada a grande cólera,
Que Júpiter tinha tido,
Mandou de novo Neptuno
Voltar ao reino perdido.
E o deus das águas, lembrado
Dos trabalhos que passou,
Governou bem o seu reino
E os outros não invejou.